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Crítica O Projeto Adam | O valor da simplicidade

Por| Editado por Jones Oliveira | 11 de Março de 2022 às 11h00

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Ser adulto é algo bem complicado. Para além de todas as responsabilidades, boletos e tarefas que a maturidade nos impõe, há todo o acúmulo de experiências, dores e traumas que a gente carrega por toda a vida e que, por muitas vezes, nos definem. A vida acontece para todo mundo e as marcas são inevitáveis — e, às vezes, a gente precisa justamente resgatar um pouco dessa inocência da infância para poder passar por cima de tudo isso.

Parece papo de terapia, mas é justamente essa a mensagem central em torno de O Projeto Adam, novo filme da Netflix estrelado por Ryan Reynolds. A aventura é uma ficção científica com um tom bem familiar que diverte muito e que, mesmo com toda a sua leveza, entrega muito coração.

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Para isso, o longa segue a mesma fórmula que o diretor Shawn Levy adotou em Free Guy: Assumindo o Controle, também com Reynolds: uma jornada que não está preocupada em fazer grandes desenvolvimento, mas com uma mensagem muito bonitinha e bem direta rodeada de momentos bem humorados.

E isso não é demérito algum. Como o próprio filme explicita em determinado momento, é justamente na simplicidade que, às vezes, encontramos a nossa melhor parte.

Troca equivalente

Apesar dos floreios científicos aqui e ali, a trama de O Projeto Adam é bem simples. O ano é 2050 e a humanidade já dominou a viagem no tempo. E tudo começa quando Adam (Reynolds) rouba uma das naves usadas para esses saltos temporais para voltar ao passado, caindo em 2022. Ferido, ele precisa encontrar o seu eu de 12 anos para poder salvar seu pai e impedir que uma megacorporação se aproveite de sua pesquisa no futuro.

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E é justamente nessa relação entre os dois Adam que está o coração de toda a trama. Isso porque tanto a versão do futuro quanto o garotinho do presente carregam suas questões e é preciso um olhar de fora para entender a lidar com essas cicatrizes.

No caso do personagem de Ryan Reynolds, a ausência do pai e o consequente afastamento da mãe fizeram dele alguém extremamente sarcástico e ácido, o típico babaca que o ator sempre interpreta em seus filmes. E por mais que soe repetitivo ver a persona de Deadpool mais uma vez em cena, com sua língua ferina e comentários engraçadinhos a cada frase, isso se encaixa muito bem dentro desse protagonista bastante amargurado.

Ao mesmo tempo, o pequeno Adam também tem os seus problemas. Como alguém que acabou de perder o pai, ele abraçou o luto criando um escudo à sua volta e se afastando de todos — inclusive da própria mãe. E é interessante ver como o roteiro faz dele alguém que usa o sarcasmo e o deboche para se isolar, quase como se fosse uma semente daquilo que ele vai se tornar nas próximas décadas.

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O grande acerto de O Projeto Adam é trabalhar a dinâmica entre essas duas versões do mesmo personagem para fazer que um exponha as fragilidades do outro. Do mesmo modo que o Adam do futuro conhece o gosto amargo do arrependimento que algumas ações do seu eu do passado vão gerar, o garoto é capaz de enxergar a origem de todo esse comportamento por estar mais perto dos eventos que vão gerar todas essas marcas.

E a trama trabalha muito bem essa troca. Mais do que ser a velha dinâmica do “o que você diria para o seu eu do passado”, o filme trata também sobre como esse olhar mais inocente e sem todas as cicatrizes da vida nos faz ver o mundo sem todos os escudos e armaduras que carregamos.

Ficção light

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Só que, para além da mensagem bonitinha, O Projeto Adam é uma aventura muito divertida. Toda a roupagem de ficção científica funciona muito bem, principalmente por abraçar todas as histórias que a antecederam e fazer graça em cima disso. É impossível falar de viagem no tempo sem brincar com De Volta para o Futuro e o roteiro sabe usar a referência muito bem tanto para fazer graça quanto para fazer a sua trama avançar.

E essas menções, que também incluem Star Wars e Exterminador do Futuro, vão além da simples citação. Assim como já tinha feito em Free Guy, o diretor Shawn Levy não tem vergonha de referenciar situações e passagens desses ícones do cinema tanto para fazer piada quanto para apresentar algo novo e trazer um novo olhar para algo que a gente já conhece.

Da ideia de voltar ao passado para impedir um futuro apocalíptico até à arma que nada mais é do que um sabre de luz estilizado, O Projeto Adam é essa grande colagem de estruturas e imagens que você já viu diversas outras vezes, mas muito bem aplicada de uma forma que traz um novo frescor.

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Pouco desenvolvimento

Da mesma forma que é possível perceber a assinatura de Levy nessa grande mistura de referências que ele faz para criar uma história leve e divertida, há também os seus vícios — o que inclui a falta de desenvolvimento de personagens. E é aí que está o grande problema de O Projeto Adam.

Não que alguém esperasse uma profundidade shakespeariana em um filme assim, mas é nítido o quanto nada é desenvolvido na trama. Com exceção do dilema em torno dos protagonistas — que é apresentado de forma bem explícita —, o longa não se preocupa em trazer mais densidade a nenhum outro ponto de seu roteiro.

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Isso fica muito claro na personagem de Zoe Saldaña. Ele é a esposa de Ryan Reynolds e a primeira pessoa a voltar ao passado para tentar impedir o colapso do futuro, mas algo dá errado e ela se perde no tempo. Pois ela aparece literalmente em um único momento de toda a história, sendo apresentada unicamente como a oficial habilidosa que luta muito bem.

Não há qualquer preocupação em ir além de mostrar que ela ama o herói e que seria capaz de se sacrificar pela missão. Ela é totalmente unidimensional e descartável, o que é um enorme desperdício de uma atriz tão carismática.

E parte disso está porque O Projeto Adam é um filme muito apressado. Todas as explicações e situações são jogadas sem uma grande preocupação em dar peso e profundidade para o que está sendo apresentado. Tanto que há algumas reações e relações que se tornam confusas justamente pela velocidade com que tudo muda.

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No começo do filme, por exemplo, temos o pequeno Adam sendo um adolescente rebelde com a mãe por sentir a falta do pai, quase como se a culpasse pela perda. Contudo, quando eles voltam no tempo e encontram o personagem de Mark Ruffalo, temos o Adam mais velho agindo de forma totalmente babaca com essa figura paterna — o que deixa o espectador sem entender ao certo o porquê dessa virada de personalidade tão repentina.

Toda essa pressa de O Projeto Adam faz com que o roteiro fale muito mais do que mostre. Os personagens dizem que sentem determinada dor, mas isso não é posto de forma prática, o que faz com que essas relações se tornem vazias e até mesmo confusas.

E é o tipo de coisa que um pouco mais de calma para desenvolver essas cenas já daria conta. Bastaria deixar um pouco de lado as piadinhas de Reynolds e as explosões para aprofundar um diálogo que tudo ficaria muito mais redondo.

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O bom e velho escapismo

Essa falta de desenvolvimento faz de O Projeto Adam um filme bastante simples, mas isso não é necessariamente um problema. Até porque ele não se propõe a ser um tratado sobre a humanidade e suas complexidades, mas justamente uma ficção científica familiar, daquelas em que você reúne filhos e sobrinhos para ver enquanto come um balde de pipoca.

Isso porque, no fim das contas, estamos falando da mesma simplicidade perdida que o personagem de Ryan Reynolds encontra no final da sua jornada. Como dito, ser adulto nem sempre é legal. Há toda uma carga e um peso que cansa carregar e, para lidar com esse fardo, essa inocência quase infantil se revela mais do que necessário — e que bom que filmes como O Projeto Adam estão ali para nos oferecer isso.

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O Projeto Adam pode ser assistido por todos os assinantes da Netflix.