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Genes neandertais aumentam sensibilidade à dor em latino-americanos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 11 de Outubro de 2023 às 13h59

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Warren Umoh/Unsplash
Warren Umoh/Unsplash

Análises de DNA revelaram mais uma característica que os genes neandertais trazem aos humanos modernos — uma maior sensibilidade à dor. Também descobriu-se que esse traço é mais prevalente em populações nativo-americanas, incluindo as do Brasil, que também participou do estudo, publicado na revista científica Communications Biology na última terça-feira (10).

O gene em questão é o SCN9A, que tem três variações codificadoras de uma proteína que transporta de sódio às células e ajuda os nervos detectores de dor a enviar sinais. Quem traz qualquer uma das variantes no genoma fica mais sensível à dor causada por objetos pontiagudos, não afetando dores por calor, frio ou pressão.

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Um estudo de 2020 também havia investigado a ancestralidade europeia e ligado as variantes genéticas neandertais a um aumento na sensibilidade à dor. A nova pesquisa apenas estendeu a análise aos latino-americanos, e conseguiu definir qual tipo de dor está envolvida na atividade das variantes genéticas, o que era inédito.

Migração e dor neandertal

Para chegar às suas conclusões, os cientistas coletaram amostras genéticas de mais de 5.900 voluntários do Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. A média de ancestralidade ficou em 46% nativo-americana, 49,6% europeia e 4,4% africana, proporção que variou muito de pessoa para pessoa, no entanto. Cerca de 30% apresentaram uma das variações do gene SCN9A, chamada D1908G, e cerca de 13% tinham as outras duas, respectivamente V991L e M932L, que costumam aparecer juntas.

Os participantes do Peru tinham a maior proporção de ancestralidade nativo-americana, tendo as maiores chances de carregar as variedades neandertais nos genes, enquanto os brasileiros tinham a menor proporção e menos chances de apresentar tais genes.

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A ciência sabe que os humanos modernos (Homo sapiens) se miscigenaram com os neandertais (Homo neanderthalensis) entre 50.000 e 70.000 anos atrás, com nossos ancestrais cruzando da Eurásia para as Américas entre 15.000 e 20.000 anos atrás. A frequência dos genes neandertais nas populações das latinoamericanas mostra que os humanos miscigenados, por acaso, foram os migrantes.

Os testes relativos à dor foram feitos em mais de 1.600 voluntários da Colômbia, 56% dos quais eram mulheres, com 31% de ancestralidade latinoamericana, 59% europeia e 9,7% africana. À medida que aplicavam os exames, os cientistas pediram aos participantes que informassem ao primeiro sinal de desconforto. Seus genes também foram analisados caso a caso.

Uma das análises envolveu a aplicação de óleo de mostarda, que irrita a pele, no antebraço dos participantes. Após isso, foram aplicados filamentos plásticos de largura variável na mesma área da pele — filamentos mais largos exerceram mais força na pele já irritada.

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Quem tinha mais DNA neandertal indicou sentir dor com filamentos consideravelmente menores do que os sem tais genes, indicando maior sensibilidade. Testes com calor, pressão ou frio não mostraram diferenças, apenas os testes com dores “pontiagudas”.

É possível que essas variantes genéticas tenham dado alguma vantagem evolutiva aos neandertais e humanos que as herdaram, algum benefício de sobrevivência, mas não necessariamente por conta da sensibilidade à dor. Quem cruzou para a América teve de enfrentar frio e condições extremas, então os genes podem ter algum papel na habilidade de resistir às baixas temperaturas, por exemplo.

Sentir mais as dores por perfuração pode ter sido apenas um efeito adverso. Os mesmos genes já foram ligados à neuropatia de fibras finas, uma condição nervosa que leva à dor, e podem ter feito o mesmo com nossos antepassados neandertais. Resta, agora, a pesquisas futuras descobrir como as pressões evolutivas influenciaram na história desses genes e se isso realmente ajudou a evolução humana.

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Fonte: Communications Biology