Como é a fábrica da Toyota no Brasil? Canaltech visitou e mostra para você
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |
Qual a sua fábrica dos sonhos, canaltecher? Se sua resposta for “uma que produz carros”, você está com sorte. A reportagem do Canaltech foi convidada pela Toyota para conhecer a planta de Sorocaba, no interior de São Paulo, e vai contar e mostrar a você um pouquinho de como é o processo de fabricação dos carros dos sonhos de muita gente.
- Quer conhecer a fábrica da Toyota? Veja como fazer
- Review Toyota Corolla Cross Hybrid | SUV agrada, mas não merece esse nome
Durante o passeio, intitulado “Rotas Tecnológicas: Rumo à Neutralidade de Carbono”, pudemos acompanhar não apenas os diversos estágios de produção do Corolla Cross, do Yaris e do Etios (este apenas para exportação) que são fabricados por lá. Tivemos também a oportunidade de conhecer a história da montadora, espiar (e andar) em carros que não são vendidos no mercado brasileiro e, claro, entender um pouquinho mais sobre os planos da marca para, enfim, tornar o ciclo completo dos carros um processo zero emissão.
Fábrica da Toyota é “ecofriendly”
A planta de Sorocaba é a primeira Ecofactory da América Latina. Isso significa que a fábrica da Toyota possui alta eficiência ambiental, alcançada pelo uso de energia 100% proveniente de fontes renováveis e reuso de água da chuva, entre outros pontos. Há ainda o chamado Morizukuri, cinturão verde em volta da fábrica plantado pelos próprios funcionários, composto por árvores nativas e que simulam a floresta original da região.
“O desafio ambiental começou em 2015 e vai até 2050, passando por várias etapas, mas o ciclo de vida de emissão zero deve chegar a todas as fábricas da Toyota por volta de 2035”, comentou Rafael Borges, coordenador de comunicação da Toyota, responsável pela primeira parte do tour.
Outros pontos importantes deste desafio ambiental estão contemplados no Projeto Retornar, que doa materiais não utilizados na fabricação dos carros para uma cooperativa de costureiras da região produzir e vender produtos como bolsas, carteiras e mochilas. Esta foi uma forma encontrada pela montadora de reutilizar materiais e, em paralelo, movimentar o comércio da região com a geração de empregos e renda.
Rumo à neutralidade
Roberto Braun, Diretor de Assuntos Governamentais da Toyota no Brasil, acompanhou os jornalistas durante praticamente toda a visita à fábrica. E foi ele quem deu a dica de qual seria o foco principal do passeio: “Estamos comprometidos com a neutralidade, mas o inimigo é o carbono, não o motor a combustão”.
O que o executivo da Toyota quis dizer com isso? Simples. Que o plano estratégico da marca não será focado única e exclusivamente na eletrificação pura e simples dos carros. A palavra que melhor define o que a montadora japonesa pensa em relação ao futuro é “diversidade”.
“Temos que oferecer a tecnologia mais adequada a cada país considerando a infraestrutura e a matriz energética do local”, explicou Braun, reforçando que a Toyota já trabalha com carros híbridos flex, plug-in, elétricos puros (BEVs) e movidos a hidrogênio.
“No Brasil, o biocombustível e a eletrificação é a melhor opção, até pelo poder aquisitivo. A melhor tecnologia que podemos oferecer é o híbrido flex”, complementou o executivo, revelando que a Toyota já vendeu mais de 50 mil carros com esta tecnologia desde 2019, entre Corolla sedan e Cross.
Roberto Braun utilizou um material de apoio do Ministério de Minas e Energia para afirmar também que o híbrido flex é o carro menos agressivo ao meio-ambiente no chamado ciclo “do poço à roda”. Segundo o executivo da Toyota, enquanto um carro elétrico puro emite, em sua vida completa, 35 gramas de CO2 por quilômetro rodado, o híbrido flex emite 29.
Segundo o executivo, a Jama, do Japão, órgão equivalente a Anfavea no Brasil, divulgou um relatório informando que o plano de atingir os níveis de emissão no planeta não serão batidos apenas com carros elétricos, mas também com a adoção de combustíveis neutros, como etanol, até nos países mais desenvolvidos.
“Não estamos falando em utilizar só carros movidos a etanol ou só carros elétricos. Não é ‘ou’. É ‘e’. Na Índia também estão avançando em um projeto para uso de híbrido flex”, concluiu.
Problema técnico “brecou” o tour
Apesar de ter tido a oportunidade de aprender em detalhes como é o processo de fabricação dos carros produzidos na planta de Sorocaba, a visita à fábrica da Toyota no interior de São Paulo não ocorreu do jeito que a montadora pretendia. Tudo graças a um problema técnico que, literalmente, parou as máquinas durante o tour.
De qualquer forma, José Eduardo Ribeiro, gerente responsável pelas instalações que ocupam um total de 3,7 milhões de metros quadrados entre os quilômetros 91 e 93 da Rodovia Castelo Branco, “pintou em palavras” o que a parada forçada dos equipamentos privou a reportagem do Canaltech de ver com os próprios olhos.
Ribeiro explicou que a chamada área de movimentação de peças é composta por 42 lanes (pistas), abastecidas com peças suficientes para rodar por 40 minutos. No total, a fábrica de Sorocaba produz, durante os três turnos de trabalho, cerca de 660 carros por dia. Isso significa uma eficiência de 94%, e o resultado é um carro produzido a cada 108 segundos.
O recorde da fábrica, no entanto, é ainda maior, atingindo um nível de eficiência de até 96%, que aumentou a produção diária para 684 carros. Em média, saem da fábrica diariamente 45% de Corolla Cross, 30% de Yaris e 25% de Etios, estes fabricados para venda na América Latina.
O gerente da planta revelou ainda que o processo de montagem dos carros é 100% artesanal, ou seja, feito exclusivamente por pessoas. Já a parte de funilaria é 86% automatizada, com os robôs ficando responsáveis pelos 2 mil pontos de solda, em média, nos carros produzidos por lá.
Espiadinha para fechar a visita
Antes de fechar a agradável visita à fábrica da Toyota, a reportagem do Canaltech teve a oportunidade de flagrar e registrar imagens de um carro que, a princípio, não está programado para vir ao Brasil, mas certamente faria muito sucesso por aqui: o Yaris GR Four, versão do hatch produzida pela divisão esportiva da marca, a Gazoo Racing.
O Yaris GR Four tem sob o capô um motor 1.6 turbo de 3 cilindros que entrega ao condutor 267 cavalos de potência e 36,7 kgfm de torque. O sistema de tração é integral e o conjunto mecânico se completa com um câmbio manual de 6 velocidades. Segundo a Toyota, o carro acelera de 0 a 100 km/h em pouco mais de 5 segundos e atinge velocidade máxima de 230 km/h.
“O mundo está mudando, mas uma parcela muito grande ainda é apaixonada por carros. A divisão GR é para isso, e aposta em três pilares: Motor Sport, para competições, fãs, que têm experiências personalizadas, e produto ‘puro sangue’, como o Yaris GR e o GT86”, resumiu Rafael Borges, coordenador de comunicação da Toyota.
Vale lembrar que a Toyota retomou, no início de outubro, o chamado Toyota Tour, programa que permite ao público também conhecer a planta da montadora em Sorocaba. Segundo a montadora, a agenda já está fechada pelos próximos meses, mas ainda é possível fazer a inscrição por meio do site oficial.
Além de ver o processo de produção, os visitantes também poderão observar carros antigos da marca, como a primeira geração do Corolla, produzida no final da década de 1960 e que tem sob o capô um motor de apenas 51 cavalos de potência, ou o Toyota Bandeirante, que rodou por aqui entre 1962 e início dos anos 2000.