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Infectologista tira as principais dúvidas sobre a CoronaVac

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Daniel Schludi/Unsplash
Daniel Schludi/Unsplash

A campanha de vacinação contra a COVID-19 começou em todo o país no último dia 18. Na ocasião, o anúncio foi feito pelo ministro da saúde Eduardo Pazuello, em evento que marcou o início da distribuição das doses da CoronaVac. Com isso, muitas questões vieram à tona a respeito da vacina em questão, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.

Abrindo um panorama geral sobre a vacina em questão, podemos observar que foi no início de dezembro de 2020 que a Sinovac Biotech anunciou o recebimento de US$ 515 milhões (o equivalente a R$ 2,6 bilhões) em financiamento para dobrar a capacidade de produção da sua vacina contra a COVID-19. Basicamente, o dinheiro veio de uma empresa local chamada Sino Biopharmaceutical Limited, e será usado para ajudar no desenvolvimento das doses e da produção em massa.

Conforme os estudos começaram a avançar, uma análise chinesa se concentrou em apontar os efeitos colaterais do imunizante. O trabalho apontou tai efeitos em apenas 5,36% dos participantes do ensaio, todos sem gravidade: dor no local da aplicação (3,08%), fadiga (1,53%) e febre leve (0,21%). O restante envolveu perda de apetite, dor de cabeça e febre. Vale ressaltar que o imunizante ainda registrou uma taxa de eficácia de 78% contra casos leves em um estudo brasileiro com cerca de 13 mil voluntários, segundo as autoridades de saúde responsáveis pela pesquisa. Para casos moderados e graves, o imunizante registrou eficácia de 100%. A eficácia geral, anunciada pelo Butantan, é de 50,38%.

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Em relação ao Brasil, a vacina produzida pela China foi testada desde o mês de julho, e os estudos clínicos nacionais de fase 3 foram acompanhados por 12 centros de pesquisa científica em cinco estados e no Distrito Federal. Em novembro, o governador João Doria (PSDB) anunciou que até dia 30 de dezembro chegaria a um total de 6 milhões de doses do imunizante. Em 3 de dezembro, chegaram na capital 600 litros a granel, o equivalente a um material usado na produção de 1 milhão de doses. No fim do ano passado, um novo lote de 2 milhões de doses prontas chegou à capital paulista.

Quanto à vacinação propriamente dita, a princípio são 4,63 milhões de doses distribuídas aos estados, que são os responsáveis pela divisão e distribuição aos municípios. Mais 1,3 milhão de vacinas ficam em São Paulo, para a campanha de imunização do estado, totalizando as seis milhões de unidades que foram acordadas entre o governo federal e o Instituto Butantan. Entretanto, a expectativa é que outras 2,9 milhões de doses da CoronaVac devem ser disponibilizadas ao governo federal até o final do mês de janeiro.

E justamente para entender tudo a respeito da CoronaVac, agora que a vacina é uma realidade, a equipe do Canaltech fez algumas perguntas para o Dr. Bernardo Almeida, médico infectologista e Chief Medical Officer do laboratório de análises clínicas Hilab.

CANALTECH: Do que é feita a CoronaVac, exatamente? Como ela funciona?

Bernardo Almeida: É uma vacina para SARS-CoV-2 constituída por vírus inativado. É uma metodologia bastante consolidada para outras doenças como a poliomielite e a influenza. O vírus composto na vacina é incapaz de gerar infecção, pois está morto. Porém, é capaz de gerar resposta imune semelhante à infecção, gerando proteção ao indivíduo quando houver exposição futura ao vírus. 

CT: Quais as contraindicações da vacina CoronaVac?

BA: Alergia a qualquer um dos componentes desta vacina ou pacientes com febre, doença aguda e início agudo de doenças crônicas.  Os excipientes da vacina incluem hidróxido de alumínio, hidrogenofosfato dissódico, di-hidrogenofosfato de sódio, cloreto de sódio. São componentes também presentes em outras vacinas. 

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CT: Os componentes da vacina causam algum problema para quem é alérgico?

BA: Sim. Por isso é importante conferir os componentes antes. Somente as alergias graves contra-indicam a vacina. Felizmente, é algo raro. 

CT: Quais as recomendações para quem já possui uma doença pré existente?

BA: Conferir se faz parte dos grupos prioritários e em que etapa está planejada a vacinação. 

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CT: Quais são as condições que fazem com que a pessoa não possa tomar a vacina? Nesse caso, as pessoas tomando a vacina estariam ajudando essas pessoas de alguma maneira?

BA: Alergias graves contra-indicam a vacinação. Outras condições devem ser discutidas individualmente como gestação e imunossupressão. Quanto mais pessoas forem vacinadas, mais rapidamente será atingida a imunidade coletiva (ou imunidade de rebanho). Desta forma, mesmo uma pessoa não vacinada estará protegida, dada a dificuldade do vírus em circular nesta população.

CT: Por que a vacina exige duas doses?

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BA: A segunda dose é capaz de amplificar a resposta imune, aumentando a eficácia da vacinação. Além disso, provavelmente aumenta o prazo de imunidade ao longo do tempo. 

CT: Como será a segunda dose da vacina?

BA: Se for seguido o protocolo utilizado nos estudos clínicos, poderá ser realizada entre 14 e 21 dias após a primeira. Discute-se a possibilidade de prorrogar a segunda dose, prezando pelo benefício de uma dose única para uma proporção maior da população em um primeiro momento. Essa conduta tem sido utilizada em outros países com outras vacinas. 

CT: O que acontece se a pessoa tomar apenas a primeira dose?

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BA: Uma dose confere uma proteção inicial, porém menor que a encontrada nos estudos clínicos. A segunda dose deve ser prorrogada somente sob orientação do Programa Nacional de Imunização, caso considere essa estratégia benéfica para a saúde pública. 

CT: Gestantes podem ser vacinadas?

BA: Podem. Porém, essa decisão deve ser compartilhada entre o médico e a gestante, já que esse grupo não foi testado nos estudos clínicos. Outras vacinas inativadas são usadas de rotina durante a gravidez, como o exemplo da vacina para coqueluche. 

CT: Quanto tempo levará para toda população ser vacinada? 

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BA: Dependerá da velocidade de produção e capacidade logística dos gestores públicos. Espera-se que seja o mais rápido possível. 

CT: Quais os cuidados que ainda devemos ter enquanto ainda estamos em campanha de vacinação?

BA: Os mesmos que nos possibilitam diminuir a transmissibilidade e prevenir o colapso do sistema de saúde até o momento. Ou seja, isolamento dos casos suspeitos e confirmados, distanciamento de 1 a 2 metros entre as pessoas, uso de máscaras, evitar interações desnecessárias, evitar aglomerações e evitar ambientes fechados e não ventilados continuam sendo os pilares do controle da transmissibilidade até que seja atingida a imunidade coletiva. 

CT: Como será o cuidado com a doença pós-vacinação mundial?

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BA: Com grande parte da população imune, os cuidados poderão ser amenizados e gradativamente a vida voltará à normalidade.

CT: Depois de tomar a vacina, é preciso usar máscara?

BA: Por enquanto sim. Os cuidados deverão ser mantidos por alguns meses e talvez durante o ano de 2021, enquanto seguimos a campanha vacinal. O tempo dependerá da velocidade da vacinação. 

CT: A CoronaVac impede a transmissão da COVID-19 ou a pessoa vacinada ainda pode transmitir?

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Essa variável não foi avaliada nos estudos clínicos e poderemos mensurar durante a campanha de vacinação. Porém, espera-se que ocorra essa redução dada a prevenção de doença já comprovada e grande expectativa que traga redução da carga viral das eventuais infecções.

Segundo a Secretária de Estado da Saúde, a primeira etapa de vacinação estadual contra a COVID-19 deve priorizar profissionais da saúde, pessoas com 60 anos ou mais e grupos indígenas e quilombolas. Nesse primeiro momento, o governo de São Paulo chegou a liberar um site para pré-cadastro para o grupo prioritário. A equipe do Canaltech já ensinou como se inscrever.  As pessoas que não conseguirem fazer o pré-cadastro não precisam se preocupar, pois a vacinação também será feita sem ele. O site também fornece a opção de verificar os postos de vacinação. 

Para saber sobre eficácia não só da CoronaVac, como de outras vacinas, acesse nossa matéria especial.