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Catarro? Som da tosse? Conheça métodos alternativos para detectar a COVID-19

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fernando zhiminaicela/Pixabay
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Desde o início da pandemia, a realização de testes para detectar a COVID-19 fez-se extremamente necessária. No entanto, com o passar dos meses, instituições e empresas privadas ao redor do mundo deram início ao desenvolvimento de maneiras alternativas de detectar a doença.

Existe atualmente no mercado uma série de testes disponíveis para diagnóstico da COVID-19. Dentre eles, os mais comuns são o RT-PCR (do inglês reverse-transcriptase polymerase chain reaction), cuja confirmação é obtida através da detecção do RNA do SARS-CoV-2 na amostra analisada, preferencialmente obtida de raspado de nasofaringe. Também tem a sorologia, que verifica a resposta imunológica do corpo em relação ao vírus a partir da detecção de anticorpos IgA, IgM e IgG em pessoas que foram expostas ao SARS-CoV-2. Nesse caso, o exame é realizado a partir da amostra de sangue do paciente.

E não poderiam faltar, claro, os testes rápidos, que podem ser de antígeno (que detectam proteínas na fase de atividade da infecção) ou de anticorpos (que identificam uma resposta imunológica do corpo em relação ao vírus). Mas se você acha que para por aí, está enganado. Confira algumas formas bem diferenciadas de detectar a COVID-19. Muitas delas ainda estão em fase de estudo e de desenvolvimento, mas já dão uma ideia do que vem por aí.

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Saliva

Em junho, o Governo do Estado de São Paulo investiu em um novo exame molecular desenvolvido pelo laboratório brasileiro Mendelics, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês. O teste utiliza a metodologia RT-LAMP (Reverse Transcription Loop-Mediated Isothermal Amplification), e funciona da seguinte forma: a partir da coleta de saliva do paciente, o exame identifica a presença do SARS-CoV-2 por meio de um teste molecular que reconhece o material genético viral.

A partir do método aperfeiçoado pela Mendelics, o próprio paciente realiza a coleta de amostras de saliva em um tubo estéril. O método leva apenas uma hora. O laboratório lançou, na época, um projeto-piloto com 50 mil pessoas, e desde então tem feito publicações a respeito dos protocolos. Nos Estados Unidos, esse mesmo tipo de exame já foi aprovado, e chegou a ser testado em jogadores de basquete e funcionários da NBA. Apelidado de SalivaDirect, o teste foi desenvolvido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Yale para auxiliar no diagnóstico de pacientes da COVID-19 assintomáticos.

Já em setembro, pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) passaram a desenvolver o teste que detecta a COVID-19 também pela saliva. Nesse caso, uma técnica molecular semelhante ao método RT-PCR utiliza como amostras para realização dos testes secreções do fundo da garganta e do nariz. Em ambas as técnicas são induzidas reações para a realização de uma fase de transcrição reversa (RT), na qual o RNA do vírus é transformado em DNA, e uma fase de amplificação, em que regiões específicas do vírus são replicadas milhões de vezes para que o patógeno possa ser identificado.

Muco (catarro)

E que tal detectar o vírus no muco nasal? Essa foi a ideia dos pesquisadores da Universidade de Teerã, do Irã. Chamado de Detector ROS [espécies reativas de oxigênio] em amostra de escarro (RDSS), o teste rastreia inflamação respiratória em tempo real e não exige que um profissional médico use um swab para a amostra. ROS são espécies químicas reativas que contêm oxigênio e podem danificar gravemente o DNA, o RNA e as proteínas. Esta ferramenta pode determinar a presença de ROS produzidas por inflamação respiratória.

Na prática, esse teste ROS é feito retirando uma amostra do escarro do paciente: ele respira fundo e segura por cinco segundos, então expira lentamente e repete essas etapas até tossir, escarrando em um tubo. Cada amostra individual é testada usando sonda, e os resultados são exibidos no monitor após 30 segundos. O sensor na parte superior da sonda é fabricado com nanotubos de carbono de várias paredes, que ficam na ponta de várias agulhas de aço. As agulhas são organizadas em três eletrodos.

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Som da tosse

Talvez o método mais alternativo de todos seja detectar a COVID-19 por meio do som da tosse, mas acredite: isso realmente está acontecendo. Em meados de julho, o Instituto Butantan, de São Paulo, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio Janeiro, fizeram uma parceria com a Intel para desenvolver uma tecnologia com o objetivo de investigar sinais específicos da COVID-19 na tosse (que por si só já é um dos sintomas da doença).

Basicamente, a proposta é uma ferramenta com um sistema de reconhecimento de tosse, além de investigações clínicas e epidemiológicas remotas. A iniciativa coleta áudios gravados da tosse de voluntários, que serão utilizados para treinar um novo modelo baseado em Inteligência Artificial (IA) desenvolvido pela Intel. A ferramenta segue em desenvolvimento, com a participação de voluntários que enviam áudios de tosse. Eles são divididos em três grupos.

No primeiro grupo, entram os indivíduos saudáveis, que não possuem sintomas de tosse, febre ou falta de ar nos 30 dias antecedendo a gravação do áudio. Já o segundo grupo conta com indivíduos com COVID-19, diagnosticados com confirmação laboratorial de infecção por SARS-CoV-2. Serão registrados os áudios e parâmetros demográficos (idade, local, condições prévias) e clínicos (dias de sintomas, presença de dispneia, frequência respiratória, saturação de oxigênio e medicações em uso). O terceiro e último grupo envolve indivíduos com condições que levem à tosse sem ser por COVID-19: demonstram tosse por condições que não são compatíveis ao COVID-19. Serão selecionados pacientes com outras doenças pulmonares também, como pneumonia bacteriana, asma ou Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), além de refluxo gastroesofágico.

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Já em outubro, pesquisadores do MIT, Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, também levantaram o olhar para o fato de que pessoas contaminadas pela COVID-19 que são assintomáticas possuem uma forma de tossir diferente em comparação com quem está saudável. Com isso em mente, desenvolveu um modelo de inteligência artificial capaz de diferenciar pessoas com COVID-19 que são assintomáticas das pessoas saudáveis. Essa identificação é feita através de gravações de tosses forçadas, que as pessoas enviam voluntariamente pelo smartphone ou computador. Basicamente, a mesma premissa da parceria entre o Butantan, a Fiocruz e a Intel.

Voz

Se é possível detectar a COVID-19 pelo som da tosse de uma pessoa, por que não pela voz? Em julho, a empresa de saúde Sonde Health começou a desenvolver um app que não tem a função exata de fazer o diagnóstico, mas sim de apontar evidências que possam indicar a contaminação, substituindo o exame invasivo quando há a necessidade diária de testagem. O objetivo é buscar por sintomas através da voz do usuário, uma vez que o simples ato de falar movimenta 100 partes diferentes do corpo. Então, quando um corpo está sofrendo de alguma doença ou apresentando sintomas, essa alteração pode ser audível ao ouvido humano.

Existe a avaliação de risco baixo, médio e alto, e a companhia deve estipular seus próprios critérios, uma vez que, reforçando, mas o próprio CEO da empresa diz que o app não deve substituir o teste de COVID-19.

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Fungos

Em agosto, o Laboratório de Genômica e bioEnergia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apontou relação entre alterações nas cores das leveduras (organismos unicelulares muito usados para a fabricação de iguarias fermentadas, como pão e vinho) e a presença do coronavírus em uma amostra salivar ou da nasofaringe de um paciente. Nesse caso, uma tonalidade avermelhada confirmaria a infecção. Com isso em mente, passou a desenvolver o modelo de teste Coronayeast (que é a junção do nome do vírus com o do fungo, em inglês).

Os pesquisadores inseriram na levedura um gene que facilita a entrada do novo coronavírus nas células humanas, a proteína humana ACE-2. No caso de uma amostra contaminada, após um período de incubação, um hormônio associado passa a ser abundante no local e, dessa forma, são ativados genes que tornam a levedura vermelha e fluorescente.

Entretanto, mesmo que o teste tenha identificado o coronavírus, os cientistas ainda investigam o tempo mínimo para se chegar a um diagnóstico conclusivo da infecção. Por enquanto, foi notado que a coloração vermelha é percebida na levedura em no máximo quatro horas. Caso o vírus não esteja presente, a levedura deve manter a sua a cor natural, que é bege-amarelada.

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Esgoto

Logo no início da pandemia, pesquisadores franceses começam a buscar respostas em bueiros, que são uma fonte muito rica de evidências, uma vez que dejetos humanos de pacientes com o coronavírus, como urina e fezes, têm uma carga viral significativa e podem até contaminar novas pessoas. Com isso, alguns países começaram a fazer análise do esgoto para estudar possibilidades de surto e entender o histórico da COVID-19 naquele local específico.

É o caso do Reino Unido, que passou a analisar os esgotos para criar um sistema de alerta precoce para detectar surtos locais antes que se espalhem. Os resultados da análise são compartilhados com sistemas de teste e rastreamento na Inglaterra, País de Gales e Escócia, ajudando a se concentrarem em comunidades específicas para atenção extra, bem como alertando os serviços locais.

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Esse método pra lá de alternativo para detectar a COVID-19 já permitiu inúmeras descobertas. Em julho, por exemplo, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) encontrou partículas de SARS-CoV-2 em duas amostras do esgoto de Florianópolis colhidas em 27 de novembro de 2019, dois meses antes do primeiro caso clínico ser relatado no Brasil.

Sangue seco

Em outubro, pesquisadores da Universidade de Birmingham, do Reino Unido, desenvolveram um novo método baseado na análise em amostras de sangue seco, em manchas já secas de sangue (DBS) em papel. O argumento dos pesquisadores é que as amostras de sangue seco são simples, baratas e podem ser coletadas pelo próprio paciente, mesmo em casa, a partir de uma picada no dedo, por exemplo. A ideia é uma alternativa que substitui a coleta de sangue "fresco" para a leitura de anticorpos contra o novo coronavírus. O único diferencial é que essa amostra de sangue seco deve ser coletada em um cartão específico para as análises posteriores.

Fonte: Com informações de MIT Technology Review, EurekAlert!IEEE Spectrum, Futurism, InovaBBC