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Cérebro dos cães sincroniza com o nosso quando os encaramos

Por  • Editado por Luciana Zaramela |  • 

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Paola Roxanna Nemek/Pexels
Paola Roxanna Nemek/Pexels

Há 30 mil anos, a relação entre homens e cães evolui de forma contínua, o que gerou formas de conexão inéditas entre as duas espécies. Tanto é que o cérebro canino pode entrar em sincronia com o humano, quando os encaramos e fazemos carinho. É o que revela uma nova pesquisa da Academia Chinesa de Ciências e que, curiosamente, pode ajudar pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Se você já olhou para o fundo dos olhos de seu cão, enquanto o acariciava, e sentiu uma conexão profunda, esta não é apenas uma impressão. É um genuíno momento de sincronização cerebral, como propõe a equipe. 

O nível de sincronização entre os cérebros é mais forte quando o cachorro e o humano são “amigos” (tem uma afinidade temporal). Nesse processo, as regiões frontal e parietal são as mais afetadas pela conexão criada através do contato visual e do toque, segundo estudo publicado na revista Advanced Science.

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Até então, sabia-se que, quando humanos estão interagindo, a atividade cerebral em regiões-chave pode funcionar de modo sincronizado entre os membros do grupo. Entretanto, esse nível neurológico de conexão não tinha sido observado em relação a outras espécies. 

Conexão verdadeira entre cães e humanos

"Os cães evoluíram para ler, entender e responder a uma ampla gama de estados emocionais humanos e sinais comunicativos através de comportamentos, expressões faciais e até tons vocais", explica a equipe de pesquisadores chineses, no artigo.

Toda essa cumplicidade oferece “um nível extraordinário de companheirismo ativo que não é frequentemente visto em outros animais domesticados ou de companhia”, acrescenta. Agora, sabe-se que o elo pode ser ainda mais profundo, quando há sincronização da atividade neural em algumas áreas do cérebro.

Estudo sobre sincronização cerebral

No estudo, os pesquisadores utilizaram o eletroencefalograma (EEG) para medir simultaneamente a atividade cerebral em cães (beagles) e humanos. Originalmente, os cachorros foram pareados com desconhecidos, mas as duplas tiveram cinco dias para se conhecer e desenvolver alguma cumplicidade.

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Diferentes testes foram feitos ao longo do experimento, como medir os efeitos no cérebro do carinho e do olhar entre as duplas. Também foi avaliado o impacto, quando não contato e interação entre as espécies. 

"Ao analisar os sinais de eletroencefalografia de cães e humanos, descobriu-se que o olhar mútuo e o carinho induzem a sincronização intercerebral nas regiões frontal e parietal dos pares humano-cão, respectivamente”, afirmam os autores. 

“A força da sincronização aumenta com a crescente familiaridade do par humano-cão ao longo de cinco dias, e a análise do fluxo de informações sugere que o humano é o líder, enquanto o cão é o seguidor durante as interações humano-cão”, detalham sobre as descobertas.

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Novas pesquisas sobre autismo

De forma paralela, os achados sobre a sincronização cerebral entre humanos e cachorros podem ajudar pesquisas emergentes no campo do autismo. Isso porque os cães com uma mutação genética associada ao espectro (Shank3) não desenvolviam a conexão da forma esperada. Entretanto, uma única dose de dietilamida do ácido lisérgico (LSD, em inglês) para o cão pode ampliar a conexão.

“Nossas descobertas têm implicações para a compreensão dos mecanismos neurais subjacentes à interação social efetiva entre cães e humanos e sugerem um potencial [uso] do LSD na melhora dos déficits sociais no TEA”, concluem os autores.

Fonte: Advanced Science