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Varíola dos macacos: qual a diferença da doença para a varíola humana?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 25 de Maio de 2022 às 11h16

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Brian W.J. Mahy/OMS/CDC
Brian W.J. Mahy/OMS/CDC

Nas últimas semanas, começaram a ser identificados casos da varíola dos macacos — em inglês, monkeypox — em humanos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Pelo nome, é possível confundir a doença com a varíola humana, mas as duas infecções são diferentes. Inclusive, a versão humana foi erradicada do globo nos anos 1980, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Basicamente, as duas versões da varíola são causadas por agentes infecciosos diferentes e têm formas características de transmissão. Por exemplo, a varíola humana é transmitida apenas entre pessoas. Por outro lado, os sintomas e as formas de prevenção são semelhantes. A mesma vacina imuniza contra as duas doenças.

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Para entender sobre as diferenças e as semelhanças entre as duas doenças que carregam o nome varíola, o Canaltech conversou com a médica Sumire Sakabe, infectologista do Hospital 9 de Julho (H9J), em São Paulo.

É o mesmo vírus que causa os dois tipos de varíola?

"Tanto a varíola [humana] quanto a monkeypox [varíola dos macacos] são causadas por vírus da mesma família orthopoxvirus", explica Sakabe. Neste mesmo grupo, está também o vírus vaccinia (Vacv) — usado na formulação da vacina contra a varíola — e o vírus da varíola bovina.

Apesar de diferentes agentes infecciosos serem capazes de "atacar" os humanos, eles não são idênticos e aguardam algumas peculiaridades, como entenderemos a seguir.

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Origem da varíola dos macacos

"A varíola dos macacos recebeu este nome por ter sido, inicialmente, identificada em macacos", comenta a médica. Segundo o Centro de Controle e prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, a descoberta ocorreu em 1958, "quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidos para fins de pesquisa".

Agora, o primeiro caso em humanos só foi identificado em 1970, na República Democrática do Congo. Atualmente, o país do continente africano enfrenta a doença de forma endêmica, ou seja, casos regulares da infecção são relatados todos os anos.

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"O reservatório natural da varíola dos macacos permanece desconhecido. No entanto, roedores africanos e primatas não humanos (como macacos) podem abrigar o vírus e infectar pessoas", explica o CDC. Inclusive, ambos os animais podem transmitir a infecção para humanos.

Histórico da varíola humana

Do outro lado, a varíola humana tem uma história muito mais antiga e, até hoje, a sua origem é desconhecida. Por exemplo, existem registros de pelo menos três mil anos de erupções semelhantes à varíola em múmias egípcias. Já a primeira descrição escrita da doença, muito provavelmente, foi feita na China durante o século IV.

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Daqueles primórdios da humanidade até um período muito próximo da nossa realidade, a doença foi bastante fatal e levou milhões de pessoas ao óbito. Desde os anos 1980, com as vacinas, a humanidade conseguiu erradicar a infecção, ou seja, novos casos não são registrados mais registrados.

Qual das duas é mais perigosa?

Apesar da varíola humana não existir mais na sua forma selvagem, ela era consideravelmente mais mortal que a varíola dos macacos. "A varíola era fatal em 30% dos casos. Para monkeypox, a taxa de mortalidade é estimada em 3% a 6%", comenta a especialista. De forma geral, a OMS explica que a varíola dos macacos é "muitas vezes autolimitada, com sintomas desaparecendo espontaneamente dentro de 14 a 21 dias"

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Um adendo à varíola humana é que, além da alta taxa de mortalidade, as pessoas sobreviventes desenvolviam cicatrizes na pele, como no rosto. Além disso, outras sequelas ainda poderiam ser a cegueira e deformidades nos membros.

Sinais e sintomas de cada doença são diferentes?

"Ambas causam sintomas sistêmicos — como cansaço e febre — e evoluem com lesões características na pele", resume a médica. Para diferenciá-las, o CDC explica que, em humanos, "os sintomas da varíola dos macacos são semelhantes, mas mais leves do que os sintomas da varíola". Além disso, uma diferença é que somente, na monkeypox, os gânglios linfáticos incham.

A seguir, confira os primeiros sintomas dos dois tipos de varíola em humanos:

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  • Febre;
  • Dor de cabeça;
  • Dores musculares;
  • Dor nas costas;
  • Linfonodos inchados — exclusivo da varíola dos macacos, segundo o CDC;
  • Arrepios;
  • Exaustão.

Após o surgimento da febre, o paciente deve evoluir para um quadro marcados por erupções cutâneas pruriginosas e dolorosas, que geralmente começam no rosto e se espalham para outras partes do corpo. Esse período costuma levar de um até três dias.

Aqui, vale destacar que, em alguns pacientes, a varíola dos macacos pode ser leve e com sintomas pouco evidentes. Nesses casos, a pessoa ainda representa o risco de transmissão.

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Transmissão da varíola dos macacos é igual à da varíola humana?

"Ambas são transmitidas de pessoa para pessoa por contato próximo com as lesões ou com materiais contaminados — como toalhas e lençóis —, além de gotículas eliminadas no espirro ou tosse", pontua Sakabe. Fluídos corporais também podem transmitir a doença.

Cabe esclarecer que, independente da transmissão por gotículas, é muito difícil que estes vírus se espalham pelo ar em ambientes fechados, como uma sala. O principal risco é o contato próximo e prolongado.

Apesar das semelhanças, só a varíola dos macacos pode ser transmitidos por animais (macacos e roedores) para humanos. No momento, "os cientistas não têm evidências de que a varíola possa ser transmitida por insetos ou animais", explica o CDC.

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"A transmissão de animal para humano pode ocorrer por mordida ou arranhão, preparação de carne de caça [contaminada], contato direto com fluidos corporais ou secreções da lesão ou contato indireto com as secreções da lesão", acrescenta o CDC.

Vacina para a prevenção

"Por serem os vírus semelhantes, a vacina contra a varíola protege contra a monkeypox. Se aplicada em até quatro dias após o contato com a pessoa infectada, ela pode evitar a doença. Se aplicada em até 14 dias, pode abrandar a evolução", afirma a infectologista.

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Apesar das vacinas serem eficazes contra a duas doenças, os imunizantes não são mais usados e nem produzidos em larga escala desde a erradicação da varíola humana. Atualmente, o CDC informa que existem apenas dois locais que armazenam e manipulam oficialmente o vírus da varíola sob a supervisão da OMS:

  • O laboratório do próprio CDC localizado na cidade de Atlanta, nos EUA;
  • O Centro Estadual de Pesquisa de Virologia e Biotecnologia (Instituto Vector), sediado na cidade de Koltsovo, na Rússia.

Antivirais disponíveis

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Também existem remédios aprovados contra a varíola pela agência Food and Drug Administration (FDA) — o órgão tem função semelhante ao da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil. "Embora alguns medicamentos antivirais possam ajudar a tratar a doença da varíola, não há tratamento para a varíola que tenha sido testado em pessoas doentes com a doença e comprovadamente eficaz", explica o CDC.

Como a versão humana da varíola está erradicada, os testes clínicos não puderam ser feitos em pessoas doentes. Dessa forma, a autorização de uso se baseou em pesquisas feitas in vitro (em laboratório) e em testes com modelos animais. A toxicidade dos medicamentos chegou a ser avaliada em seres humanos saudáveis e foi bem tolerada.

Fonte: Com informações: Instituto Butantan, OMS e CDC (1) e (2)