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Valor do álcool em gel oscila mais do que bolsa de valores; entenda essas ações

Por| 20 de Março de 2020 às 16h22

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Reprodução/ Monash Health
Reprodução/ Monash Health

Já tentou buscar por álcool em gel ou máscara descartável no e-commerce de uma das grandes farmácias do país? Se você mora no Brasil, provavelmente sim. Acontece que na maioria desses canais de venda, esses materiais estão simplesmente indisponíveis e há apenas aquela conhecida mensagem de "Avise-me" para o dia em que chegarem. No entanto, os dois itens são indispensáveis para o combate à COVID-19.

Afinal o álcool em gel 70% é considerado um dos melhores métodos para a prevenção da COVID-19, ao lado de lavar as mãos com água e sabão por 20 segundos. Já as máscaras descartáveis são recomendadas para que os portadores do novo coronavírus (SARS-CoV-19) não transmitiam as cepas do vírus, evitando ou ao menos reduzindo o número de infecções.

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O problema é que a situação se repete também fora da internet. Durante uma visita do Canaltech a seis farmácias na Avenida Paulista, no centro da cidade de São Paulo, nenhuma delas tinha álcool em gel 70%, no estoque. Indo para a zona leste da cidade, na Vila Zelina, a situação também se repete, outras três drogarias não tinham o produto para venda. Em comum, os vendedores alegam que diariamente acontece a reposição, no entanto, o produto é rapidamente comercializado, em até uma hora.

Um dos últimos redutos para a compra dos itens têm sido os marketplaces, onde nem sempre é possível manter as práticas de comércio saudáveis, já que, em tese, cada fornecedor poderia cobrar o que quisesse. Em uma escalada sem precedentes da falta desses produtos, os valores atingiram quantias impraticáveis.

É o caso das 420 gramas de álcool em gel sendo vendidas por R$ 99,99 no Mercado Livre ainda na segunda-feira (16). Também há registro, da mesma plataforma, de R$ 1.650 por um pacote de luvas descartáveis com 50 unidades.

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Alta de preço maior que 300%

No começo dessa semana, os preços do álcool em gel e máscaras descartáveis estavam, de fato, inflacionados. A partir de pesquisa no comparador de preços Já Cotei, há aumentos de mais de 300%, como é o caso do frasco com 500 ml. Isso porque no 13 de março, o produto era vendido por R$ 17,90. Já no dia 16 do mesmo mês, seu valor chegou a R$ 85,49, em marketplaces, como o Submarino e as Americanas.

Outro produto que chama atenção é o da máscara respiratória N95, que de R$ 56,90 chegou a R$ 69,30 no mesmo período. Até mesmo o álcool em gel para limpeza sofreu com o aumento: custando em média seis reais, em novembro do ano passado, foi vendido a R$ 12,63 nas mesmas plataformas.

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Já o frasco menor, com 50g, foi inserido nesses espaços de venda pelo valor de R$ 20,00 e não oscilou. No entanto, como as inclusões e análises desses produtos, na maior parte, começaram no último dia 13, é provável que os primeiros valores tenham sido inseridos de forma inflacionada, ou seja, custariam muito menos. Uma teoria que se mostra verdadeira, quando se pesquisa por esses produtos no e-commerce da papelaria Kalunga, por exemplo, até a data da redação desta matéria. Afinal, o álcool em gel de bolso (50 ml), era comercializado por R$ 6,20, enquanto um quilo chegava a R$ 20,00.

O mais impressionante é que essa situação enfrentada pelos cidadãos comuns se repete também com os hospitais e clínicas que enfrentam escassez desses materiais e alta dos preços. Em pesquisa realizada pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), nesse mês, os intens com maior dificuldade de aquisição são: máscara N95 (70%); máscara cirúrgica (66%); luvas cirúrgicas (40%); álcool em gel (6%). Além disso, a associação apurou que o percentual médio de aumento de preços desses produtos é cerca de 500%.

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Operação Coronavírus

Atualmente, nenhum dos produtos comparados pelo Já Cotei estão à venda, isso porque as plataformas de compra estão sendo gradualmente fiscalizadas e há importantes canais para denúncias. E antes que se chegue ao argumento de que é somente a livre concorrência de mercado, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), é caracterizado como prática abusiva elevar, sem justa causa, o preço de produtos ou serviços e obter vantagem desproporcional.

Por isso mesmo, o Procon-SP, começou nesta semana a Operação Corona em farmácias e supermercados da capital. Assim, equipes de fiscalização estão comparando os valores praticados nos últimos três meses através da conferência de notas fiscais para verificar os aumentos. Além disso, o fabricante também será fiscalizado caso o revendedor afirme que está apenas repassando o reajuste. Caso a infração seja confirmada, o estabelecimento deve responder a processo administrativo e poderá ser multado em valores de até R$ 10.118.679,45.

No caso do Procon-SP, o usuário que identificar algum valor abusivo de produtos ou serviços relacionados ao coronavírus, pode registrar denúncia via app do órgão ou site, além de discar 151.

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Em outra inciativa para coibir abusos exclusivamente do mercado digital, a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), em parceria com a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), apresentaram a campanha Juntos Contra Ofertas Abusivas. Através do e-mail denuncias@camara-e.net, quem identificar preços abusivos nesses produtos, fundamentais para a prevenção do coronavírus, poderá fazer uma denúncia. Na mensagem, o assunto deverá ser o título da campanha e, em seu conteúdo, será preciso incluir o link da oferta e o valor considerado normal.

Agora, na iniciativa privada, também há medidas de controle dos preços abusivos, como as tomadas pelo Mercado Livre e Mercado Pago, que buscam reduzir em 100% as comissões para vendedores que trabalham com essas mercadorias, por exemplo. Além disso, a empresa anuncia que cancelará os anúncios que sofreram aumentos desproporcionais no último mês.

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Medidas governamentais

Mais inciativas para controlar a falta, pelo menos, de álcool em gel estão sendo pensadas para além da fiscalização. Isso porque, a partir de uma decisão do Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permitiu alteração nos protocolos de produção do álcool em gel. Essa medida deve aumentar significativamente a escala de produção do produto e, possivelmente, reduzir a demanda.

Já o governador do Estado de São Paulo, João Doria, anunciou um acordo com supermercados para que álcool em gel seja vendido, nesses estabelecimentos, a preço de custo em todo o estado. A venda com margem de lucro zero começa a partir de segunda-feira (23) e deve trazer uma redução no preço para todos os consumidores.

Para intensificar o abastecimento do álcool em gel, essa semana, a Ambev começa a produzir o produto e irá distribuir 500 mil garrafas em hospitais públicos municipais das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília — os locais onde se concentram a maioria dos casos da COVID-19 até agora. Para isso, a ideia é usar a linha de produção de uma fábrica da cervejaria, no estado do Rio.

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Todas essas medidas buscam barrar o avanço do novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 19 de março, foram contabilizados 621 casos confirmados da COVID-19 e seis óbitos no país. Enquanto isso, o mundo registra mais de 265 mil casos e mais de 11 mil mortes, segundo dados da Universidade Johns Hopkins.

Fonte: Com informações Procon (1) e (2), Governo de São Paulo e Agência Brasil