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Crítica Toda Luz Que Não Podemos Ver | Série tem ritmo lento e roteiro fraco

Por  • Editado por Durval Ramos | 

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Reprodução/Netflix
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A fim de lançar um drama de guerra que emocionasse seus assinantes, a Netflix apostou na adaptação de Toda Luz que Não Podemos Ver, clássico livro de Anthony Doerr vencedor do Prêmio Pulitzer e considerado um dos 10 melhores títulos de 2014 pelo New York Times. Infelizmente, no entanto, o tiro saiu pela culatra e, apesar de não ser uma minissérie totalmente ruim, a obra da gigante do streaming deixou muito a desejar em alguns pontos.

O primeiro deles é que o texto arrastado dá preguiça no espectador. Há uma sensação de que a obra está se debruçando sobre detalhes irrelevantes enquanto deixa de desenvolver melhor seus protagonistas. Para começar, somos apresentados a Werner (Louis Hofmann), um menino alemão que viveu em um orfanato até o dia em que foi obrigado a se alistar no exército de Hitler.

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Isso aconteceu porque os nazistas notaram que ele tinha um dom para lidar com o rádio — aparelho que teve papel fundamental na Segunda Guerra Mundial. Assim, Werner deixa de ser um pobre menino à espera de um lar e passa a ter que lidar com os horrores da guerra. Concomitante a isso, a mocinha cega Marie-Laure (Aria Mia Loberti) tenta se exilar em Saint-Malo com seu pai Daniel. Chegando lá, ela conhece seu tio Etienne (Hugh Laurie) e a irmã dele, Madame Manec (Marion Bailey), que lhes dão abrigo.

Toda essa história é contada tendo como figura central o rádio. Ele aparece como veículo de comunicação, como meio para as propagandas hitleristas e como símbolo de resistência ao governo totalitário alemão.

Apesar de compartilharem essa paixão pelo rádio e por um programa específico sobre ciência e verdade, os dois protagonistas só vão se conhecer no final. Enquanto isso, os nazistas seguem destruindo a França e um general vai atrás de Daniel por acreditar que ele carrega um diamante amaldiçoado capaz de dar vida eterna a quem o porta.

Esse pano de fundo fantasioso dá à trama um pouco mais de fôlego, adicionando boas cenas de ação e fazendo com o que espectador fique tenso tentando adivinhar se os nazistas vão ou não pôr as mãos no diamante. Ainda assim, o enredo parece raso, como se tivesse medo de mergulhar fundo na história original de Doerr.

Afinal, por que Marie é cega? Ela nasceu assim ou algo mudou sua condição? E onde está sua mãe? Foi morta? Por que Werner é órfão? Essas e outras várias perguntas não são respondidas e a série se esquece que, antes de ser uma obra de guerra, é um drama no qual a vida de cada personagem importa.

Atenção aos detalhes

Os pontos positivos, por sua vez, ficam para a verossimilhança apresentada, já que Toda a Luz que Não Podemos Ver reconstrói com habilidade uma França retalhada e adiciona elementos reais à fantasia. Um deles acontece quando Etienne ouve o poema Canção de Outono por uma estação de rádio da BBC. Ela realmente existiu e foi usada para que franceses exilados pudessem dar notícias a seus parentes.

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Outro acerto inegável é a fotografia e a cenografia da série. Todos os elementos hitleristas estão ali, desde as bandeiras vermelhas até as iniciais SS gravadas nos uniformes militares, mas tudo isso não deixa de ser mais um retrato do nazismo pelo olhar dos estadunidenses, como já aconteceu diversas vezes.

Além de ser uma cenografia sempre igual, a necessidade que os Estados Unidos têm de inserir uma bandeira sua em cena é irritante. Além de, claro, aparecer como o salvador da pátria. Mas, com honestidade, vale dizer que, mesmo com esse incômodo, não dá para negar que os efeitos especiais de bombas e destruição fizeram bonito em cena.

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Já falando no elenco, a série acertou em cheio ao escalar Aria para dar vida à Marie. A estreante brilhou no primeiro trabalho e conseguiu acertar o tom das emoções. Contribuiu muito o fato dela também ser uma pessoa portadora de deficiência visual na vida real.

Louis Hofmann (Dark), o Werner, é mais apático, já que o seu personagem foi criado para ser um menino bonzinho que destoa dos nazistas barulhentos. Hugh Laurie, o famoso Dr. House, se sai bem como o metódico e traumatizado tio Etienne, embora pudesse ter sido melhor explorado. O ator é brilhante, mas infelizmente fica limitado a um roteiro mais simplista.

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Por fim, Mark Ruffalo (De Repente 30) parece um pouco perdido no personagem. Ele dá vida a uma pai amoroso que tenta proteger a filha, porém o ator se perde um pouco no sotaque e parece um tanto quanto aéreo em cena.

Toda Luz que Não Podemos Ver poderia ser melhor

Apesar de ter momentos emocionantes e uma cenografia impecável, infelizmente Toda Luz que Não Podemos Ver tem falhas significativas que fazem a trama ficar monótona e desinteressante em várias partes. É nítido o esforço do roteirista Steven Knight (Peaky Blinders) e do diretor Shawn Levy (O Projeto Adam) em fazer jus à escrita de Doerr, mas ao não mergulharem de cabeça no texto do autor, eles pecaram pela superficialidade.

O final também deixa muito a desejar e parece que o encontro romântico de Marie e Werner foi forçado para dar um final feliz à história, o que não era necessário. Dito isso, quem quiser dar uma chance a obra conseguirá aproveitar bons momentos, mas também verá falhas que perturbam. Lembrando que todos os quatro episódios já estão disponíveis na Netflix.