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Brasileiros compram mais celulares premium; contrabando ainda é problema

Por  • Editado por Léo Müller |  • 

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Brenno Barreira
Brenno Barreira

A tendência global de crescimento nas vendas de celulares poderá se refletir no mercado brasileiro, mas especialistas tendem a interpretar a situação com cautela. O cenário de crescimento deve fechar o ano de 2024 com os brasileiros comprando mais celulares premium, visando ficar com eles por mais tempo. Os altos preços dessa categoria, contudo, impactam em um crescimento mais lento. 

A análise é de Andreia Sousa, analista do IDC que deu as informações ao Canaltech com exclusividade. Segundo ela, apesar dos esforços do Governo Federal para barrar a importação ilegal de celulares, o mercado do descaminho ainda deve afetar significativamente as vendas locais até o fim de 2024. 

Crescimento com cautela

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De acordo com Sousa, os momentos de dificuldade do pós-pandemia, em que o mercado se retraiu muito, já se alternam gradativamente com novos ciclos de troca. No entanto, isso é visto de forma mais evidente nos países mais ricos.

Além disso, identifica-se uma tendência chamada de “premiumização”, ou seja, uma maior parcela de vendas entre os celulares mais caros. Isso está associado à intenção de manter o celular por mais tempo.

Essa intenção é semelhante no Brasil, mesmo que na média os modelos não sejam tão avançados. Afinal, mesmo os celulares considerados de entrada ou intermediários vêm trazendo melhorias suficientes para mantê-los ativos por mais tempo.

“Nos últimos anos, foram lançados aparelhos com mais memória, muito bons em termos de durabilidade, de processamento, então isso faz com que o aparelho funcione bem por muitos anos.”

Ela aponta que a população brasileira já está “bastante abastecida” e, em geral, não tem tanta intenção de trocar os aparelhos celulares com base no que as novas gerações oferecem:

“Quem já tem um smartphone, troca-o quando quebra ou tem um problema. Não é aquela troca por conta do lançamento, da ‘função X’, ou da melhoria nas câmeras”

Condição econômica melhorou, mas preços são obstáculo

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Sousa destaca que existe uma relação evidente entre o mercado de celulares e fatores econômicos, como o poder de compra da população e taxas de inflação.

Neste sentido, a analista vê uma situação de melhora no mercado local, contra um período anterior de muitas dificuldades:

“Sentimos um impacto quando estávamos com taxas muito altas de inflação. As pessoas precisaram priorizar outras coisas, como despesas domésticas.”
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Mesmo assim, ela destaca que grande parte dos aparelhos ainda tem preços bastante altos, especialmente quando se compara com a renda da população. O preço médio de um celular no primeiro trimestre ficou na casa de R$ 1.600, enquanto o salário mínimo é ligeiramente superior a R$ 1.400.

A explosão do mercado paralelo

O mercado de celulares não registrados, que também têm aparecido de forma frequente nos noticiários nos últimos meses, é um fator que não pode ser ignorado no contexto brasileiro, segundo Sousa.

Afinal, houve um salto de 8% para 25% na proporção de aparelhos vendidos por meio do mercado paralelo, que inclui importação ilegal, contrabando e descaminho.

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Recentemente, a Anatel passou a implementar regras mais rígidas contra este mercado, com punições duras a marketplaces que abriguem anúncios dos celulares irregulares. As sanções podem passar por multas milionárias, além da derrubada dos sites.

A analista aponta que, mesmo com as ações mais rígidas da Anatel, é improvável que aconteça um retorno para os patamares anteriores:

“Estamos monitorando e entendemos que pode ter um impacto até o final do ano, sim. Mas foi um avanço muito grande, e será um pouco difícil voltar ao tamanho do mercado em anos anteriores”

Inteligência artificial como motor de expansão

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O mercado de smartphones tem se apoiado na inteligência artificial (IA) como um novo “motor de vendas”. O tema também foi discutido pela analista:

“Agora temos os lançamentos com inteligência artificial, mas isso beneficia mais quando comparamos com mercados mais desenvolvidos. Para quem for realizar a troca e já estiver disposto, isso é um fator que pode atrair, mas, de modo geral, as mudanças são incrementais pequenas nos smartphones vendidos no Brasil. ”

Grandes fabricantes de celular, como Apple e Samsung, já trabalham em soluções integradas de IA para seus celulares, chamadas de Apple Intelligence e Galaxy AI, respectivamente.

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Com elas, é possível utilizar funções de geração de texto para chat (estilo ChatGPT), ou mesmo para resumir notas ou outros conteúdos escritos. Outros recursos incluem a edição avançada de fotos e vídeos, além da tradução simultânea de conversas.

O maior diferencial dos celulares mais recentes em comparação com serviços oferecidos na internet é justamente a rapidez que o processamento nativo de IA proporciona, já que não há a necessidade de enviar dados para a nuvem.

O potencial da IA para os celulares já tinha sido abordado em pesquisas anteriores, que associou um aumento de 6,5% nas vendas globais às novas tecnologias.

Gustavo Assunção, vice-presidente da Samsung no Brasil, afirma que a IA terá um espaço "cada vez mais democrático" na linha de celulares da marca. Isso significa a implementação de recursos em modelos menos avançados e/ou de gerações anteriores, mesmo que nem sempre com todas as funcionalidades vistas nos smartphones mais caros.