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Casos de pólio pós-vacina ressurgem logo após doença ser erradicada na África

Por| 09 de Setembro de 2020 às 09h05

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Skeeze/Pixabay
Skeeze/Pixabay

Há menos de 10 dias, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciava que a poliomielite selvagem tinha sido erradica na África, após prolongados esforços de controle da doença pelas autoridades públicas. Infelizmente, a boa notícia durou pouco e novos casos foram notificados, aparentemente, ligados ao vírus da pólio fragmentado das vacinas.

Na semana passada, um surto de pólio foi anunciado no Sudão e as evidências, até agora coletadas, o relaciona com vacina oral contra a poliomielite  — também conhecida no Brasil pelo nome de gotinha —, já que contem uma forma enfraquecida do vírus. Segundo a OMS, a doença foi registrada em duas crianças, no país, em março e abril. Ambos tinham sido vacinados contra a pólio.

De acordo com a OMS, as investigações iniciais do surto apontam uma conexão desses casos com a campanha de vacinação em outro país, o Chade. Embora a chamada poliomielite derivada das vacinas seja um risco conhecido, o surgimento desses casos logo após o anúncio da erradicação da poliomielite selvagem — é preciso reforçar que são situações diferentes  — pode ser visto como um retrocesso para a saúde.

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Afinal, o que é pólio?

A poliomielite —  também conhecida popularmente como paralisia infantil  — é uma doença contagiosa, causada pelo poliovírus que pode infectar crianças e adultos. O contágio acontece a partir do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. Nos casos graves, em que acontecem as paralisias musculares, os membros inferiores são os mais atingidos pela infecção viral.

Segundo as autoridades de saúde, a vacinação é a melhor forma de prevenção contra a pólio. No Brasil, por exemplo, as crianças menores de cinco anos são vacinadas pelo programa nacional —  o que tem muito pouco a ver com a situação africana. Como resultado da intensificação da vacinação no Brasil, não há circulação de poliovírus selvagem desde 1990. Segundo os registros, o último caso de infecção pelo poliovírus selvagem ocorreu em 1989, na cidade de Souza, no estado da Paraíba.

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Como funciona a vacina oral?

Os novos casos da pólio estão relacionados com a vacinação, apenas, oral. Mesmo com alguns problemas, o modelo de imunização continua sendo o mais adotado em algumas regiões por causa de sua facilidade de distribuição e à falta de seringas esterilizadas, como é o caso da África.

Por exemplo, quando uma criança recebe a vacina por via oral, ela está recebendo o vírus enfraquecido da pólio que se replica no intestino e isso estimula a produção de anticorpos no organismo da pessoa. Entretanto, esse vírus pode ser eliminado nas fezes. Em áreas em que os níveis de imunidade da população são altos — como em regiões que já erradicaram a doença.

Pelo contrário, a vacina oral também acaba por promover a imunidade de rebanho. Isso porque o paciente elimina o vírus da pólio por um tempo ainda pelas fezes. Dessa forma, a versão do vírus atenuado pode contaminar outras pessoas ainda não imunizadas, promovendo uma imunidade coletiva contra a doença na comunidade.

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Em raras ocasiões, essa vacinação por via oral pode desencadear a doença contra a qual se queria imunizar, como foram, aparentemente, os dois casos do Sudão. Por isso, a vacina é contraindicada para imunodeprimidos e gestantes, por exemplo. Só que em áreas onde falta saneamento básico e não há imunização geral, o vírus pode sobreviver e circular por meses. Nesses casos, pode mutar e até apresentar o mesmo risco de paralisia que a poliomielite selvagem representa.

Novas vacinas contra a pólio

É por causa desses relatos e do risco de surtos derivados da vacina que a ONU recomenda que o uso da vacina oral deve ser interrompido após a poliomielite ser erradicada. Inclusive, o uso da vacina oral contra a poliomielite foi interrompido nos Estados Unidos, ainda nos anos 2000, e no Reino Unido, em 2004.

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No Brasil, desde 2016, o esquema vacinal contra a poliomielite passou a mesclar o uso da vacina oral e a injetável. Mais especificamente, as três primeiras doses da vacina são injetáveis (2, 4 e 6 meses) e somente as doses de reforço acontecem por via oral.

Isso porque a versão injetável é considerada mais segura e apresenta menos efeitos colaterais, já que não é feita com o vírus vivo (enfraquecido), ou seja, é uma vacina inativada (fragmentos do vírus ou ele morto). Na versão injetável, o vírus inativado caí direto na corrente sanguínea do paciente e promove a produção de anticorpos, sem o risco da pessoa contrair sequer uma versão atenuada da doença.

Volta da pólio x vacinas

Além desses casos de pólio derivados da vacinação, a poliomielite selvagem — considerada como a versão original da doença — continua endêmica no Afeganistão e no Paquistão, ambos países asiáticos. Em paralelo, as duas nações também lutam para conter surtos de poliomielite derivada da vacina. Isso porque as campanhas não ocorreram de forma estruturada e nem alcançaram toda a população.

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Um ponto interessante dessa história é que a vacina da pólio oral traz em sua composição fragmentos enfraquecidos do vírus, o que pode desencadear reação e infecção em uma porcentagem muito baixa da população a doença. Na busca por vacinas contra a COVID-19, alguns potenciais imunizantes trabalham a partir da lógica do vírus enfraquecido que é o caso da CoronaVac, feita pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e com participação do Instituto Butantan. Por isso, que testes de segurança e eficácia são tão importantes antes de sua liberação.

Fonte: The Guardian, G1Ministério da Saúde