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Existem diferenças entre cérebros femininos e masculinos?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Dezembro de 2023 às 10h00

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 Bret Kavanaugh/Unsplash
Bret Kavanaugh/Unsplash

Uma dúvida centenária da ciência — e cuja resposta, além de complexa, pode estar longe de aparecer — é a diferença entre os cérebros de homens e de mulheres. É claro que, biologicamente, órgãos masculinos e femininos trazem algumas diferenças, especialmente no que diz respeito ao tamanho, mas, neurologicamente, algumas especificidades são importantes: as diferenças são tão profundas assim? Elas, afinal de contas, importam?

A história do estudo acerca dos cérebros femininos e masculinos é longa e cheia de antigos preconceitos e vieses da ciência do passado, especialmente por terem ganhado tração no século XIX. Como as mulheres estavam começando a conquistar espaço na sociedade e ocupar cada vez mais lugares tradicionalmente masculinos, alguns pesquisadores acharam por bem provar que as mulheres eram incapazes e frágeis demais para substituí-los, como por meio da “craniologia”.

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Esforços supostamente provavam que o cérebro maior dos homens garantiria mais inteligência, mas matemáticos como Alice Lee, uma estatística que estava entre as primeiras mulheres formadas na Universidade de Londres, mostrou que essa pseudociência estava errada — e que os menores cérebros das amostras estudadas eram de um grupo célebre de anatomistas homens.

Discussões afirmando que mulheres só aprenderiam com métodos diferentes dos homens perduraram até o século XXI, mas a ideia também foi desbancada.

A diferença sexual do cérebro importa?

Em tempos mais modernos, com eletroencefalogramas, tomografias com pósitrons e ressonâncias magnéticas, a busca por diferenças anatômicas e funcionais entre estruturas cerebrais femininas e masculinas pôde ser melhorada. Embora muitos pesquisadores afirmem ter encontrado tais diferenças, há outros que rejeitam o dimorfismo sexual no cérebro humano, incluindo revisões das publicações favoráveis à teoria.

O problema, muitas vezes, é começar a pesquisa com a certeza de que diferenças existirão, deixando um viés complicado no trabalho. Cérebros biologicamente masculinos costumam, de fato, ser maiores, mas não há consenso sobre o resultado disso nas funções do órgão, mesmo porque é mais difícil do que parece ligar regiões do cérebro a funções específicas.

Atualmente, acredita-se que as diferenças ambientais e a criação de um indivíduo tenham muito mais influência do que o sexo biológico, já que o cérebro é um órgão extremamente adaptável e se molda fisicamente a mudanças e aprendizados, como quando aprendemos a tocar um novo instrumento. Vieses de gênero tem sido muito estudados, por exemplo, nos brinquedos e nas pressões sociais que podem estar restringindo a escolha de carreira de mulheres mesmo de maneira não-intencional.

Embora estudos tenham mostrado que preferências por brinquedos estereotipicamente “femininos” ou “masculinos” existem até mesmo em macacos, que não passam por pressões sociais como a do azul e rosa desde a primeira infância, é difícil cravar diferenças inatas nos cérebros de cada sexo enquanto ainda crescemos em um ambiente onde a expressão de gênero de uma criança afeta até mesmo como adultos falam com elas.

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Uma questão que recebe atenção, em especial, são distúrbios neurológicos, psicológicos e de desenvolvimento que acometem os sexos em intensidades diferentes. Um estudo de 2020, por exemplo, mostrou que alguns padrões de expressão de genes estão ligados aos cromossomos sexuais, algo que só vimos anteriormente em camundongos.

Doenças e o sexo do cérebro

Entender a diferença nas expressões gênicas pode revelar mais sobre as diferenças em distúrbios cerebrais entre os sexos, mas muitas dessas suscetibilidades a doenças estão sendo desmentidas recentemente. Um exemplo especialmente importante é o do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que se pensava afetar quase exclusivamente homens, inclusive com base na teoria da organização do cérebro, onde hormônios sexuais presentes no desenvolvimento dos fetos “masculinizaria” os cérebros dos meninos.

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Isso aumentaria a propensão, entre outras coisas, ao autismo. Pesquisas recentes, no entanto, estão mostrando como o transtorno afeta os sexos de jeitos diferentes, levando a mais diagnósticos femininos e desmentindo a teoria aos poucos.

No final das contas, o que tem ficado claro é que, embora existam diferenças entre ambos os cérebros de fato, isso não afeta as capacidades ou aptidões de homens ou de mulheres para qualquer atividade, dependendo muito mais das experiências de vida e questões ambientais. A ciência, afinal de contas, começou a incluir mulheres nas pesquisas há pouco tempo, e há muito que aprender a partir de um equilíbrio como esse nas pesquisas, o que dificilmente era uma prioridade no passado.

Fonte: Stanford Medicine, The Gendered Brain, The Conversation, Neuroscience & Biobehavioral Reviews, Current Biology, Biological SciencesHarvard Business ReviewJNeurosci via Curious