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Cientistas criam decodificador que transforma pensamentos em linguagem

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Pressmaster/Envato
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Esqueça a ideia de chips implantáveis e as neurocirurgias! Cientistas norte-americanos abrem um novo caminho para compreender o cérebro humano e os nossos pensamentos, através de uma técnica não invasiva, o decodificador semântico. Segundo pesquisas iniciais, este novo sistema de Inteligência Artificial (IA) é capaz de traduzir atividade cerebral de uma pessoa em linguagem escrita.

De forma bastante surpreendente, os pesquisadores da Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, descobriram como transformar pensamentos em textos, através de uma técnica que envolve o exame de ressonância magnética — aquele feito comumente em hospitais — e uma nova interface cérebro-computador. O algoritmo é, em termos, semelhante ao usado pelo ChatGPT, da OpenAI, e pelo Bard, do Google. Os detalhes do estudo foram descritos na revista científica Nature Neuroscience.

Qual é a finalidade do decodificador de pensamentos?

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A ideia de conseguir interpretar os pensamentos de algum indivíduo — algo 100% íntimo — é assustadora, podendo ter consequências incalculáveis dependendo dos fins para os quais será usada. Antecipando-se a esses questionamentos, os inventores pontuam que a tecnologia deve ser usada apenas para ajudar pessoas que têm algum grau de consciência mental, mas não podem falar por complicações médicas, como Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Além disso, poderá ser, eventualmente, usada por aqueles que consentirem.

“Queremos garantir que as pessoas usem esse tipo de tecnologia apenas quando quiserem e que isso as ajude”, afirma o cientista Jerry Tang, um dos autores do estudo, em nota. Hoje, a missão ainda é simples, já que a tecnologia depende da colaboração dos usuários para funcionar.

Em uma primeira instância, o decodificador só é capaz de ler e interpretar as mentes nas quais ele foi treinado. O treinamento dura pelo menos 16 horas para ser concluído. Mesmo assim, os autores pontuam que, caso a pessoa desista da colaboração, ele poderá mudar constantemente de pensamentos e, com isso, impedirá a tradução. Os barulhos imprevisíveis também quebram a sequência de leitura.

Como funciona a tecnologia que transforma pensamentos em linguagem?

Para entender: a atividade cerebral dos usuários é medida a partir de um exame de ressonância magnética, após as horas de treinamento do decodificador. Nessa fase de treino, a pessoa fica escutando por horas podcasts ou assistindo vídeos, enquanto a máquina aprende como associar os sinais do cérebro com o que é captado pelo ouvido ou pelos olhos. Após este processo, ao ouvir ou imaginar uma história, a tecnologia conseguirá reconstruir as ideias que passaram pela mente da pessoa.

“Para um método não invasivo, este é um verdadeiro avanço em comparação com o que foi feito antes, que normalmente são palavras únicas ou frases curtas”, explica Alex Huth, outro autor do estudo. “Estamos desenvolvendo um modelo para decodificar linguagem contínua por longos períodos de tempo com ideias complexas”, acrescenta.

Testes práticos da nova tecnologia decodificadora

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Por enquanto, poucos voluntários passaram pelo treinamento e tiveram seus pensamentos interpretados pelo decodificador. No total, foram apenas três pessoas. Pelos resultados atuais, a tecnologia capta a essência do que está sendo dito ou pensado, com nível significativo de confusão. No entanto, as palavras-chave do raciocínio estão sempre presentes. Inclusive, os autores listam alguns exemplos:

  • Teste 1: o participante escuta alguém dizer “ainda não tenho carteira de motorista”, mas os pensamentos foram traduzidos para “ela ainda nem começou a aprender a dirigir”. A tradução acrescenta algo que não está presente na fala original, já que pessoas podem saber dirigir, mesmo que ainda não tenham habilitação;
  • Teste 2: em outro momento, o voluntário escuta o pensamento de um personagem — “eu não sabia se gritava, chorava ou fugia. Em vez disso, eu disse: 'Deixe-me em paz'”. O monólogo mental foi traduzido para “começou a gritar e chorar, e então ela falou: 'Eu disse para você me deixar em paz'”.

Por outro lado, a interpretação parece ser mais fiel quando envolve a capacidade visual do participante. Segundo os autores, o decodificador semântico foi capaz de usar a atividade cerebral para descrever com precisão momentos de vídeos que foram assistidos pelos voluntários.

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Próximos passos da pesquisa que planeja ler mentes

Além de seguirem com os testes e buscarem aperfeiçoar o decodificador, os cientistas querem aumentar a portabilidade da tecnologia. Embora sejam comuns, as máquinas de ressonância magnética só estão disponíveis em centros médicos e poucos institutos de pesquisa. A ideia é desenvolver formas de obter o mesmo estágio de compreensão com a espectroscopia funcional de infravermelho próximo. Esse outro método de monitoramento da atividade cerebral tem o formato de um capacete, sendo facilmente transportado.

A seguir, confira um exemplo genérico do outro método de monitoramento:

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Vale destacar que o Canaltech está acompanhando, há algum tempo, as pesquisas dos cientistas da Universidade do Texas. Inclusive, noticiamos a publicação do primeiro preprint, ou seja, o artigo que não passou pela revisão de outros pares. Agora, escrevemos sobre a publicação e descrição mais completa do decodificador, a partir do artigo (revisado) publicado em uma revista científica.

Fonte: Nature Neuroscience e Universidade do Texas