DNA neandertal explica motivo de alguns gostarem de acordar cedo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Se você gosta de acordar cedo e já está de pé logo no começo da manhã, saiba que essas características matinais podem ter sido herdadas dos seus antepassados neandertais — sim, estes hominídeos cruzaram com humanos há milhares de anos, e alguns vestígios desta relação permanecem no DNA moderno.
- Reconstrução facial de neandertal de 56 mil anos desfaz estereótipos da espécie
- Neandertais caçavam elefantes maiores que mamutes há 125 mil anos
Por causa desses cruzamentos, os humanos atuais podem carregar até 4% do DNA neandertal, o que inclui genes ligados com o cabelo, a pigmentação da pele, a gordura, a sensibilidade à dor e até a imunidade. Esta influência é mais forte, na maioria das vezes, entre os europeus e os latino-americanos.
Agora, cientistas da Universidade da Califórnia (UC), nos EUA, alegam que esta herança pode afetar também o ritmo circadiano ("relógio biológico") de algumas pessoas, favorecendo comportamentos matutinos. A teoria foi defendida em artigo publicado na revista Genome Biology and Evolution.
Analisando o DNA neandertal
“Ao combinar DNA antigo, estudos genéticos em larga escala em humanos modernos e Inteligência Artificial, descobrimos diferenças genéticas substanciais nos ritmos circadianos dos neandertais e dos humanos modernos”, afirma John A. Capra, pesquisador da UC e um dos autores do estudo, em nota.
“Analisando os pedaços de DNA neandertal que permaneceram nos genomas humanos modernos, descobrimos uma tendência surpreendente”, acrescenta Capra. Para o cientista, muitos desses genes têm conexão com o ritmo circadiano nos humanos modernos. Na maioria dos casos, eles estão “aumentando a propensão da pessoa ser matinal”, completa.
A vida dos neandertais
Para entender de onde vem a tendência dos neandertais “preferirem” acordar cedo, é preciso voltar alguns milhares de anos na história. Alguns hominídeos, como os neandertais e os denisovanos, já viviam na Eurásia há cerca de 400 mil anos e se diferenciavam dos humanos há mais de 700 mil anos. Foi tempo suficiente para evoluírem em condições ambientais diferentes.
O ponto é que os ambientes em que os neandertais viveram na Eurásia estavam localizados em latitudes mais altas, com horários de luz do dia mais variáveis do que as paisagens onde os humanos modernos evoluíram nesse mesmo período.
De forma geral, o padrão e o nível de exposição à luz têm consequências biológicas e comportamentais que podem levar a adaptações evolutivas, ou seja, podem afetar o DNA, como se demonstra agora.
Bem mais recentemente, há cerca de 70 mil anos, os humanos começaram a sair da África e a chegar até a Eurásia, onde passaram a viver em latitudes mais altas. Eis que, no momento em que os diferentes grupos cruzaram, as variantes genéticas já adaptadas ao novo cenário — aquelas que favoreciam o ser matinal — acabaram entrando no DNA humano moderno e se perpetuaram por serem vantajosas, o que não aconteceu com a maioria do DNA neandertal.
Fonte: Genome Biology and Evolution e Oxford University Press (EurekAlert)