Molécula produzida por bactérias do intestino pode tratar gripe
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Pesquisadores da Unicamp e do Instituto Pasteur de Lille (França) podem ter descoberto uma nova forma de prevenir e tratar a gripe (influenza), através de um suplemento produzido naturalmente pela microbiota do intestino. É uma molécula conhecida como ácido indol-3-propiônico (IPA).
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Nos testes pré-clínicos, os pesquisadores observaram que a molécula, produzida pelas bactérias do intestino, consegue reduzir o número de vírus ativos e os níveis de inflamação no pulmão em camundongos infectados pelo vírus influenza (variante H3N2).
Se a estratégia de prevenção e tratamento da gripe demonstrar ser promissora nas próximas rodadas de testes, o que deve incluir experimentos com humanos, é possível que a molécula IPA se torne uma importante ferramenta de saúde pública. Afinal, cerca de 290 a 650 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência do vírus da gripe, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Molécula produzida no intestino
Usada no experimento, a molécula do intestino já é conhecida, há anos, pela ciência. Sabe-se que a IPA pode melhorar distúrbios metabólicos, já que regula a glicemia, aumenta a sensibilidade à insulina e inibe a síntese de lipídios e fatores inflamatórios no fígado. Também tem efeitos benéficos no sistema cardiovascular.
Dentro do corpo, a molécula é produzida a partir do processamento do triptofano — um aminoácido essencial presente em diferentes alimentos, como milho, peixe, soja, trigo, cevada, centeio, girassol e carne.
Tratamento contra gripe
Publicado na revista Gut Microbes, o recente estudo avaliou os efeitos de uma versão sintética da molécula em animais com gripe, com níveis de inflamação nos pulmões.
“Suplementamos os animais com uma versão sintética da molécula, produzida em laboratório, o que diminuiu a carga viral e a inflamação. Isso traz um grande potencial para uma nova terapêutica da gripe”, conta Marco Vinolo, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coordenador da pesquisa, para a Agência Fapesp.
“No futuro, [o composto] poderá ser usado para ajudar a prevenir ou tratar a infecção pelo vírus influenza, responsável por grandes epidemias. No entanto, mais estudos são necessários para confirmar esses achados em humanos”, complementa o cientista Vinolo.
Futuro da pesquisa com IPA
Além do combate à gripe, os pesquisadores avaliam a efetividade da molécula do intestino em infecções do vírus da covid-19 em testes pré-clínicos. Segundo os autores, os resultados preliminares indicam resultados parecidos.
Em paralelo, a equipe planeja testar o composto contra infecções bacterianas — por enquanto, a efetividade só foi avaliada contra os vírus da gripe e da covid-19. Em outro ponto, é preciso avançar na pesquisa para incluir os primeiros testes clínicos, com humanos, o que permitirá salvar milhares de vidas, após a comprovação de eficácia e segurança.
Fonte: Gut Microbes e Agência Fapesp