Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Já ouviu falar de vacinas contagiosas? Elas podem barrar as próximas pandemias

Por| Editado por Luciana Zaramela | 25 de Março de 2022 às 12h01

Link copiado!

Garakta-Studio/envato
Garakta-Studio/envato

Para impedir que novos vírus saltem de animais para humanos no futuro, diferentes centros de pesquisa buscam desenvolver vacinas contagiosas. Em tese, a potencial fórmula se espalharia por uma comunidade, após a imunização de alguns indivíduos. Nesses casos, a vacinação levaria a uma imunidade de rebanho, mesmo para aqueles que não tomaram o imunizante.

Atualmente, já existem vacinas com a característica de serem contagiosas. A mais famosa delas é a vacina oral contra a poliomielite — também conhecida como a vacina da gotinha, que é muito usada no Brasil. No entanto, a capacidade de perpetuar a imunização contra a pólio é limitada e não gera imunidade em grandes populações.

Continua após a publicidade

Impedir o surgimento de novas doenças zoonóticas

Por trás do desejo de desenvolver vacinas contagiosas, está a ideia de barrar novas doenças zoonóticas. Os cientistas esperam imunizar animais — na maioria, selvagens — contra algumas doenças que, eventualmente, podem chegar aos humanos. Caso os planos sejam bem sucedidos, é possível impedir que novos vírus cheguem até nossa espécie e causem danos incalculáveis.

Vale lembrar que, muito provavelmente, a covid-19 surgiu em um morcego, foi transmitida para um outro hospedeiro animal intermediário e, finalmente, chegou aos humanos. Além do coronavírus SARS-CoV-2, morcegos são conhecidos reservatórios de inúmeras doenças zoonóticas.

Repetindo a história recente, pesquisadores já descobriram que um vírus do gênero ebolavirus, o Bombali, pode invadir células humanas. A vantagem é que, até o momento, é encontrado apenas em morcegos da África Equatorial, mas um dia a situação pode mudar. Nesse sentido, ter uma vacina contagiosa pode ser uma boa estratégia para barrar uma possível infecção em humanos, a partir da imunização dos morcegos.

Continua após a publicidade

"A disseminação de doenças infecciosas de populações de animais selvagens para humanos é uma ameaça crescente à saúde e bem-estar humanos. As abordagens atuais para gerenciar essas doenças infecciosas emergentes são amplamente reativas, levando a atrasos mortais e caros entre o surgimento e o controle", alertam pesquisadores da Universidade de Idaho, nos Estados Unidos, em estudo publicado na revista científica PNAS.

Vacina da pólio é o exemplo mais famoso

Entre os imunizantes conhecidos por serem contagiosos, está a vacina oral contra a poliomielite (VOP). A fórmula é composta por dois tipos diferentes (tipos 1 e 3) do vírus da pólio vivos, mas os agentes infecciosos estão enfraquecidos (atenuados). Quando as gotinhas são pingadas na boca da criança, o vírus enfraquecido chega até o intestino e começa a se replicar. Isso ajuda o sistema imunológico a construir anticorpos, antes que a vacina seja excretada.

Continua após a publicidade

"Em áreas de saneamento inadequado, esse vírus da vacina excretado pode se espalhar na comunidade imediata (e isso pode oferecer proteção a outras crianças por meio de imunização 'passiva'), antes de morrer", explica a Organização Mundial da Saúde (OMS). É dessa forma que a vacina oral também promove a imunidade de rebanho, já que o paciente, literalmente, elimina o vírus por um tempo, pelas fezes.

Na maioria das pessoas imunizadas, o vírus (das gotas) não consegue desencadear a infecção. No entanto, fórmulas desse tipo podem representar riscos para alguns grupos específicos. Por isso, vacinas com vírus atenuados não são indicadas, como regra geral, para pessoas imunossuprimidas ou gestantes.

Quais os riscos da imunização?

Apesar da vacina atenuada do vírus da pólio ser relativamente segura, o uso de vacinas contagiosas representa um risco potencial: novos casos da doença em determinadas populações. Nestes casos, a versão da infecção é conhecida como a poliomielite derivada das vacinas, mas só ocorre quando a campanha de imunização não é bem planejada ou quando a doença já foi erradicada.

Continua após a publicidade

Por exemplo, em 2020, a OMS declarou que a África tinha erradicado a pólio. Passados alguns dias, dois casos em crianças foram relatados no Sudão. As investigações da época relacionavam os casos com vacina oral contra a poliomielite, mas foram desencadeados pela campanha de imunização de um país vizinho, o Chade.

Por causa dos potenciais riscos, o Brasil determina que a vacina oral somente seja usada nos casos de reforço. Na primeira dose, as autoridades de saúde recomendam um imunizante injetável, já que não é feito com o vírus vivo, ou seja, é uma vacina inativada, o que reduz o risco de desencadear casos da pólio na população local, através das fezes.

Teste prático da vacina contagiosa

Continua após a publicidade

Por enquanto, os pesquisadores ainda desenham uma vacina contagiosa ideal para lidar com as possíveis doenças zoonóticas. Na Espanha, pesquisadores do Centro de Pesquisa em Saúde Animal testaram, com sucesso, um imunizante do tipo em coelhos.

Publicado na revista científica Vaccine, o estudo verificou o efeito protetor de uma vacina contagiosa em uma comunidade de 300 coelhos selvagens. A equipe vacinou 76 dos animais contra a doença hemorrágica do coelho e a mixomatose. Em seguida, todas as cobaias foram chipadas (com geolocalizador) e liberadas, novamente, na natureza. Segundo os pesquisadores, a vacina se espalhou entre os coelhos e, passados 32 dias, mais de 50% dos coelhos não vacinados tinham anticorpos para ambos os vírus, sugerindo algum nível de transmissão da vacina.

Agora, novas pesquisas, como a dos cientistas espanhóis, devem começar a surgir para que os cientistas estejam preparados para lidar contra novos desafios potencialmente pandêmicos. Para o sucesso de iniciativas do tipo, será preciso contar com o suporte, inclusive financeiro, de diferentes governos espalhados pelo mundo e esforços globais contra vírus emergentes.

Fonte: Vaccine, PNAS, OMS IFL Science