Qualcomm vê queda nas ações, mas segue aliviada após acordo com Apple
Por Thaís Augusto | 02 de Maio de 2019 às 19h09
As ações da Qualcomm caíram cerca de 3,5% na quarta-feira (1) quando investidores analisaram o impacto final de um acordo entre a fabricante de chipsets e a Apple, que incluíram um pagamento único multibilionário e taxas mais modestas para uso de futuras patentes.
Apesar disso, as ações mantiveram a maior parte dos ganhos de mais de 50% que haviam sido acumulados nas últimas semanas, refletindo o alívio dos investidores de que a Qualcomm encontrou um caminho para retomar o fornecimento de chips para o iPhone.
No terceiro trimestre fiscal do acordo, a fabricante de chipsets receberá um pagamento único de US$ 4,5 bilhões a US$ 4,7 bilhões. Sem somar o montante, a Qualcomm estimou uma receita de US$ 4,7 bilhões a US$ 5,5 bilhões, abaixo dos US$ 5,29 bilhões esperados pelos analistas.
O déficit foi impulsionado por um fraco mercado chinês de smartphones, de acordo com a Qualcomm. A empresa acredita que os consumidores estão evitando comprar novos aparelhos até que as novas redes 5G sejam lançadas ainda este ano.
Mas enquanto executivos da Qualcomm citaram a fraqueza econômica na China como uma razão para a previsão de vendas abaixo do esperado, a Apple informou nesta terça-feira (30) que registrou um ligeiro aumento nas vendas da China até o final de seu segundo trimestre fiscal após cortes nos preços do iPhone e outros fatores.
O acordo com a Apple, que inclui uma licença de patente de seis anos e um contrato de fornecimento de chips, deve gerar US$ 2 por ação em ganhos adicionais, disse a Qualcomm. Detalhes financeiros não foram divulgados, mas espera-se que o acordo possa recuperar a proeminente posição de chips móveis da Qualcomm, que detinha o "título" no início de 2010.
A Qualcomm estimou US$ 1,23 bilhão a US$ 1,33 bilhão em receita para seus negócios de licenciamento no terceiro trimestre, acima da previsão de analistas de US$ 1,22 bilhão. Esta perspectiva de receita inclui royalties das vendas de produtos da Apple.
Durante sua divulgação de resultados, a Apple disse que sua orientação de margem bruta, praticamente inalterada em relação aos trimestres anteriores, incluiu o acordo da Qualcomm. Tanto a previsão da Qualcomm como a da Apple sugerem pouco impacto financeiro de curto prazo do acordo de licenciamento de patentes.
Stacy Rasgon, analista da Bernstein, disse que o acordo da Apple estava de acordo com as expectativas, mas a perspectiva de receita foi decepcionante. "Isso me diz que ou a Apple não está pagando para a Qualcomm tanto dinheiro assim ou que o mercado está horrível. Talvez um pouco dos dois".
O lucro líquido da Qualcomm subiu para US$ 663 milhões, ou US$ 55 centavos por ação, no trimestre encerrado em 31 de março. No ano anterior, o resultado era de US$ 330 milhões, ou US$ 22 centavos por ação. Já a receita caiu para US$ 4,88 bilhões, mas bateu as estimativas dos analistas de US$ 4,8 bilhões.
Disputas entre Qualcomm e Apple
Em março, uma das brigas judiciais entre Qualcomm e Apple chegou ao fim quando a justiça norte-americana decidiu que a Apple violou três patentes da fabricante de chipsets.
As três patentes em questão incluíam: uma função que permite a um smartphone conectar-se rapidamente à internet depois que ele for ligado; o processo de integração entre um modem e processador para que trabalhem juntos para lidar com o download de aplicativos; e, por fim, uma que cobre o processamento gráfico e a duração da bateria.
A Qualcomm, que entrou com a ação em julho de 2017, alegou que a Apple usou sua tecnologia sem permissão em algumas versões de seus populares iPhones. A empresa conseguiu que a Apple lhe pagasse uma quantia de US$ 31 milhões pelo uso das patentes.
Esta não era a única disputa das empresas, mas ambas resolveram encerrá-las com um acordo neste mês. Os analistas do mercado consideraram o acordo outra vitória para a Qualcomm porque ele prevê não apenas o pagamento de uma quantia não revelada pela Apple referente a licenciamentos devedores, como as companhias ainda fecharam um contrato de seis anos (extensível para mais dois) envolvendo licenciamento e fornecimento de chips Qualcomm para a Apple.
Com o acordo acertado, uma das principais dúvidas que ficaram foi como seria esse novo contrato de licenciamento, já que foram exatamente os valores de licenças que fizeram com que a Qualcomm processasse a Apple. Isso porque, no contrato anterior das empresas, foi fixada uma porcentagem a ser paga como licenciamento, só que a Apple pagou essa porcentagem baseada no preço do chip de modem que a Qualcomm fornecia para ela (no valor de US$ 20 cada chip) e o que a Qualcomm esperava receber era uma porcentagem em cima do preço final do iPhone.
Segundo pessoas ligadas ao processo, a Qualcomm estava exigindo da Apple o pagamento de um valor de US$ 7,50 por iPhone vendido como valor de licenciamento, e a Maçã estava pagando algo bem abaixo disso e cujo valor exato não foi revelado — mas um cálculo simples permite determinar que o valor pago pela Apple era de apenas US$ 0,24 por iPhone vendido. Confira nesta matéria do Canaltech.
Apesar da "derrota", o acordo foi o caminho encontrado pela Apple para não ficar atrás da concorrência na transição de seus aparelhos para a rede 5G: a Qualcomm não iria negociar com ela enquanto o processo entre as empresas estivesse em andamento, a Intel (até então a única fornecedora de modems para os iPhones) possivelmente não conseguiria lançar seu chip 5G até 2021, e as outras fabricantes que já possuíam essa tecnologia também não eram uma opção existente, já que a Samsung utilizará todos os chips produzidos em seus próprios aparelhos, a Huawei está proibida de vender qualquer equipamento de telefonia para os Estados Unidos sob suspeita de espionagem, e os chips da MediaTek não possuem a qualidade exigida por um iPhone.
Assim, a Apple engoliu o orgulho e “perdeu” a disputa com a Qualcomm, chegando a um acordo que colocava a fabricante de chips em posição de vantagem.
Fonte: Reuters