História do Volkswagen Gol | Por que ele fez tanto sucesso no Brasil?
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |
Lançado pela Volkswagen em maio de 1980, o Gol dará adeus aos seus milhões de apaixonados após 42 anos de sucesso no Brasil. Líder de vendas em seu segmento por 27 anos consecutivos, entre 1987 e 2014, o carro alcançou a incrível marca de 8,6 milhões de unidades produzidas, um recorde.
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O carro “queridinho do Brasil” passou por diversas transformações desde seu lançamento, há pouco mais de 4 décadas, e batizou 3 gerações diferentes, com variações de gama entre elas (G1 a G8), além de algumas séries especiais, como a de despedida, Last Edition, que mal chegou e já está esgotada.
E qual o segredo para tanto sucesso do carro que não fará mais parte das linhas de montagem da Volkswagen, mas deixará um espaço vazio no coração de quem viu nascer um dos modelos mais icônicos da história da marca alemã? André Drigo, Gerente Executivo de Desenvolvimento do Produto da Volkswagen do Brasil, respondeu para a reportagem do Canaltech.
“O Gol tem um marco histórico tanto para o mercado do Brasil quanto para onde foi exportado. Não só em volume, mas também pelas novidades e inovações que trouxe. Ele foi lançado trazendo uma plataforma nova para a época, a BX, proveniente do Passat alemão. E não parou por aí", comentou o executivo.
O gerente da Volkswagen citou que, além da plataforma inédita para a época, diversas inovações, tanto em equipamentos quanto em motores, tiveram início justamente com o Gol.
"Ao longo da história, o Gol passou por várias modificações, várias evoluções, acompanhando a tecnologia mundial. Ele era sempre representante de alguma inovação. É um veículo de sucesso, sem sombra de dúvida, que marcou a evolução da indústria e da engenharia em todo o Brasil”.
Embarque com a reportagem do Canaltech nesta verdadeira “viagem no tempo” em homenagem às várias gerações do hatch que está se despedindo do mercado, mas certamente deixou seu nome marcado no coração de muita gente.
Gol Geração 1 (1980 a 1994)
A Volkswagen criou o Gol para atender o Brasil e ser uma “marca dentro da marca”, mas nem mesmo o mais otimista dos executivos imaginaria que o carro que chegou ao mercado em maio de 1980 com um motor boxer refrigerado a ar e herdado do Fusca faria tanto sucesso no País.
A primeira versão do Gol no Brasil foi oferecida ao mercado em duas versões, S e L, ambas com apenas duas portas. O carro tinha sob o capô um motor de 1.3 litros, que entregava ao motorista 42 cavalos de potência e 9,2 kgfm de torque. O conjunto mecânico tinha ainda um câmbio manual de 4 marchas, suficiente para dar conta do hatch.
O sucesso do Gol no Brasil começou a se solidificar no ano seguinte, com a introdução do motor 1.6 nas versões S e LS, ainda refrigerado a ar, mas que já tinha uma potência um pouco maior, de 51 cavalos. Faltava, no entanto, um “algo mais”. E ele não demorou para chegar.
A história do Volkswagen Gol ganhou um novo status no mercado a partir da entrada dos propulsores 1.6 e 1.8, de 4 cilindros em linha e refrigeração líquida, acompanhados por um câmbio de 5 marchas, em 1984, ano de lançamento do esportivo GT. Três anos mais tarde, uma profunda reestilização deu ao hatch novas lanternas, para-choques mais envolventes e rodas redesenhadas.
Um novo esquema de nomenclatura - C, CL e GL - definiu os níveis de acabamento e equipamentos, enquanto o GT, primeiro esportivo da linha, foi sucedido pelo mais apimentado GTS. Foi em 1987 que o Gol assumiu a liderança no ranking de vendas. E decolou de vez em 1988, ano em que a Volkswagen anunciou o Gol GTi, ainda mais esportivo e dotado de motor 2.0, que se tornou o sonho de consumo dos jovens. O GTi foi o primeiro carro nacional equipado com injeção eletrônica.
Gol Geração 2 (1994 a 1999)
A Geração 2 também foi muito importante na história do Gol fabricado no Brasil. Afinal, foi em 1994 que o hatch passou pela sua primeira grande reestilização no País, adotando formas arredondadas para, segundo a marca, “passar um ar de sofisticação e qualidade construtiva”.
Apelidado de “Gol bolinha”, o Gol G2 foi lançado com motores de 8 ou 16 válvulas e um design que inicialmente apresentava apenas duas portas. Em 1998, um ano antes de ser aposentada a segunda geração do Gol, a Volkswagen introduziu no mercado o hatch com quatro portas.
Além disso, o Volkswagen Gol teve em sua segunda geração uma nova variante da edição esportiva GTi, também com motor 2.0 sob o capô, além da edição especial batizada de Rolling Stones em homenagem à banda que viria a se apresentar no festival Hollywood Rock.
Gol Geração 3 (1999 a 2005)
A terceira geração do Gol, ou G3, transformou o Volkswagen Gol em um dos carros mais “democráticos” do Brasil. E por quê? Porque foi a partir desta geração, mais precisamente na metade de vida dela, em 2003, que a montadora passou a dar ao consumidor a opção de abastecer o carro com gasolina ou álcool (etanol).
Isso foi possível graças ao motor 1.6, batizado pela Volkswagen de Total Flex. O Gol em sua geração 3 também passou a oferecer opções com airbags e freios ABS, ambos vendidos como opcionais. Com isso, o cliente poderia comprar um carro com motor 1.0 totalmente equipado, ou um modelo mais potente, 1.8, mas “pelado”, sem qualquer acessório. Democracia pura.
Gol Geração 4 (2005 a 2008)
A Geração 4 do Volkswagen Gol foi a que menos novidades trouxe ao mercado. Pelo contrário. Toda a expectativa criada em torno do Gol G4, apresentado em 2005, acabou causando frustração, já que as mudanças em cima da versão então existente no mercado foram praticamente nulas.
A quarta geração do Gol trocou os traços arredondados por linhas mais retilíneas, o que tornou o design do hatch menos harmonioso. O quadro de instrumentos, que antes apresentava velocímetro e conta-giros lado a lado, foi trocado pelo que equipava o Fox, mais simples e purista.
A tentativa de evitar o fiasco total da Geração 4 foi o lançamento de uma versão especial, chamada de Gol Rallye, mas ela, assim como o modelo em um todo, não caiu no gosto do público no Brasil.
Gol Geração 5 (2008 a 2012)
A “redenção” da Volkswagen veio com o Gol G5. Marcado pela introdução de uma nova plataforma, a mesma usada no Fox, o hatch finalmente se tornou mais moderno e refinado. E contou com um reforço de peso em sua apresentação: o ator Sylvester Stallone, símbolo de força e de estar “pronto para a ação”, características marcantes do hatch.
A quinta geração teve ainda um Gol que “quase ninguém viu”. Literalmente. A edição especial, lançada em homenagem aos 30 anos do carro e batizada de Vintage, teve apenas 30 unidades produzidas em 2010 e ajudou a recolocar o carro lançado em 1980 na trilha do sucesso.
Gol Geração 6 (2012 a 2016)
A Geração 6 tem um marco negativo na história do Volkswagen Gol. Foi neste período, mais precisamente em 2014, que o carro perdeu o posto de carro mais vendido do Brasil após 27 anos seguidos tomando conta da primeira posição no ranking.
O autor da façanha foi o Fiat Uno, apelidado à época pela montadora italiana de “papa Gol” em alusão justamente ao fato de o hatch ter tomado uma fatia de mercado que há muito tempo pertencia ao modelo alemão. O lado positivo da Geração 6 foi o fato de a “família Gol” (somando-se Parati e Saveiro) ter atingido 10 milhões de unidades produzidas.
Gol Geração 7 (2016 a 2018)
A Geração 7 do VW Gol marcou a segunda reestilização mais impactante do hatch. O para-choque dianteiro ganhou uma entrada de ar maior e os faróis ficaram mais simples. Atrás, as lanternas ganharam aspecto tridimensional, enquanto a cabine recebeu, pela primeira vez, a opção de central multimídia com tela touch.
A maior novidade, porém, ficou reservada para o conjunto mecânico. A Volkswagen aposentou o motor 1.0 de quatro cilindros e adotou o 1.0 três cilindros que era utilizado nas versões do Up!.
Gol Geração 8 (2018 a 2022)
A Geração 8 do Gol introduziu, pela primeira vez, uma opção com câmbio automático de seis marchas. Gerente de produtos da marca à época, Rodrigo Purchio explicou que a decisão foi tomada para “atender a demanda do público sem perder o ar de popular”.
Testada pela reportagem do Canaltech, a versão com câmbio automático do Gol foi considerada um dos carros mais honestos do Brasil, pois oferecia ao consumidor agilidade, força, robustez e confiabilidade na medida certa. Esta versão, no entanto, foi aposentada antes da saída definitiva do hatch de cena.
A montadora alemã resolveu, em abril de 2022, por conta das normas do Proconve L7, aposentar os carros com motor 1.6 8V, dando a entender que o adeus do VW Gol realmente estava próximo. Tanto o hatch quanto o Voyage, que também já teve seu fim de ciclo decretado, passaram a ser oferecidos exclusivamente com motor 1.0 de três cilindros e 84 cavalos sob o capô, acompanhados do bom e velho câmbio manual de cinco velocidades.
A proximidade da aposentadoria fez o hatch ressurgir das cinzas e figurar, por alguns meses de 2022, novamente na liderança dos carros mais vendidos do Brasil. Mas ainda havia uma última surpresa preparada pela Volkswagen para o Gol.
Last Edition: O adeus definitivo ao ícone Gol
O adeus definitivo do Gol foi decretado com pompa, por meio da versão especial, batizada de Last Edition e limitada a 1.000 unidades, todas devidamente numeradas e com uma configuração exclusiva, com a cor vermelho Sunset, até então encontrada apenas nos SUVs T-Cross e Nivus, exterior diferenciado e acabamento topo de linha na cabine.
O sucesso do movimento foi tanto que as 649 unidades disponibilizadas para o mercado brasileiro se esgotaram antes mesmo de chegar às lojas. Outras 350 foram separadas para exportação, e uma ficará exposta no museu da marca, em São Bernardo do Campo.
Um fim de ciclo mais do que digno para um carro que certamente teve muito mais momentos de glória do que de crise durante seus 42 anos de existência no mercado brasileiro.