Está na hora de comprar um carro elétrico?
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |
Uma das principais reclamações de quem quer comprar um carro elétrico, mas ainda não o fez, é o preço. Essa barreira, porém, começou a ser quebrada com a chegada do BYD Dolphin ao mercado brasileiro.
O compacto da marca chinesa foi anunciado por R$ 149,8 mil e provocou um verdadeiro “efeito dominó” em outras montadoras que também possuem carros elétricos de entrada em seus portfólios.
Afinal, não foi apenas o preço atraente que o Dolphin mostrou ao mercado. O pacote de tecnologia embarcado no compacto também é digno de modelos de segmentos superiores e, portanto, mais caros.
A “ameaça do Golfinho” fez com que a JAC Motors reduzisse em R$ 6 mil o preço do E-JS1, subcompacto da marca, e impactou ainda mais a Caoa Chery, que tirou R$ 20 mil do valor do iCar para o consumidor final.
Diante desse cenário, a pergunta que não quer calar é bem simples: está na hora de comprar um carro elétrico? É exatamente isso que o Canaltech vai procurar explicar nas próximas linhas.
Queda de preços é tendência?
A reportagem do Canaltech conversou com um especialista do setor para saber se a queda de preços nos carros elétricos é uma tendência ou um efeito passageiro causado pela chegada do BYD Dolphin ao Brasil.
Para Cassio Pagliarini, Chief Strategy Officer da Bright Consulting, o “efeito Dolphin” precisa ser analisado por diferentes ângulos, mas, sem dúvida, é um ponto a ser considerado para quem ainda se pergunta se está na hora de comprar um carro elétrico.
“Quando se compara veículos equivalentes elétricos e a combustão, a distância ainda é grande para veículos BEV, puramente a bateria. Começam a aparecer veículos menos caros, como o BYD Dolphin, embora eu acredite que esse preço seja promocional para o lote inicial. Pelos preços vistos nos sites chineses, existem mais veículos acessíveis por lá que podem ser vendidos no Brasil se homologados na nossa região”.
China tem “anos de vantagem” em carros elétricos
A afirmação de Pagliarini ganhou força com a confirmação da GWM de que um novo modelo com preço acessível, o Ora GT, será apresentado oficialmente por aqui no próximo dia 20 de julho. Ele chegará para brigar por um lugar no segmento de entrada dos elétricos.
A “revolução chinesa”, aliás, não é por acaso. Segundo o executivo da Bright Consulting, é normal que marcas como BYD, GWM, JAC Motors, Caoa Chery (sino-brasileira) e outras apresentem produtos de qualidade em maior quantidade que as montadoras de outros países.
“A China se notabilizou pelo desenvolvimento e produção de veículos eletrificados e produção de baterias. Usou isso para conseguir uma vantagem tecnológica sobre outros fabricantes e países. Alguns analistas dizem que a China tem 10 anos de vantagem no desenvolvimento de baterias versus outros países”.
Elétricos ou híbridos: qual o melhor custo-benefício?
Cassio Pagliarini analisou as estratégias adotadas pelas empresas chinesas para iniciar os trabalhos no Brasil e previu que o cenário tende a ficar mais diversificado com o aumento dos investimentos das marcas asiáticas na produção em solo verde-amarelo.
“Para estabelecer valor de marca e montar suas redes de vendas e assistência técnica por aqui, começaram por veículos em segmentos bem aceitos pelos brasileiros. Essas marcas anunciaram planos de investir na produção de veículos e baterias no Brasil em função do potencial de crescimento. Na comparação com a China, perde-se em custo puro, mas ganha-se com menores custos de frete, pois os componentes desmontados podem ser despachados de forma mais eficiente”.
O executivo também mostrou confiança em ver uma busca crescente por uma alternativa que não seja eletrificada pura, ou seja, os carros híbridos ou híbridos plug-in: “Essas marcas dispõem de flexibilidade para desenvolver rotas tecnológicas específicas para o nosso mercado, como os híbridos e plug-in flex”.
A visão de Pagliarini é compartilhada por executivos de marcas como a própria GWM e até mesmo a Toyota, que já foi resistente à eletrificação de sua frota. Em evento promovido recentemente pela Anfavea, a palavra mais ouvida em relação ao futuro dos carros no Brasil não foi “elétrico”, e sim “eclético”.
“Nós, como Toyota, acreditamos na diversidade tecnológica, dependendo do país e da infraestrutura local. Hoje é uma realidade, mas daqui a 5, 10 anos, será outra”, pontuou Rafael Chang, CEO da Toyota do Brasil.
“Temos diversidade tecnológica que nos colocará em outro patamar. Não tem tecnologia vencedora, 'A' ou 'B'. O futuro do Brasil não é elétrico, e sim eclético”, completou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.