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Robôs cirurgiões já são realidade no Brasil e nós te contamos tudo sobre eles

Por| Editado por Luciana Zaramela | 30 de Agosto de 2021 às 08h30

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CRM Surgical
CRM Surgical

Com a pandemia da COVID-19, muitas cirurgias foram adiadas no ano de 2020, já que a infraestrutura dos hospitais estava voltada para o atendimento, quase exclusivo, de pacientes com o coronavírus SARS-CoV-2. Mesmo nesse cenário, o Brasil registrou mais de 14 mil cirurgias feitas com o auxílio de robôs. O número ainda é baixo perto do total de operações feitas por brasileiros, mas é um indicativo positivo de crescimento no setor. Para 2021, o número total deve ser ainda maior.

Hospitais, clínicas e startups já investem na importação de novas tecnologias para o Brasil. É o caso da startup britânica CRM Surgical, que trouxe a plataforma robótica Versius para o país e, por enquanto, o único robô do tipo está instalado no hospital da Rede D'Or São Luiz - Itaim, em São Paulo. Fora do Brasil, o Versius realizou mais de mil intervenções clínicas e é conhecido por auxiliar em operações de diversas especialidades, como gastrointestinais, ginecológicas e urológicas, por exemplo.

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Para entender as perspectivas das cirurgias robóticas no Brasil e a possibilidades que os novos robôs podem trazer para a medicina brasileira, o Canaltech conversou com o Dr. Thiers Soares, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica do Capítulo do Rio de Janeiro (SOBRACIL-RJ).

Quais as cirurgias robóticas mais feitas no Brasil?

"A tendência é que, a cada dia que passa, o robô seja incorporado à prática clínica, e se torne um grande padrão de procedimentos para o futuro", aposta Soares sobre as operações robóticas. De forma geral, essas plataformas robóticas já proporcionam melhor acesso a diversas estruturas do corpo humano, maior amplitude de movimentos, maior visão da área a ser tratada e a redução da perda de sangue, do tempo de cirurgia, do desconforto no pós-operatório e do risco de infecção. Por isso, o entusiamo é tanto pela popularização desse padrão.

Hoje, as especialidades de urologia e ginecologia lideram o ranking de cirurgias mais realizadas com este tipo de procedimento no país. Em especial, "a prostatectomia [cirurgia de retirada total ou parcial da próstata] tem, realmente, um número bem alto de procedimentos. Outras especialidades que vêm crescendo muito são as bariátricas, e os tratamentos de hérnia", comenta o especialista.

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Cirurgia a distância já é realidade? E os valores?

Talvez, um dos grandes fascínios pelas cirurgias robóticas seja a ideia de um cirurgião operar com a distância de um continente do paciente. Tecnicamente, essa possibilidade é muito mais limitada pela questão da conexão com a internet do que pela tecnologia disponível nos equipamentos.

"Ainda não temos uma conexão que seja segura o suficiente para que os cirurgiões possam operar um paciente a distância. Esse tipo de procedimento já foi realizado, mas em circunstâncias de testes, com uma conexão dedicada exclusivamente para esta ação, a um custo altíssimo", explica Soares sobre a falta de viabilidade comercial. Por outro lado, "espera-se que a evolução do 5G torne isso cada vez mais próximo da realidade".

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Quanto aos valores de um procedimento com auxílio robótico, eles são bastante variados. "No geral, para utilizar essas plataformas, os hospitais acabam cobrando uma taxa. Em uma situação cirúrgica, por exemplo, o paciente deverá pagar a taxa de utilização do equipamento e a da equipe cirúrgica. Desta forma, cada hospital estabelece o valor da sua taxa e da sua equipe de acordo com os custos e critérios de cada tipo de cirurgia", explica.

Robô Versius

De origem britânica, a plataforma Versius é capaz de realizar cirurgias minimamente invasivas e, por isso, pode proporcionar uma recuperação mais rápida para o paciente. "A plataforma robótica pode ajudar na área da ginecologia [endometriose, miomectomias, retirada de útero], mas também em, praticamente, todos os procedimentos que podemos usar pela via minimamente invasiva", explica Soares.

Dessa forma, o robô poderá ser um aliado em cirurgias gerais, bariátricas e urológicas, por exemplo. Mas, por enquanto, a plataforma ainda aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser utilizada em cirurgias eletivas no país.

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Braços individuais e controle por "joystick"

O equipamento traz boas facilidades para os cirurgiões, como os braços separados da plataforma e que podem operar de forma individual. "Uma grande vantagem da plataforma é o desmembramento dos braços, quando eles trabalham de forma individual", comenta Soares. Por exemplo, o cirurgião pode usar pinças laparoscópicas — uma pinça com microcâmera integrada que permite a visualização do interior a região que deve ser operada — e, em paralelo, um segundo braço pode realizar outros procedimentos específicos.

"Além disso, também é possível acoplar este braço ou mesmo mais braços para tornar a cirurgia mais dinâmica e assim trazer maior mobilidade e rapidez para o processo. O robô também lembra um videogame, onde você olha para tela e mexe com a mão, mantendo o contato visual a partir da tela. Até a manopla do Versius lembra um joystick", explica.

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Vale ressaltar que o conhecimento de Soares sobre o equipamento é anterior ao desembarque dele no Brasil. Isso porque o especialista teve a oportunidade de testar o Versius ainda em 2019, durante o lançamento do robô em um congresso na Bulgária.

Robô Da Vinci

Desenvolvida por cientistas norte-americanos, o robô Da Vinci é uma plataforma robótica mais disseminada no Brasil. Isso porque a tecnologia — que foi criada quase nos anos 2000 — está presente no país desde 2008. Atualmente, existem pouco mais de 80 plataformas do robô disponíveis para o uso nacional, incluindo as 10 plataformas da Rede D'Or São Luiz.

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Esta plataforma tem a aparência que lembra um "polvo" e possuí três braços para os instrumentos cirúrgicos e um quarto para visualizar os órgãos do paciente, sendo um pouco mais "engessada". Nesse caso, o cirurgião encaixa a face no visor do robô e manuseia o aparelho todo pelos controles do console. Durante a cirurgia, é possível obter uma visão 3D dos órgãos e, com os braços, o robô amplia a atuação médica com mais mobilidade durante o procedimento.

Inclusive, o Canaltech já conversou com o responsável pela primeira cirurgia robótica para controle do diabetes tipo 2 feita no Brasil com o uso deste equipamento.

Futuro dos robôs na medicina

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"Nos próximos 20 anos, a robótica será incorporada cada vez mais no dia a dia dos hospitais. Os números dos procedimentos crescem exponencialmente e com a chegada de variados tipos de plataforma, o custo para a população cai, e desta forma, abrange ainda mais o acesso a essa tecnologia para ajudar a salvar vidas", acredita o especialista Soares.

Inclusive, hospitais brasileiros já buscam políticas para facilitar o acesso dos pacientes a este tipo de procedimento. "Em até 30 anos, será muito mais comum falar de cirurgia robótica e essa informação estará presente no dia a dia dos pacientes e dos consultórios médicos", completa. Inclusive, os equipamentos, muito provavelmente, chegarão também ao Sistema Único de Saúde (SUS).