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Pessoas lambem e fumam toxina de sapo e sentem "onda" voltar dias depois

Por| Editado por Luciana Zaramela | 01 de Dezembro de 2022 às 15h17

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nanihta/envato
nanihta/envato

Pessoas estão utilizando a bufotoxina, substância leitosa expelida pelos sapos bufos, para ter viagens psicodélicas — experiências descritas como "místicas", capazes de mudar a vida de um indivíduo. Fumar o psicoativo, no entanto, parece estar causando "flashbacks", ou retornos sensoriais ao momento da psicodelia muito tempo depois do uso. Algumas pessoas lambem o sapo, mas o governo americano já desaconselhou a prática, para o bem do animal e da pessoa.

A experiência é chamada de reativação, e, na maioria dos casos, parece estar sendo positiva. O composto em questão é o 5-MeO-DMT, expelido nas secreções do sapo-do-rio-colorado ou sapo-do-deserto-de-sonora (Bufo alvarius), nativo dos Estados Unidos e norte do México, e vem sendo estudado em possibilidades terapêuticas contra a depressão e outros problemas de saúde mental.

Potente, o efeito da substância dura pouco, cerca de 20 minutos, ao contrário da psilocibina dos cogumelos alucinógenos, mais fraca, porém mais duradoura, chegando ter efeitos que duram horas. Outros psicodélicos, como o LSD, também causam essas reativações, caracterizadas por sensações emocionais, perceptivas ou somáticas experienciadas primeiro durante o estado psicodélico agudo.

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Como são as reativações?

As sensações são descritas como percepção corporal agradável e sentimentos de serenidade, relaxamento e de "ser uno com o mundo": são tão generalizadas que têm seu próprio termo, "Transtorno perceptivo persistente por alucinógenos" (HPPD), dividido em Tipo 1 e Tipo 2. No primeiro, as experiências são positivas, um déjà vu agradável, enquanto a segunda envolve experiências repetidas, persistentes e estressantes, sendo uma condição séria.

Alguns relatos anedóticos por usuários da 5-MeO-DMT de sapos envolvem sensações de reativação ocorrendo por semanas, o que preocupou cientistas e os fez entrevistar 513 indivíduos, que consumiram a droga em vários cenários diferentes. Dos pesquisados, 73% fumou uma versão sintetizada em cerimônias de grupo e teve os flashbacks um tempo depois, enquanto 27% fizeram uso em contextos menos estruturados.

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Dos que utilizaram a substância em contextos cerimoniais, 96% tiveram somente reativações positivas ou neutras: 93% dos usuários em outros contextos também não tiveram experiências de retorno negativas. Com esses dados, o fenômeno pode acabar sendo descrito não como um efeito adverso, mas sim um subproduto neutro ou positivo do uso do psicodélico, segundo os cientistas.

Contexto e terapia

É preciso considerar, no entanto, o contexto de administração da droga. Os especialistas acreditam ser possível que as reativações contribuam para os efeitos antidepressivos e contra a ansiedade, já relatados por pesquisas anteriores. Entre os participantes da pesquisa, os identificados como sendo do sexo feminino tiveram 2 vezes mais chances de ter reativações. Isso pode estar ligado a mudanças em ondas cerebrais alfa, que mudam conforme o sexo, mas a explicação ainda é especulativa e não foi investigada a fundo.

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Na maioria dos casos, os efeitos duraram apenas alguns dias ou semanas, mas há casos, especialmente anedóticos, vale apontar, onde as pessoas tiveram ansiedade e insônia por conta da recorrência das experiências de retorno à psicodelia. No geral, os efeitos ficam sendo considerados transientes, mas intensos, ou HPPD Tipo 1.

Fonte: Frontiers in Psychiatry