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Remédio para TDAH pode gerar psicose — calma, não é a Ritalina

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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vladans/envato
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Para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), médicos psiquiatras contam com algumas alternativas farmacêuticas. No Brasil, a Ritalina (metilfenidato) está entre as medicações mais conhecidas. Nos EUA, é comum a prescrição do Adderall (dextroanfetamina/anfetamina), que começa a ser associado ao risco de psicose e mania.

Em estudo publicado na revista American Journal of Psychiatry, os autores descobriram que, ao tomar altas doses de Adderall, o paciente com TDAH tem o risco de desenvolver psicose ou mania aumentado em cinco vezes.

Esta é a conclusão compartilhada por um grupo de pesquisadores do Hospital McLean, especializado na área de psiquiatria, que revisou dados médicos de pacientes de 16 a 35 anos, entre 2005 e 2019.

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Embora a equipe tenha descoberto um novo efeito colateral do Adderall, a Ritalina demonstrou ser segura em relação à psicose. Enquanto isso, os remédios Venvanse (lisdexanfetamina) e Atentah (atomoxetina), também usados para TDAH, não foram avaliados. 

Em comum, todas essas quatro possíveis medicações para o TDAH são conhecidas como estimulantes, já que permitem que o paciente melhore a sua capacidade de prestar atenção, mantendo o foco. No caso brasileiro, o Adderall não pode ser prescrito, já que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não autoriza o seu uso devido ao risco de vício junto a outros compostos com anfetamina.

Remédio para TDAH associado à psicose

No estudo, os pesquisadores norte-americanos analisaram como o uso de anfetaminas para o TDAH implica em um provável quadro de psicose. Este risco é maior para os pacientes que tomaram 30 miligramas ou mais de dextroanfetamina (o que corresponde a 40 mg de Adderall).

"Nossos resultados mostram que a dose é um fator no risco de psicose e deve ser uma consideração importante ao prescrever estimulantes”, afirma Lauren Moran, principal autora do estudo, em nota.

"Altas doses de anfetaminas (maior que 30 mg de equivalentes de dextroanfetamina) foram associadas a chances 5,28 vezes maiores de psicose ou mania”, pontuam os autores. “Este é um efeito colateral raro, mas sério”, destaca Moran.

E a Ritalina?

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De forma contrária, o uso de Ritalina não foi relacionado ao risco aumentado e significativo de psicose. "O uso de metilfenidato no mês anterior não foi associado chances elevadas de psicose ou mania”, afirmam os pesquisadores.

Venvanse e Atentah

Não foram avaliados os riscos dos medicamentos Venvanse (lisdexanfetamina) e Atentah (Cloridrato de Atomoxetina) no estudo. Vale destacar que o Venvanse usa como princípio ativo um derivado da anfetamina, mas que é permitido pela Anvisa no Brasil, a lisdexanfetamina. Em uma análise comparativa publicada neste ano por pesquisadores Brasileiros, é necessário que o médico psiquiatra analise quadro a quadro e prescreva a dosagem correta. Nenhum medicamento estimulante do sistema nervoso central deve ser usado deliberadamente, sem conhecimento médico.

Segundo Anita Brito, doutora em neurociências da USP e pós-doutoranda em neurobiologia do TEA, os medicamentos possuem "diferenças na estrutura química e no mecanismo de ação que diferenciam no efeito terapêutico".

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"Enquanto a Ritalina apenas bloqueia a recaptação de noradrenalina e dopamina, o Venvanse além de ter esse mecanismo, ainda consegue entrar pelos transportadores, ocupar as vesículas e induzir a exocitose de mais neurotransmissores, aumentando ainda mais a ofertas deles nas sinapses", explica a especialista.

Já o Atentah bloqueia apenas a recaptação de noradrenalina, sem ter influência direta na dopamina. "O bloqueio da recaptação de noradrenalina induz à liberação de dopamina, especificamente no córtex pré-frontal, que está relacionado a foco e atenção, sem mexer em outras vias dopaminérgicas. Isso reduz o risco de dependência, mas não consegue atingir todo o potencial terapêutico dos outros psicoestimulantes", explica.

Riscos do Adderall para TDAH

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Para além do risco de psicose, o remédio Adderall já é conhecido por outros efeitos colaterais, o que inclui ansiedade, secura na boca, dores de cabeça, desinteresse sexual, problemas de ereção ou mesmo convulsões

Ainda há a questão do vício que pode ser gerado pelo uso abusivo de anfetaminas. Por isso, onde a medicação é legalizada, é preciso usar com acompanhamento médico e respeitar a quantidade da prescrição.

Fonte:  American Journal of Psychiatry, Hospital McLean, Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences