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O que é o método CRISPR e por que ele revolucionou a ciência?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 23 de Julho de 2022 às 17h00

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Mstandret/Envato Elements
Mstandret/Envato Elements

Nos últimos anos, muitas notícias vêm tratando do CRISPR, método relativamente recente de edição genética tratado como a revolução do século em seu campo científico. A fama, dizem os cientistas, é devida: a técnica pode realmente mudar a humanidade para sempre com os avanços médicos possíveis, mas ficamos nos perguntando: o que é o CRISPR? Como funciona e por que é tão importante?

O que é CRISPR?

Para começar, é bom explicar a sigla: CRISPR vem de Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats — Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas — que, em outras palavras, significa uma maneira de alterar as repetições na cadeia de DNA para direcionar trechos específicos do código genético de forma precisa. Mais importante, o método permite fazer isso em células vivas.

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O CRISPR pode ser encarado como outro nome para o mecanismo natural encontrado no sistema imune de células bacterianas que combatem vírus invasores. Quando um deles ataca, a célula produz uma enzima conhecida como Case9, que simplesmente corta a sequência de DNA infectada. O que nós, humanos, conseguimos fazer, foi reproduzir essa habilidade para editar os genes de maneira mais conveniente.

Poder programar o DNA para deletar, modificar ou adicionar informações de células vivas é uma conveniência que não pode ser enfatizada o bastante na ciência. Mais de 3.000 doenças genéticas são causadas por letras incorretas (nucleotídeos) no DNA dos pacientes, então eliminar a letra falha e a substituir por uma cópia correta pode estender a expectativa de vida de incontáveis pessoas, como as que tem doença falciforme, fibrose cística, doença de Huntington e hemofilia.

Entre as principais vantagens do CRISPR está a facilidade de edição genética, que diminui muito o tempo e os recursos gastos, barateando muito a engenharia genética. A tecnologia também pode ser guiada por sequências de RNA para mirar exatamente na sequência genética específica que se quer modificar, o que revoluciona o tratamento de retrovírus em especial, como o causador do HIV.

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Potencial do CRISPR

Em 2015, cientistas conseguiram cortar o vírus HIV de células vivas, podendo remover até 50% do patógeno de pacientes em laboratório. Para o futuro, há planos de criar versões personalizadas de DNA resistentes ao HIV, limpando o vírus do sistema de pacientes infectados. O CRISPR também tem o potencial de diagnosticar e tratar câncer com muito mais facilidade, modificando células imunes para reconhecer e destruir tumores malignos.

O método também é muito abrangente, e pode ser usado em todos os tipos de célula, desde humanos e animais a plantas e até microorganismos. As possibilidades são inúmeras, podendo nos dar maneiras de crescer órgãos para transplante, modificar plantações para aguentarem climas mais intensos e criar frutas cheias de vitaminas para sustentar populações desnutridas.

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Até mesmo espécies extintas podem ser revividas, ou salvas por "regates genéticos" de espécies invasivas, evitando que vírus entrem nas glândulas salivares de mosquitos, por exemplo, o que os impediria de espalhar doenças. Mas nem tudo são flores.

Controvérsias e limitações

O CRISPR ainda é uma tecnologia de primeira geração, então seu potencial e suas limitações ainda não foram totalmente conhecidos. Os cientistas não sabem, por exemplo, quais são as implicações de longo prazo de editar genes dessa maneira e seu impacto em nós. Já se sabe que quaisquer mudanças feitas em um indivíduo não serão passadas para seus filhos, a menos que o método seja utilizado em células reprodutivas e embriões, o que é, no mínimo, bem controverso.

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O tema genético em si já é bem discutido em termos de ciência e consciência moral: será que sabemos o suficiente sobre nosso genoma para mudar sequências de DNA de um embrião? Modificá-los por gerações pode causar mudanças irreparáveis no fundo (pool) genético humano difíceis de prever.

Muitos argumentos questionam a moralidade de editar embriões, dizendo que os cientistas estão "brincando de deus". Reviver espécies extintas ou eliminar espécies invasivas também levanta questões da ordem natural do mundo. Além disso, a tentação de criar seres humanos "geneticamente perfeitos" pode ser difícil de resistir, e as implicações até mesmo antropológicas disso são infindáveis.

Apesar de ser uma novidade animadora para a ciência e a medicina, o CRISPR ainda é um método que precisa ser compreendido em sua totalidade, e seu potencial e limitações, descritos com maiores detalhes. Talvez, no futuro, consideremos que a falta de ética estaria em não usar a tecnologia para editar genes falhos e salvar vidas. O tempo dirá.

Fonte: Proclinical