Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

O carro popular está morto no Brasil

Por| Editado por Jones Oliveira | 09 de Janeiro de 2022 às 09h00

Link copiado!

Divulgação/Volkswagen
Divulgação/Volkswagen

Você já deve ter utilizado a seguinte frase em uma conversa com amigos ou sua família: carro está caro demais no Brasil. E sim, é uma verdade absoluta e irrevogável. Há pelo menos uma década a indústria automotiva local sofre com aumentos expressivos nos valores praticados pelas montadoras e a renda do cidadão médio não cresce na mesma proporção. Em contrapartida, há bons números de vendas e oscilações normais, como na época do auge da pandemia de covid-19.

O brasileiro ama carro, ainda considera esse produto como uma conquista, um objeto que pode elevá-lo em um patamar social e que o ajuda a ter uma vida mais confortável. Em linhas gerais, sempre foi possível realizar o sonho do carrinho 0km com muito esforço e a escolha certeira por modelos considerados populares. Veículos muito básicos e econômicos, que te levam do ponto A ao ponto B com relativo conforto e segurança.

Pois bem. Ao analisarmos friamente o mercado e as opções à disposição, é seguro dizer que o conceito de carro popular está morto no Brasil, e os motivos não estão restritos somente à instabilidade econômica brasileira.

Continua após a publicidade

Evoluir custa caro

Por mais que os impostos que incidem sobre um carro padrão no Brasil sejam quase metade do valor do produto, a evolução natural da indústria e os desafios que ela precisa encarar para trazer mais conforto e segurança para os usuários vão, claro, tornar tudo muito mais caro.

Um exemplo claro está nas novas normas que o governo brasileiro vem costurando há tempos para os veículos novos. Em 2024, todos os automóveis produzidos no Brasil devem ter, de série, os controles de estabilidade e tração, itens que impedem capotamentos e rodagens nas estrada e nas ruas.

Continua após a publicidade

Além disso, outros apetrechos tecnológicos e de segurança que antes eram vistos somente em veículos caros e de maior posicionamento já são obrigatórios por lei, como os freios ABS, airbags duplos frontais, luzes diurnas de LED. Tudo isso traz custos para as montadoras, que, por vezes, precisam importar determinadas peças e tudo fica ainda mais caro para o consumidor.

Em contrapartida, o consumidor brasileiro também está cada vez mais exigente. Prova disso é que os SUVs já dominam as vendas no setor automotivo, com 42,7% de participação ao final do mês de novembro, segundo a Fenabrave (Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores).

Esses veículos já são bem equipados de fábrica e trazem muito conforto, versatilidade e segurança. Portanto, o consumidor, que sabe que vai gastar muito em um automóvel, identificou que compensa muito mais aplicar esse dinheiro em um produto de maior valor agregado.

Continua após a publicidade

Proconve L7 também entra em cena

Ainda dentro das exigências governamentais, a fase L7 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) fez com que diversos carros fossem aposentados no Brasil, casos mais recentes de Volkswagen Fox, Fiat Uno e Chevrolet Joy, para citar alguns.

Com a chegada da L7, veículos com determinados graus de ruídos e poluentes nos motores precisaram e precisarão passar por atualizações importantes, algo que fez com que as montadoras repensassem suas linhas de produtos quase que por completo. No caso da Fiat, foram seis modelos excluídos de uma só vez: Uno, Grand Siena, Doblò, Mobi Easy, Argo 1.8 e Cronos 1.8.

Continua após a publicidade

Somando-se à obrigatoriedade dos controles de estabilidade e tração, em breve teremos a "morte" do carro mais vendido da história do Brasil, o Volkswagen Gol, que já teve esse destino selado na Argentina pelos mesmos motivos. Se esse modelo, antes visto como "carro popular", já alcança preços estratosféricos mesmo sem conter opcionais, imaginem com esses acréscimos.

Hoje, para adquirir um VW Gol básico, você não vai gastar menos do que R$ 69.790, enquanto o carro mais barato do Brasil, o Renault Kwid, não sai por menos de R$ 48.790. Para efeito de comparação, quando lançado em 2017, o Fiat Argo, modelo bem mais moderno do que os dois citados, custava a partir de R$ 46.800 em sua versão de entrada e R$ 71 mil na mais completa, na época a HGT.

Com valores como esses, o consumidor passa a olhar com mais carinho para o mercado de seminovos, optando por comprar veículos mais antigos, porém de categoria superior. É perfeitamente possível, por exemplo, adquirir um BMW Série 3 ou Mercedes Classe C de ano 2010 ou 2011 por cifras em torno dos R$ 60 mil. Para quem ama automóveis, é um prato cheio, mesmo com a manutenção sendo mais cara.

Continua após a publicidade

Quando os preços vão abaixar?

Aqui o exercício de futurologia é necessário, mas plausível. Além de tudo o que citamos acima ser preponderante para definir o preço de um carro, há situações momentâneas que devem ser levadas em conta, como a crise dos semicondutores, que prejudicou diretamente a produção de carros no país e no mundo durante a pandemia de covid-19.

Montadoras como General Motors, Hyundai e Volkswagen chegaram a interromper a produção total de seus carros por meses em 2021. Além de prejudicar as vendas, foi natural que os preços precisassem ser aumentados por conta da baixa demanda. As filas de espera para alguns dos modelos era de seis meses.

Continua após a publicidade

Com a normalização desse cenário, é possível que as montadoras passem a ter reduções gradativas nos preços e o aumento real da produção e das vendas pelos próximos dois anos. Além disso, com a estabilização econômica, também prevista para o próximo biênio (mesmo com as eleições), o valor do dólar também deve recuar, o que pode baratear peças e veículos como um todo.

É seguro dizer: o carro popular morreu

Diante de todo o cenário do mercado automotivo, é possível dizer que o carro popular como estávamos acostumados morreu. Com a natural evolução dos produtos e os preços praticados no Brasil, a nomenclatura utilizada para separarmos as categorias deverá ser revista muito em breve.

Com os SUVs dominando o mercado nacional, o consumidor brasileiro parece ter entendido muito bem as mudanças no mercado e está cada vez mais exigente: não vai gastar seu rico dinheirinho em carros sem equipamentos e conforto.

Continua após a publicidade

Resta torcer para que a situação econômica melhore e os preços voltem a um patamar mais acessível, com menos impostos e mais competitividade.