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Como foram construídas as grandes pirâmides do Egito? Spoiler: não foram aliens

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Março de 2022 às 17h00

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Osama Elsayed/Unsplash
Osama Elsayed/Unsplash

Com uma história que se estende por milhares de anos, o Egito é um campo fértil para diversas áreas da ciência, principalmente história e arqueologia. Ao longo do tempo, relatos se perdem, línguas são esquecidas e fatos se tornam lendas — os hieróglifos, por exemplo, escrita antiga local que junta símbolos fonéticos e ideográficos, foram decifrados apenas em 1822, pelo francês Jean-François Champollion, um mistério de milênios.

Descobrir como era o modo de vida dos antigos egípcios é uma arte que requer o trabalho conjunto de muitos cientistas, como os linguistas que traduzem os hieróglifos, os arqueólogos que descobrem evidências deixadas pelos nossos antepassados e engenheiros que teorizam os métodos de construção dos povos da época. É assim que, nas últimas décadas, têm se descoberto cada vez mais detalhes sobre a construção das Grandes Pirâmides do Egito: com muito estudo, curiosidade e, porque não, um pouco de imaginação.

A necrópole de Gizé

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Quando falamos das pirâmides do Egito, na maioria das vezes estamos nos referindo às construções da necrópole de Gizé, onde estão as três grandes proezas da engenharia antiga. A maior delas, e também a mais antiga, famosa por ser a Grande Pirâmide, foi construída para ser a tumba do faraó Quéops (Quenum Cufu, em egípcio), que reinou a partir do ano 2551 a.C., e hoje tem 138 metros de altura (originalmente, 146). É uma das sete maravilhas do mundo antigo, e a única sobrevivente.

A segunda, apenas um pouco menor, mas construída em terreno mais alto, é a de Quéfren, filho de Quéops, que reinou a parir de 2520 a.C. Ela tem 136 metros de altura (143, originalmente) e, ao seu lado, está o monumento da Esfinge, cujo rosto se acredita ser modelado com base nas feições do faraó. A última das três grandes é a de Miquerinos (Menkauré), filho de Quéfren que começou a reinar em 2490 a.C., e que decidiu fazer uma pirâmide menor: ela tem 61 metros de altura atualmente, 65 à época da construção.

Evolução da técnica

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Apesar do empilhamento de materiais em forma de pirâmide ser o método mais fácil de se construir algo alto, é claro que os egípcios não fizeram seus monumentos da noite para o dia — a técnica para se fazer pirâmides lisas da magnitude das de Gizé foi sendo aperfeiçoada ao longo de muitos séculos, e temos evidências disso. No Egito de 5.000 anos atrás, se construíam mastabas, túmulos em forma de trapézio que eram uma espécie de "avós" das pirâmides, descobertos pelo arqueólogo Sir Flinders Petrie.

O faraó Djoser (ou Neterket), que começou a reinar em 2630 a.C., juntamente com o arquiteto e polímata Imhotep, construiu sua tumba em Sacara (ou Saqqara) de um modo peculiar: ele empilhou uma mastaba em cima da outra, fazendo uma espécie de pirâmide retangular com degraus com seis camadas, cheia de túneis subterrâneos e câmaras. Essas técnicas foram melhoradas no reinado de Seneferu (ou Sóris), faraó desde 2575 a.C., que fez três pirâmides, já com faces lisas, inovação de seus arquitetos.

Com a prática, vem a perfeição: uma das pirâmides de Seneferu mostrou falhas no design, e hoje é conhecida como a "pirâmide curva", já que o ângulo muda a partir do meio da construção. Em Dahshur, uma segunda pirâmide já corrigia essa falha, conhecida como a "pirâmide vermelha", a partir da cor das pedras utilizadas. Foi a primeira pirâmide verdadeira feita pelos egípcios, tendo um ângulo constante. O filho de Seneferu foi ninguém menos do que Quéops, que carregou o legado do pai ao fazer a primeira das três grandes.

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Orçando o projeto

Vindas de grandes figuras da antiguidade como os faraós, as pirâmides foram projetos longos e extremamente caros — estima-se que a maior delas levou 30 anos para ficar pronta, e custaria cerca de R$ 2,7 bilhões, sendo que 2,4 bi seriam só em material, algo provavelmente inviável para os dias de hoje. Como eram considerados descendentes dos deuses e chefes supremos de seu povo, os faraós podiam se dar ao luxo de fazer tumbas dessa escala — e apontavam seus maiores oficiais para inspecionar os projetos.

Normalmente, a construção das pirâmides era chefiada pelo vizir, o cargo mais alto na corte do faraó. Segundo um papiro descoberto em 2010 em Wadi al-Jarf, o porto mais antigo do mundo, no Mar Vermelho, o vizir de Quéops era seu irmão, Ankhaf, no vigésimo sétimo ano de seu reinado. Antes disso, no entanto, especialistas acreditam que o vizir e arquiteto responsável teria sido Hemiunu.

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A construção dos complexos funerários não envolveu apenas o levantamento das pirâmides, mas também de templos, poços para barcas funerárias e cemitérios, além de pequenas cidades que abrigavam trabalhadores e oficiais envolvidos no projeto. Os egípcios tinham, inclusive, técnicas para alinhar as construções de acordo com o norte verdadeiro com grande precisão. A pirâmide de Quéops, por exemplo, aponta para o norte com margem de erro de apenas um décimo de grau — e não sabemos como, apesar de se acreditar que o método tenha a ver com observação de estrelas circumpolares, como Polaris, e fios de linha.

Material e transporte

Os blocos de pedra das construções foram trazidos de diferentes partes do Egito. Para a pirâmide de Quéops, a maior parte do material foi trazido de uma pedreira em forma de ferradura ao sul de Gizé, segundo a Ancient Egypt Research Associates (AERA, Pesquisadores Associados do Egito Antigo). Para a pirâmide de Miquerinos, pedras foram trazidas de uma pedreira a sul-sudeste do local; para Quéfren, no entanto, não se sabe a origem do material utilizado. Todas elas receberam uma cobertura de calcário, que, ao longo dos anos, foi sendo retirada para outros projetos de construção — hoje, resta pouco dela, e é o motivo das tumbas terem ficado "menores" ao longo das eras.

Segundo papiros encontrados em Wadi al-Jarf, o calcário do revestimento foi retirado de uma pedreira em Tura, perto de onde hoje é o Cairo, capital do Egito, e levado através de barcos ao longo de uma série de canais do rio Nilo. Cada viagem levava quatro dias para ser feita, de acordo com a fonte. Uma vez em terra, as pedras eram carregadas pelos trabalhadores utilizando trenós de madeira. A areia à frente dos trenós era umedecida com água — o que reduzia a fricção e facilitava o transporte, já que diminuía a quantidade de pessoas necessárias à tração pela metade. Essa técnica pode ser vista em pinturas egípcias da época.

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A maioria dos egiptólogos concorda que as pedras eram levadas ao topo das pirâmides através de um sistema de rampas, mas há pouco consenso acerca do método: ninguém sabe como as rampas eram feitas, e não há quase nenhuma evidência disponível. Alguns desenhos hipotéticos vêm sendo feitos nas últimas décadas, mas nenhum definitivo foi aceito até agora.

Suprimentos aos trabalhadores

Uma questão importante à construção dos complexos funerários é a mão de obra. Com tantos trabalhadores, arquitetos e oficiais envolvidos, havia de se construir alojamentos e trazer alimentos, além do material necessário. Em 2014, arqueólogos da AERA encontraram um porto numa cidade da época de Miquerinos, próximo de sua pirâmide, repleto de residências para os altos oficiais e um complexo de quartéis para os soldados. Os trabalhadores braçais provavelmente dormiam em alojamentos na lateral das pirâmides.

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Para todas as três tumbas, acredita-se que a mão-de-obra tenham ficado em torno de 10.000 pessoas. Um estudo da AERA de 2013 mostrou que mais de 1.800 quilos de carne de gado, ovelha e cabra eram produzidos todos os dias para a alimentação dos trabalhadores. Os ossos de animais encontrados aos pés das construções são evidências disso, e corroboram as necessidades nutricionais do trabalho duro realizado no local. Essa dieta rica em carne era melhor do que a das vilas onde os egípcios moravam — um dos bons motivos para alguém, à época, querer participar da construção dos monumentos. Eles também eram pagos em produtos têxteis, que funcionava como uma espécie de moeda na época.

O que não sabemos

Apesar de muito ter sido descoberto nas últimas décadas, complementando achados arqueológicos coletados por séculos, há muito a ser descoberto sobre as pirâmides. As três grandes de Gizé têm uma centena de irmãs espalhadas pelo que foi o antigo Egito, cuja construção também tem uma dose de mistério.

Não se sabe, por exemplo, a natureza exata dos trabalhadores que participaram das construções: é sabido que eles não eram escravos, mas estudos vêm sendo feitos para descobrir se eles eram agricultores sazonais — que saíam dos campos quando não havia plantio para cuidar — ou profissionais mais especializados.

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Também não sabemos tudo o que há por dentro das grandes pirâmides de Gizé: algumas áreas são fisicamente inacessíveis nos tempos atuais, relegando seus estudos a técnicas mais avançadas que ainda estão sendo desenvolvidas. Uma delas constitui o projeto Scan Pyramids Mission, que tenta descobrir o que está dentro de dois vãos na pirâmide de Quéops — um grande, acima da câmara do faraó, e outro, menor, na face norte — através de grandes scanners de raios cósmicos. São necessários, no entanto, financiamento e vários anos de estudos.

E os alienígenas?

Nas próximas décadas, provavelmente descobriremos muito mais sobre essas grandes maravilhas do mundo antigo — e ficará claro de uma vez por todas, talvez, que não foram os alienígenas que as construíram, mas sim nós mesmos, humanos.

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Fonte: Live Science, Physical Review Letters, Academia