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DNA de Ötzi, o Homem do Gelo, revela sua verdadeira aparência

Por  • Editado por  Luciana Zaramela  |  • 

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Simon Claessen/CC-BY-S.A-2.0
Simon Claessen/CC-BY-S.A-2.0

A múmia incrivelmente preservada conhecida como Ötzi, o Homem do Gelo, compete com Tutancâmon em termos de restos mortais mais estudados do mundo, e teve sua real aparência agora revelada. Encontrado nos Alpes tiroleses por montanhistas em 1991, o cadáver suscitou pesquisas e muitas descobertas desde então. Hoje, sabemos que ele teve uma morte violenta, e até o que havia comido antes de morrer — mas seus segredos aparentemente estão longe do fim.

Uma amostra de DNA retirada da pelve da múmia mostrou suas características genéticas e corporais, revelando que o homem de 5.300 anos atrás tinha pele e olhos escuros e uma provável calvície. É um contraste grande com o das recriações por artistas, que geralmente o mostram como sendo um homem de pele clara e cabelo e barba longos.

No passado, acreditava-se que o cadáver estava enegrecido por conta do processo de mumificação, mas esse não parece ser o caso. A pele escura atual fica bem próxima de como era sua pele real, o que não é surpreendente para os especialistas — europeus da época tinham mais pigmentação do que os atuais.

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Os primeiros fazendeiros do continente tinham uma pele bem morena, que foi ficando mais clara como adaptação ao clima e alimentação — agricultores consomem muito menos vitamina D do que os caçadores-coletores. Ötzi ainda consumia bastante carne, já que seu estômago revelou a presença de restos de veado e íbex. Sua múmia fica no Museu de Arqueologia do Sul do Tirol, em Bolzano, na Itália.

O genoma detalhado de Ötzi

Segundo os pesquisadores, é interessante observar como as reconstruções do Homem do Gelo estão enviesadas por nossas próprias noções e pré-conceitos de como seria um humano da Idade da Pedra na Europa. O DNA do antigo caçador mostra que ele teria alopecia androgenética, mas não há como saber o quanto de cabelo foi perdido ao longo da vida.

É possível que a calvície quase completa que seus restos mortais mostram tenha surgido apenas após a morte, já que o congelamento, descongelamento e estadia na água teriam arrancado o cabelo à medida que a epiderme se decompôs.

Cientistas já haviam retirado o genoma de Ötzi anteriormente, em 2012, mas o campo dos estudos de DNA ainda engatinhava na época. Os resultados antigos teriam sofrido contaminação por DNA de humanos modernos, gerando os erros nas conclusões sobre suas características, de acordo com a nova pesquisa.

Além da aparência, o mapeamento genômico mais completo mostrou que o Homem do Gelo não tem relações genéticas com os moradores da ilha italiana da Sardenha, como se pensava antes. Comparações com outros humanos antigos mostraram uma afinidade maior com os agricultores da Anatólia, na atual Turquia. Eles não interagiram muito com seus contemporâneos caçadores-coletores europeus.

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Quase todo o cadáver de Ötzi passou por estudos, bem como seus bens, que mostram detalhes da vida há 5.300 anos. Sabemos o que ele comeu por último e de onde veio, que ele era destro — segundo análises de suas armas — e como se vestia. Mais detalhes ainda são esperados para o futuro, com planos de estudar o microbioma do corpo do antigo humano.

Ele foi tão estudado que essa reviravolta não foi a única a acontecer em sua história — anteriormente, pensava-se que ele havia congelado até a morte, mas uma análise de raios-x de 2001 mostrou uma ponta de flecha alojada no ombro, um tiro fatal. Ele também apresenta um ferimento na cabeça, talvez feito no mesmo dia, e sua mão direita mostra um machucado de defesa. Ainda não sabemos a causa de sua morte e nem o motivo de estar no alto dos Alpes quando faleceu.

Fonte: Science, Cell Genomics, Max Planck Institute