Por que custa tão caro consertar a tela do celular?
Por Vinícius Moschen • Editado por Léo Müller |

Ter que consertar a tela do celular é uma experiência frustrante, especialmente quando os preços do reparo chegam perto do valor de um aparelho totalmente novo. Esse tipo de custo tem se tornado cada vez mais alto, com o uso de painéis mais sofisticados nos smartphones.
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De acordo com a empresa de seguros Allstate, os gastos totais com consertos de telas de celulares atingiram US$ 8,3 bilhões (cerca de R$ 45 bilhões em conversão direta) em 2023. Esse valor é o triplo dos US$ 3,4 bilhões (~R$ 19 bilhões) registrados em 2018.
Além disso, o custo médio por conserto ou substituição de tela é de US$ 302 (~R$ 1.647), que é o equivalente ao preço de um celular intermediário básico novinho por lá.
A mesma pesquisa mostrou que 47% dos entrevistados acham que o preço justo seria metade do valor atual. Além disso, 39% das pessoas adiam o conserto por falta de dinheiro, e quase a metade não repara aparelhos que ainda estão funcionando.
Diante desse panorama, vem a pergunta: por que é tão caro consertar a tela dos celulares?
Principais motivos para o alto custo
Em geral, o alto custo não pode ser atribuído a apenas um motivo, mas se mostra como uma união de fatores.
Kyle Wiens, da empresa especializada em consertos iFixit, culpa as grandes empresas por dificultar os reparos com peças e ferramentas proprietárias.
Além disso, especialistas apontam que fabricantes criariam "pontos fracos planejados", fazendo com que reparos caros incentivem a compra de novos aparelhos.
Embora o tipo de conserto dependa do modelo de celular e da magnitude dos danos, é comum que seja necessário remover diversos outros componentes internos para trocar o display, o que aumenta o preço da mão de obra.
Ademais, algumas marcas aplicam preços altos por peças proprietárias, e impõem restrições de reparo: com partes que não sejam originais, o celular sequer funciona normalmente sem um bloqueio de software.
Outro fator apontado é que a própria remoção “manual” da tela já incide no encarecimento.
Na fabricação, o processo é automatizado por máquinas, com custo muito baixo por unidade, enquanto o reparo envolve mão de obra humana cara e processos demorados, como diagnóstico, encomenda de peças, montagem e testes.
Tela está entre os componentes mais caros do celular
Quando se faz a análise do custo associado a cada um dos componentes presentes em um celular, a tela sempre aparece como um dos mais caros.
De acordo com estimativas recentes, o painel do iPhone 17 Pro Max custa cerca de US$ 80 (~R$ 437), um preço comparável apenas a componentes como o chip A19 Pro e o modem de conectividade 5G, que custam US$ 90 (~R$ 491) cada.
No entanto, outras peças são bem mais baratas, como a bateria (US$ 4, R$ 22), RAM (US$ 21, R$ 115) e armazenamento (US$ 20, R$ 109). Nenhum desses está tão exposto a danos como o display.
A complexidade técnica das telas atuais, que integram sensores táteis, chips de controle e biometria, também contribui para o valor.
Entretanto, essa estimativa é referente a um dos celulares mais avançados da atualidade, e a proporção pode mudar bastante de acordo com a categoria e idade do dispositivo.
Será que dá para consertar em casa?
Diante dos altos custos, algumas pessoas procuram pela chamada opção DIY, ou "faça você mesmo". Ela é mais barata, mas também arriscada; um erro pode causar danos adicionais e irreparáveis ao aparelho.
Mesmo assim, movimentos como o "Right to Repair" buscam obrigar fabricantes, como a Apple ou a Samsung, a liberarem peças e instruções de reparo.
Eles argumentam que fabricantes restringem reparos alegando proteção de direitos, mas isso é visto como uma estratégia comercial. Além disso, a ausência desse tipo de suporte prejudicaria o mercado de produtos usados.
Portanto, propõem que novas regras obriguem fabricantes a fornecer documentação técnica, ferramentas e diagnósticos, além de peças avulsas e firmware. O acesso a esses componentes, apontam, deve ser igual para consumidores e oficinas independentes.
Quando é hora de substituir a tela do celular?
Em geral, não existe uma regra objetiva para saber se é melhor trocar a tela do celular ou deixar como está. Além do preço de reparo, é preciso considerar fatores como a extensão dos danos, e a própria condição do smartphone como um todo — modelos mais velhos são menos vantajosos para consertar, por exemplo.
No entanto, como ponto de partida, a substituição é recomendada quando há rachaduras graves ou falha no toque. Além disso, pode valer a pena se o custo do reparo for menor que 50% do valor do aparelho no mercado.
Vale lembrar que um celular circulando com a tela rachada ou quebrada está muito mais sujeito a danos adicionais, já que se trata de uma abertura não prevista na engenharia do dispositivo. Ou seja, intensifica-se o risco de entrada de partículas sólidas ou líquidas capazes de provocar problemas em outros componentes.