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Traumas podem causar TOC; como identificar e tratar?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Agosto de 2023 às 10h00

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Anton/Unsplash
Anton/Unsplash

Transtornos obsessivos compulsivos, conhecidos popularmente como TOC, podem nascer na infância e adolescência e persistir até a vida adulta, especialmente a partir de traumas sofridos. Um caso recente e emblemático é o de Maria da Graça Xuxa Meneghel, que revelou, na série documental Xuxa, o Documentário, tomar 4 banhos por dia e se esfregar até machucar a si mesma.

Para nos aprofundar no assunto e entender como o TOC se desenvolve e como pode ser tratado, conversamos com Wimer Bottura, psiquiatra e psicoterapeuta pelo IPq-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Segundo o profissional, há diversas explicações e motivos diferentes para o surgimento do TOC, então nenhum fator é completamente dominante na questão. Traumas de infância podem gerar a condição, mas não são a única causa, e em algumas instâncias, o tratamento e superação do trauma não são acompanhados pela cura do comportamento obsessivo.

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O psiquiatra também comenta que há fatores genéticos envolvidos. Quem tem histórico de TOC na família possui chances maiores de apresentar o transtorno (isto é, aliado a condições ambientais), que é mais prevalente em gêmeos univitelinos. Nestes últimos, há muitos mais casos do que em gêmeos bivitelinos ou na parcela não-gêmea da população. Cerca de 2 milhões de brasileiros sofrem com a condição, e 2,5% de toda a população mundial a apresentará em algum momento da vida.

Como traumas causam TOC?

Segundo Bottura, quase todas as pessoas já tiveram pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos em algum momento da vida — a questão é que eles não se tornam repetitivos na maioria das vezes. Muitas vezes, o transtorno começa como uma forma de evitar um problema, ou pelo menos que se acredite fazer evitar.

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Um exemplo da infância pode ser “se eu não bater na porta três vezes, minha mãe ficará doente”, uma atitude que atribui simbologia a algum ato. A compulsão do ato seria um gesto que evita um acontecimento ruim, uma proteção simbólica a si ou a outro. O diagnóstico ocorre quando a mania se torna obsessiva, gerando medo e ansiedade exacerbadas quando o ato não é completado.

Em alguns casos, a simbologia pode desaparecer e levar o TOC consigo, mas em outros, segue até a vida adulta. No caso de Xuxa Meneghel, o comportamento perdurou — e teve origem em traumas. Na adolescência e juventude, a apresentadora sofreu diversos abusos, e, em seu documentário, relata que pensar no assunto a leva a se perguntar o porquê de suas irmãs não terem passado pelo menos.

Sua mente acaba lhe convencendo de que a culpa seria de algum comportamento ou atitude diferente, como se sentar de alguma maneira específica, botando a culpa em si mesma. Ao se sentir “suja”, ela sente a compulsão de tomar muitos banhos e se esfregar demais com a esponja, o que a levou a ter uma infecção urinária crônica desde os 9 anos, se machucando intimamente com a limpeza excessiva.

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Segundo Bottura, o TOC tem essa característica invasiva, tornando alguns aspectos da vida muito difíceis. A depender do que o comportamento causa, a criança pode até não conseguir frequentar a escola, ou, na vida adulta, não conseguir trabalhar, em alguns casos até incapacitando o indivíduo para a vida social. Quando a atitude compulsiva passa a tomar uma hora ou mais da vida do sujeito, é aí que a patologia pode ser definida.

Quando o transtorno é passageiro, ele não gera grandes problemas, mas a persistência o caracteriza como doença — quando passa a impactar na vida do paciente. Um exemplo é quando a pessoa passa a lavar excessivamente o corpo ou a casa, ou organiza demais os móveis ou mesmo checa a porta diversas vezes, gerando atrasos, impactando negativamente a vida.

A frequência e a gravidade dos sintomas é o que define a instalação do transtorno. A atribuição dos sintomas ao TOC não pode ser feita quando é resultado do efeito de uso de substâncias, como drogas ilícitas ou medicamentos que causem dependência. Quando obsessões e/ou compulsões são resultado de condições neurológicas, o diagnóstico também não é de TOC.

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Como tratar o TOC?

Tratamentos voltados ao TOC, atualmente, utilizam medicamentos antidepressivos, funcionando razoavelmente bem, segundo Bottura. Eles são combinados com psicoterapia, que pode ser a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajuda a mitigar os sintomas, e terapias mais profundas, que buscam o simbolismo por trás do transtorno e podem até levar à cura — geralmente, descobrir o motivo da repetição (como a proteção a um ente querido) resolve o problema, mas apenas em uma minoria dos casos.

É difícil chegar à cura completa, com índices bem menores do que ansiedade e depressão, por exemplo. A dificuldade em vasculhar o subconsciente e encontrar a origem do comportamento impede, muitas vezes, que seja possível fazer algo além de aliviar os sintomas. E os sintomas podem variar, passando por insônia ou doenças dermatológicas por conta de repetição de ações, como na infecção de Xuxa Meneghel.

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Segundo Bottura, a associação dos remédios com psicoterapia aumenta muito as chances do tratamento ser bem-sucedido. Segundo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o uso unicamente dos medicamentos leva à cura completa dos sintomas em apenas 20% dos pacientes, com a maioria ainda apresentando sintomas residuais e até 90% tendo recaídas nos quatro meses seguintes à interrupção do uso.

Fonte: UFRGS