Onde está o Brasil na corrida pela vacina contra a varíola dos macacos?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Com o surgimento de casos da varíola dos macacos (mokeypox) em áreas não endêmicas, países começam a se movimentar para a imunização de grupos de risco e de profissionais de saúde, que lidam diretamente com os pacientes da infecção. São os casos da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos. No momento, o Brasil não coordena iniciativas para obter o imunizante.
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Por enquanto, as autoridades de saúde do Brasil informam que nenhum quadro da varíola dos macacos foi registrado na população, exceto o caso de um brasileiro que foi infectado durante uma viagem pela Europa. O paciente está sendo tratado e permanece em isolamento na Alemanha, onde a infecção foi identificada. Enquanto isso, um comitê de cientistas foi convocado para acompanhar a evolução do surto no mundo. A iniciativa é liderada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Brasil tem vacinas contra a varíola dos macacos?
Caso o vírus chegue ao país e ocorra a transmissão comunitária — quando não é mais possível identificar a origem dos casos —, especialistas afirmam que o Brasil não tem doses armazenadas da vacina contra a varíola e nem capacidade nacional de produção, segundo o jornal O Globo. A falta de imunizantes pode representar um potencial risco para a população.
"Ter estoque estratégico de algumas vacinas, como varíola e encefalite japonesa é essencial, mas o Ministério da Saúde não tem. Também não temos produção da vacina contra varíola e não sei se conseguiríamos comprar. Agora, talvez, já seja tarde. O planejamento envolve um passo anterior. EUA e Europa, por exemplo, compraram um lote bem grande", explicou Julio Croda, infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
Aqui, vale explicar que não existe uma vacina específica contra a varíola dos macacos, mas os imunizantes contra a varíola humana podem proteger também contra este vírus, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, quem tem mais de 40 anos foi provavelmente vacinado contra a varíola, mas, após a erradicação da doença do mundo, doses do imunizante não foram mais aplicadas e, com isso, as novas gerações não têm nenhuma imunidade contra o vírus.
Comparação com os EUA
Na corrida pelas vacinas contra a varíola, os EUA parecem concentrar a maior fatia de doses do imunizante no mundo. Inclusive, o país conta com duas opções de fórmula para imunização contra o vírus:
- A vacina de última geração, a Jynneos: com estoque de mil doses;
- A vacina mais tradicional, a ACAM2000: com estoque de 100 milhões de doses.
Qual a posição da OMS?
Mesmo que alguns países tenham entrado na corrida pelas vacinas, a OMS defende que, no atual momento, o surto de casos da varíola dos macacos não requer vacinação em massa da população. Afinal, são estimados cerca de 200 casos oficias da infecção e, neste ponto, ainda é possível controlar a evolução da doença, apostando no rastreamento precoce de casos, isolamento dos infectados e acompanhamento dos contatos próximos.
Antes de definir uma estratégia de vacinação é preciso conhecer melhor a doença e entender o que está motivando o surto atual, explica Renato Kfouri, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), concordando com a posição da OMS.
"É preciso entender melhor a dimensão desse surto e a forma de transmissão da doença. A OMS está certa para dizer que não há recomendação de vacinação em massa neste momento. É muito desconhecimento para definir qualquer campanha", pontua o médico Kfouri.
Fonte: O Globo