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Saúde 5.0: ainda falta muito para a telemedicina alcançar todo o seu potencial

Por| 14 de Outubro de 2020 às 18h00

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Javier Matheu/ Unsplash
Javier Matheu/ Unsplash

Não é segredo que a vida humana tem melhorado cada vez mais, graças ao salto tecnológico que a área médica deu nos últimos anos. Com a Saúde 5.0, os benefícios do avanço tecnológico já são e serão ainda maiores. Afinal, diferentes sistemas operacionais e wearables estão conectados e permitem o monitoramento de pacientes, em tempo real. Telemedicina, Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas na Medicina (IoMT) fornecem dados que médicos e enfermeiros nunca tiveram (ou sonharam) de seus pacientes, mas o quanto disso já é realidade?

Com tantas novas possibilidades, é preciso diferenciar o que, de fato, faz parte da área médica — no Brasil e no mundo — e o que está em processo de desenvolvimento dentro da medicina. Para entender as questões que envolvem a telemedicina, com foco na teleconsulta, o Canaltech acompanhou painel da segunda edição da Global Summit Telemedicine & Digital Health, que discutiu o tema.

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Com atividades até sexta-feira (16), o evento digital é organizado pela Associação Paulista de Medicina (APM) em conjunto com o Transamerica Expo Center (TEC) e discute os rumos da área médica para os próximos anos. Na ocasião, estavam presentes João Galdino, CEO e co-fundador da Genesis, e Marco Stefanini, CEO Global da Stefanini, mediados por Paulo Henrique Fraccaro, superintendente ABIMO.

Telemedicina e a pandemia da COVID-19  

Somente com a pandemia da COVID-19, a telemedicina foi aprovada no Brasil. A manobra foi realizada, em caráter temporário, pelo Ministério da Saúde, em março deste ano, e pela Lei 13.989, em abril. Em outras palavras, a trajetória desse modelo ainda é muito recente no país e há muito espaço para avançar, principalmente, na democratização do acesso à saúde e em economia de recursos. No entanto, esse nem de longe é um caminho simples — e exigirá adaptações.

“Um dos grandes benefícios da pandemia é a telemedicina e isso é inegável. Só que um médico praticar telemedicina sem acessar seu prontuário ou seus dados é um risco. É esse risco que a gente [da área de tecnologia] tem que mitigar e buscar uma solução para o médico se sentir confortável em tratar o paciente", pontua João Galdino, CEO da Genesis e professor de IA na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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"Uma coisa é eu analisar o João Galdino com base no que o João fala. Outra coisa são os sinais vitais do João. O João, aqui, não é cardiologista, como eu vou saber se meu batimento está irregular?", questiona Galdino sobre um dos entraves do atendimento 100% virtual. Análises como essas demandam a avaliação de um médico que pode ser feita de forma remota, desde que haja equipamentos disponíveis e, até mesmo, informações de um smartwatch em algumas circunstâncias.

Essa é uma situação hipotética, mas não está distante dos desafios da telemedicina, como encontrar formas viáveis de monitorar os sinais de um paciente. “O hospital é um ambiente muito analógico, quando falávamos de telemedicina há dois anos, isso era um tabu até, dependendo da instituição, porque a instituição não tem nem uma rede estruturada para comportar a rede interna do hospital e, quem dirá, um ambiente de teleconferência", comenta o professor de IA. Em oposição a esse cenário, salas inteligentes, robôs cirurgiões, teleconferências também são realidade.

Utopia: conexão total entre o médico e a rotina do paciente

Esse desafio é brasileiro, mas se estende de forma global. Por exemplo, o Vale do Silício já se movimenta, através de grandes players — como a Microsoft, do Google, da Amazon e da Apple —, para criar um ecossistema de saúde unificado. Afinal, a medicina preventiva aplicada em larga escala pode ser um enorme benefício para a sociedade. Também se sabe que prever uma doença crônica é muito mais caro que tratar, mas para isso são necessárias grandes análises de dados.

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“Um tratamento médico de um diabético [com insulina] está em torno de 500 a 800 até 1.500 reais por mês. É muito mais barato se eu monitorar e tratar esse cara antes de ele se tornar diabético. Esse é um dos pontos em que falamos que a transformação digital vem muito forte", exemplifica Galdino. “Hoje, comumente, o IOMT está sendo aplicado em pulseiras inteligentes e há monitoramento através de dispositivos, como monitoramento de sono, frequência cardíaca, entre outros", lembra Galdino.

Entretanto, de forma descentralizada, esses dados não ajudam médicos a prever processos. “Se eu tivesse um smartwatch, monitorando minha frequência cardíaca, minha pressão ou qualquer outra grandeza e isso ir direto para o meu médico, para o meu plano de saúde. Ele poderia recomendar que eu andasse mais, que eu mudasse minha alimentação, que eu tratasse meu sono", reflete o professor sobre a possibilidade desse monitoramento prever processos, além de ajudar no diagnóstico de uma consulta.

“Obviamente que, quando falamos de estatísticas, nós não vamos tratar 100% da massa, mas se eu tratar 50 a 80% da massa de dados que estamos coletando das pessoas, já conseguimos uma economia estratosférica para o nosso universo", adianta Galdino sobre essas novas ferramentas para a área médica. Para explicar, seria como levar o monitoramento de uma UTI para o pulso da pessoa, onde ela será monitorada no dia a dia e a longo da vida.

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Para democratizar o acesso à saúde a partir dessas tecnologias, wearables também devem se tornar mais populares e só assim facilitarão o acompanhamento médico em áreas de pouco acesso. Isso não é um detalhe, porque os centros urbanos e pessoas com maior poder aquisitivo já contam com algum acompanhamento médico, provavelmente, de melhor qualidade.

Foco no compartilhamento de dados

“Na ponta do iceberg, esses dados estão sendo monitorados, mas eu tenho um plano de saúde X que não recebe essa informação. Essa informação fica, simplesmente, no meu celular de forma inútil, porque eu vou consultar ela e não meu médico. Um dos grandes desafios é interconectar", aponta Galdino. Nesse sentido, o prontuário também deve ser revisto e precisa ser mais que a transição apenas das informações do papel para o modelo virtual, incluindo esses novos dados.

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“Todo mundo fala de interoperabilidade, mas, na prática, a gente sabe que isso ainda é um pouco utópico. Principalmente, em conectar um equipamento da marca X com um sistema da marca Y com aplicativo da marca Z", comenta, sobre a dificuldade imposta pela interoperabilidade que deve ser resolvida nos próximos cinco anos.

Depois que tecnologia superar esse desafio entre a coleta e possibilidade da análise desses dados, uma nova investigação será necessária. A questão é se as novas informações coletadas do paciente, principalmente a da sua rotina, trarão um benefício real para a medicina ou se demandam muito mias trabalho para o que fornecem. Galdino também faz uma ressalva importante quanto ao compartilhamento e coleta de dados, a segurança da rede hospitalar. Afinal, essas informações médicas de pacientes podem valer uma pequena fortuna na dark web.

Menos conservadorismo na medicina?

Mesmo que a pandemia da COVID-19 tenha acelerado a migração da medicina para operações virtuais, esse caminho ainda não está construído e muitas soluções ainda são necessárias, dependendo da demanda da telemedicina. “A tendência do setor, é um setor mais conservador, altamente regulado, porque, obviamente, visa preservar vidas. Dentro desse contexto, cabe, sim, acelerarmos as oportunidades. Vejo a telemedicina como uma grande oportunidade não apenas para reduzir custo, mas para democratizar a saúde de qualidade no Brasil", afirma Marco Stefanini...

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Uma das possíveis soluções para acelerar os processos na telemedicina é testes de formatos e um pouco de experimentalismo para o setor. “No conceito de transformação digital, tem o que chamamos de um piloto ou até mesmo de um MVP", comenta Stefanini. Por MVP, entende-se um projeto de alcance restrito, onde testes acontecem e os desenvolvedores e envolvidos analisam o que pode ser melhorado e de que forma.

"Vamos ser honestos: você fazer uma cirurgia a distância é uma coisa, você fazer uma consulta a distância vai anos-luz de distância", lembra o CEO sobre a dificuldade em buscar inovação. Nesse sentido, alguns modelos de teleconsulta já são viáveis, enquanto algumas operações, principalmente, as mais delicadas, precisam ser melhores investigadas. Provavelmente, em alguns anos, esse panorama será totalmente outro, tanto nas possibilidades quanto nas soluções.