IA vai revolucionar descobertas na medicina, diz ganhador do Nobel
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

O cientista norte-americano e ganhador do prêmio Nobel de medicina em 2023, Drew Weissman, revolucionou a produção de vacinas com a tecnologia do mRNA (RNA mensageiro) durante a pandemia da covid-19. Agora, o visionário aposta que a Inteligência Artificial (IA) deve proporcionar um novo salto para a medicina.
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É verdade que a IA já é usada pelas indústrias farmacêuticas na produção de vacinas e também de remédios, com alguns desses medicamentos já em fase de testes clínicos (experimentos com humanos). No entanto, o ganhador do Nobel entende que a tecnologia pode ir além em benefício da saúde e até de outras áreas.
Como parte de seus esforços, o pesquisador da Universidade da Pensilvânia acaba de inaugurar um novo centro de pesquisa que funde os avanços dos últimos anos no campo do mRNA com a IA. A iniciativa é conhecida como Artificial Intelligence-driven RNA Foundry (AIRFoundry) e tem apoio do governo dos EUA.
O que é mRNA? Para entender, o mRNA é como uma “receita de bolo”. Quando chega ao corpo através de uma vacina ou medicamento, esse mensageiro induz a produção de proteínas específicas. No caso da vacina da covid, ele desencadeia a produção de uma parte do vírus, capaz de ensinar o sistema imune a reconhecer essa ameaça, até então desconhecida. Isso diminui o risco de infecções graves. |
Avanço na medicina com mRNA
Do ponto de vista médico, o foco das pesquisas do ganhador do Nobel é o campo das terapias genéticas, com o uso da tecnologia do mRNA. Essa vertente irá possibilitar novas formas de tratamento para doenças do coração, doenças autoimunes e doenças dermatológicas. Neste caso, as terapias modificarão os genes dos pacientes.
“Há provavelmente milhares de terapêuticas potenciais para as quais o RNA pode ser usado, além de apenas vacinas”, destaca Drew Weissman, em entrevista para o site LiveScience.
“[O mRNA] pode fazer proteínas que estão [faltando devido a uma mutação genética], ou pode fazer proteínas terapêuticas para tratar inflamação, para tratar ataques cardíacos, para tratar todos os tipos de coisas diferentes”, comenta o cientista. “Ele pode fornecer qualquer proteína que você possa imaginar”, complementa sobre o potencial de transformação.
Aqui, vale lembrar que, em parceria com a bioquímica húngara Katalin Karikó, foram desenvolvidas as primeiras vacinas de mRNA funcionais, ou seja, os imunizantes da Pfizer/BioNTech contra a covid-19. Isso rendeu para ambos o prêmio Nobel de medicina. Outras fórmulas de vacinas já estão sendo desenvolvidas, com as mesmas bases. É o caso da que protege contra a gripe.
Menor tempo de pesquisa com IA
Com a IA, o tempo de pesquisa será infinitamente menor. Afinal, os algoritmos poderão indicar uma lista de potenciais compostos muito mais certeiros e apenas os pré-selecionados serão levados para testes clínicos. O que normalmente levaria meses ou anos poderia ser resolvido preliminarmente em semanas.
“A ideia é fazer com que a IA restrinja quais sequências de RNA têm mais probabilidade de ter sucesso na tarefa em questão, reduzindo a necessidade de cientistas fazerem e testarem fisicamente muitas opções diferentes”, pontua Weissman.
Uso do mRNA em outras áreas da ciência
Além da área médica, o cientista Weissman entende que, com a ajuda da IA, a tecnologia do mRNA poderá ser aplicada para outros fins, como a programação de determinadas bactérias para “comer” plástico em grande escala, solucionando a questão dos microplásticos, por exemplo. Esta é apenas uma possibilidade, dentro da revolução que a junção das áreas do RNA e da IA irão proporcionar.
Cabe destacar que, neste ano, a Academia Real das Ciências da Suécia já anunciou os novos vencedores do prêmio Nobel de medicina: Victor Ambros e Gary Ruvkun. Ambos foram reconhecidos por pesquisas em outra área, mas que ainda envolvem os RNAs. É a questão dos microRNAs, conectados com a regulação genética.