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Realidade Mista | Cirurgião brasileiro opera com HoloLens 2, da Microsoft

Por| Editado por Douglas Ciriaco | 01 de Março de 2021 às 15h00

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Reprodução/ Microsoft
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Nos últimos 10 anos, a tecnologia aplicada à medicina tem permitido um ganho, de difícil mensuração, nos conhecimentos da biologia do corpo humano. Em parte, esses novos saberes só foram adquiridos a partir da superação técnica do humano, como imagens em alta resolução que revelam o movimento do DNA no núcleo das células ou ainda uma Inteligência Artificial (IA) capaz de solucionar um enigma do coração apontado há 500 anos por Leonardo da Vinci.

Estes são só alguns exemplos da mudança no campo de pesquisa de cientistas e médicos, mas a inovação também modifica a medicina, na prática, como dentro das salas de cirurgia, a partir da Realidade Aumenta (MA) e Mista (RM). Nessa nova sala de cirurgia, o mundo real e o virtual se fundem e cirurgiões já podem sobrepor algumas visualizações digitais e hologramas projetados em tempo real, como exames de imagem, no corpo do paciente, enquanto conversam com um especialista do outro lado do mundo.

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Para entender quais recursos já estão disponíveis em uma sala de cirurgia — e de fato podem ser úteis para os profissionais —, o Canaltech acompanhou, de forma remota, uma artroscopia, realizada pelo Dr. Bruno Gobbato, cirurgião ortopédico e especialista em cirurgias de ombros e cotovelos, no Hospital Jaraguá, em Santa Catarina. A operação integrou as atividades do 24-hour Holographic Surgery, evento internacional organizado pela Microsoft para demonstrar o potencial da RM na medicina.

Na ocasião, o médico vestia óculos inteligentes de RM desenvolvidos e fabricados pela Microsoft, o HoloLens 2, e estava na companhia virtual de dois especialistas: John Erickson, cirurgião ortopédico no Hospital Overlook, nos EUA; e Thomas Gregory, cirurgião do Hospital Universitário Avicenne AP-HP, na França.

Cirurgias com Realidade Mista

De modo geral, cirurgias ortopédicas já podem se beneficiar com equipamentos de RM, como cirurgias de próteses ou ainda procedimentos mais simples, como a artroscopia, realizada pelo Dr. Gobbato no evento. Neste caso, o paciente sofrera um acidente de bicicleta, onde quebrou a clavícula e, para a fixação do osso, foi instalada uma placa. Depois de algumas semanas de uso para o osso se restabelecer, o paciente voltou para a sala de cirurgia, dessa vez, para a remoção da placa estabilizadora.

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Na ocasião, Gobbato vestia os HoloLens 2 e, dessa forma, pode conferir os exames de imagem projetados no corpo do paciente, como um raio-x. Depois de verificar as condições do local, desligou os óculos e removeu, de forma simplificada, a placa a partir da artroscopia de ombro. Vale explicar que a artroscopia é um procedimento cirúrgico feito para avaliar a situação de lesões que ocorrem dentro das articulações, de forma similar a uma endoscopia, isto é, um procedimento minimamente invasivo.

Há cerca de quatro anos, Gobbato já adota óculos de RM em suas cirurgias. "Na verdade, usamos a tecnologia de realidade aumentada desde o seu lançamento, em 2016, com o HoloLens 1", conta o médico que é também um entusiasta da tecnologia em conversa exclusiva. Naquele ano, o sócio do cirurgião, o Dr. Henrique Lampert comprou, no eBay, uma versão de desenvolvedor e viajou até os Estados Unidos para buscar. "Com ele, fizemos algumas cirurgias de coluna e de próteses de ombro", comenta.

"O primeiro procedimento foi uma sequela de uma fratura de clavícula. Este era um paciente norte-americano que já havia se submetido a sete procedimentos prévios", detalha o caso. "Fizemos algumas postagens no LinkedIn sobre as possibilidades e este senhor pegou um avião e veio para o interior de Santa Catarina se submeter a esta cirurgia", explica Gobbato sobre a cirurgia feita em janeiro de 2017.

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Na época, "fizemos a transmissão ao vivo para a família nos Estados Unidos com o HoloLens 1. Foi uma cirurgia diferente, e isso me marcou. Felizmente ocorreu perfeitamente. Ainda mantenho contato com este 'corajoso' paciente", afirma o cirurgião.

"Com a chegada do Hololens 2 [usado durante a artroscopia], sentimos uma melhora significativa na 'tracking', mas, principalmente, na portabilidade do device. Temos realizado cirurgias principalmente de próteses e correções de deformidades, que são cirurgias que demandam uma precisão maior. Mas o potencial é ilimitado" aposta Gobbato. De acordo com o especialista, "as cirurgias de alta precisão, como a neurocirurgia, é outro campo muito interessante para a realidade mista".

Como usar o HoloLens na sala de cirurgia?

No procedimento que acompanhamos, um pool de informações sobre o paciente, literalmente, salta na frente do cirurgião, o que poderia atrapalhar ou incomodar a percepção. "Não utilizamos o device durante todo o procedimento. Ele se faz mais necessário em momentos críticos. A primeira versão do HoloLens não permitia levantar o visor, mas com o HoloLens 2, você consegue levantar o visor nos momentos que você não precisa dele", explica o médico sobre o uso controlado dos óculos.

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"A principal vantagem é o controle por gestos e voz. Portanto, não precisamos tocar em nada para ter acesso a qualquer dado do paciente. Mas, é muito mais que ter o exame em mãos. É transformar aqueles exames que são tecnologias 2D em um planejamento 3D. É um paralelo como se ver duas fotos e tentar imaginar um filme, ao ver realmente este filme na sua frente", comenta sobre a usabilidade da realidade mista durante os procedimentos.

Inclusive, o cirurgião Gobbato explica que a conversa entre os outros médicos, de fato, aconteceu durante o procedimento de artroscopia. "Colocamos virtualmente os dois colegas como quadros na parede. Eles tinham o meu ponto de vista (FPV) e visualizavam todos os modelos 3D em tempo real. Isto abre para cirurgias realizadas com auxílio remoto", afirma. Em outras palavras, é um dos primeiros passos para uma operação com uma junta médica remota.

Potencial da RA nas cirurgias

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Embora a RA já permita alguns procedimentos e auxilie médicos na hora da tomada de decisões, o alcance ainda é restrito. "Acredito que a realidade mista será como o smartphone. Ainda não desvendamos o real uso dela. Começamos com o smartphone para acessar a internet e mandar mensagem, hoje é um computador pessoal. Os óculos de realidade mista já são computadores rodando Windows 10. Só precisamos explorar mais ainda seu potencial. E isto virá com o uso de Machine Learning", reflete o cirurgião.

"Podemos traçar um paralelo com a aviação. Fazer uma cirurgia é como pousar um avião apenas usando as referências visuais, conhecimento do piloto do terreno, condições meteorológicas; mas, se algo mudar, podemos ter problemas", ilustra Gobbato sobre a atuação pré-tecnologia. Agora, é possível uma "pilotagem por instrumentos" através da realidade aumentada.

"Você pode contar com instrumentos para ajudar a direcioná-lo no melhor caminho e, também, evitar locais indesejados, exatamente como pilotar um avião com mau tempo. Hoje, é possível pousar um 737 em Congonhas sem sequer ver a pista. Num futuro próximo faremos o mesmo nas cirurgias. Este é o primeiro momento da virada deste paradigma em algumas cirurgias", aponta o cirurgião para o futuro a partir do paralelo entre o avião e uma sala de cirurgia.

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Nesse tempo relativamente próximo, as tecnologias de realidade aumentada e telemedicina devem se fundir ainda mais. "O próximo passo é inserir a cirurgia robótica. Já estamos testando um braço robótico impresso em 3D", prevê o cirurgião ortopedista.