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Crítica Um Dia | Netflix entrega uma adaptação brilhante e rica em detalhes

Por| Editado por Durval Ramos | 15 de Fevereiro de 2024 às 15h00

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix
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No início da década de 2010, um livro de romance chamou a atenção do público. Era Um Dia, assinado por David Nicholls, que surgiu surfando na onda das histórias de amor impossível iniciadas por Crepúsculoem 2005. Não demorou muito para a trama cair no gosto do público e, em 2011, ganhar uma adaptação para as telonas, dirigida por Lone Scherfig e estrelada por Anne Hathaway e Jim Sturgess. Agora, 13 anos depois, o autor e a Netflix se uniram para entregar uma nova versão para os fãs, desta vez em forma de série, que esmiúça melhor a relação entre os protagonistas, mostrando que uma boa trama segue sempre muito atual.

Com 14 capítulos de meia hora cada, a obra Netflix é mais completa e resolve a dor deixada pelo longa, a de não retratar os pormenores da relação entre Emma e Dexter. Na trama, eles são dois jovens que se esbarram na noite de formatura da faculdade e, apesar de serem completamente diferentes, tanto fisicamente quanto emocionalmente, se conectam de algum modo e decidem passar a noite juntos. A expectativa é sexo casual, mas a realidade é uma noite de conversa fiada e boas risadas.

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Tudo isso acontece no dia 15 de julho de 1988 e, daí em diante, os dois não param de se falar, seja por carta, cartão postal, telefone ou mensagens de texto. Cada capítulo é ambientado no dia 15 de julho dos próximos anos, e representa um ano nessa relação que, apesar de altos e baixos, nunca acaba.

A princípio, parece frustrante que duas pessoas que se gostam não fiquem juntas. Porém, Um Dia não é um filme de comédia romântica e nem tem a pretensão de criar uma história que entregue apenas o que o público quer. A série faz um retrato fiel da vida real, mostrando que nem tudo acontece da maneira desejada. Emma e Dexter vivem bons e maus momentos, tanto juntos quanto separados. Se casam, terminam os relacionamentos, mudam de trabalho, lutam para se encontrar na vida, passam dificuldades financeiras, e sempre se reconectam de alguma forma.

A maneira como a narrativa foi contada é o grande acerto da obra, já que não enrola a ponto de cansar o público, mas consegue se demorar em detalhes importantes, como a maneira carinhosa que Dex olha para as costas de Emma. Todos esses pormenores enriquecem a trama e ajudam a dar mais camadas aos protagonistas.

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Os coadjuvantes, por sua vez, também ganharam mais relevância, especialmente Tilly (Amber Grappy), a melhor amiga de Emma e Sylvie (Eleanor Tomlinson), a ex-esposa do galã. A história deles é contada de forma que pareça um pano de fundo para a dupla brilhar. 

Um dos momentos mais emocionantes acontece quando o público se dá conta que a mãe de Dex está enfrentando um câncer e, em seguida, quando ela morre. É tudo mostrado com a delicadeza que o enredo exige e, até quando um dos protagonistas sai de cena, a série não perde seu charme.

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Um mocinho galã e uma mulher empoderada

E, por falar em protagonistas, a série da Netflix traz uma representação mais fiel de Emma, bem mais próxima de como ela é descrita no livro. Ela fuma, se envolve com homem casado, é mais cínica e sarcástica e não se preocupa em manter a aparência de boa moça que tanto agrada a sociedade. Isso a afasta da representação hollywoodiana que Hathaway teve que fazer. Já Dex continua sendo o bad boy irresistível que, apesar de ter muitas atitudes questionáveis, segue amado por todos.

A atriz britânica Ambika Mod foi a escolha perfeita para dar essa acidez à personagem. Sem perder o tom nas cenas de romance, ela consegue se emocionar mesmo sem se entregar ao clichê da mocinha. Já Leo Woodall (The White Lotus) manteve a aparência do bom moço e se saiu melhor nas cenas de alegria do que nas de dramas.

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O erro ficou por conta da caracterização dos personagens. Durante 15 anos, os protagonistas mantiveram praticamente os mesmos cabelos, as mesmas roupas, a mesma maquiagem e a mesma maneira de se portarem, não mudando praticamente nada e fazendo parecer que o tempo não altera a natureza das coisas.

Por um lado, ajuda a construir a ideia de que o casal ainda é o mesmo de quando se conheceu. Por outro lado, faz com que essa passagem de tempo tão necessária para a trama seja um pouco confusa. Se não fosse a sinalização dos anos no início dos capítulos, seria muito difícil compreender os saltos que o roteiro dá.

Já o principal acerto, além dos citados acima, fica por conta da narrativa se debruçar sobre a imprevisibilidade da vida. É quase poético ver que, em um momento, Emma está trabalhando em um restaurante mexicano engordurado enquanto Dex desfila com sua namorada e goza da fama de apresentador de televisão e, em outro, ela é uma escritora renomada enquanto ele é um garçom em um café.

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Com esses e outros acertos, Um Dia — cuja produção executiva ficou nas mãos do próprio David Nicholls — é um bom acerto da Netflix, e pode agradar quem já assistiu ao filme ou quem nunca ouviu falar da história. O autor acertou ao esmiuçar a trama, e a duração dos capítulos foi responsável pela leveza do enredo. Quem quiser, já pode maratoná-la na gigante do streaming.