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Calor intensifica atendimentos médicos por dependência de álcool e drogas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Setembro de 2023 às 18h45

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StockSnap/Pixabay
StockSnap/Pixabay

Pela primeira vez, cientistas investigam a relação entre a temperatura média do dia e o número de atendimentos hospitalares relacionados com a dependência de álcool ou de drogas ilícitas. Pelo menos nos Estados Unidos, onde a pesquisa da Universidade Columbia foi realizada, os dias mais quentes coincidem com taxas mais altas na busca por atendimento médico emergencial associado com a dependência química.

Diante das mudanças climáticas e das ondas de calor mais frequentes — o que deve acontecer em todo o planeta, como prevê a Organização das Nações Unidas (ONU) —, esta pode ser uma potencial complicação para um problema de saúde pública já conhecido. É o que aponta o estudo publicado na revista científica Communications Medicine.

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“Observamos que durante os dias com temperaturas mais elevadas, há um aumento nas visitas ao hospital relacionadas ao uso [abusivo] de álcool e de outras substâncias, o que chama a atenção para as consequências menos óbvias das mudanças climáticas”, afirma Robbie M. Parks, professor assistente da universidade e um dos autores do estudo, em nota.

Dias quentes e os efeitos nos viciados em álcool

Para determinar a relação entre os dias quentes e a busca por ajuda médica em hospitais, os pesquisadores analisaram dados coletados entre os anos 1995 e 2014 no estado de Nova York. Entre as possíveis causas pelo atendimento, foram considerados os usos abusivos de:

  • Álcool, como cervejas e outras bebidas alcoólicas;
  • Cannabis (“maconha”);
  • Cocaína;
  • Opioides, como fentanil;
  • Medicamentos sedativos.

Neste intervalo de 20 anos, foi possível rastrear 671 mil atendimentos associados ao uso abusivo de álcool e outros 721 mil atendimentos relacionados ao uso de drogas ilícitas ou de medicamentos sem prescrição médica. Em paralelo, eles analisaram um registro abrangente das temperaturas diárias e a umidade relativa do ar no estado norte-americano.

Após cruzar os dados e usar um modelo estatístico para gerar novas percepções, os pesquisadores perceberam que os dias quentes coincidiam com os números em que a demanda por atendimento médico relacionado a algum tipo de vício se intensificava. Esta relação foi mais forte com o álcool que com as outras drogas analisadas.

Impacto das mudanças climáticas na saúde pública

“O nosso trabalho destaca como as visitas hospitalares devido a distúrbios relacionados com o álcool e outras substâncias são atualmente afetadas por temperaturas elevadas, e podem ser ainda mais afetadas pelo aumento das temperaturas, resultante da crise climática”, afirmam os autores, no artigo.

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Em outras palavras, os pesquisadores sugerem que, se as mudanças climáticas tornarem os dias mais quentes e as ondas de calor mais comuns, pode se consolidar uma nova demanda pelos atendimentos médicos relacionados ao abuso de substâncias químicas, como álcool e drogas. Isso sem contar o risco à saúde desses indivíduos em situação de vulnerabilidade.

O que explica a maior busca por atendimento médico nos dias mais quentes?

Aqui, é preciso pontuar que o estudo identificou apenas a relação entre os dois pontos — o calor e os atendimentos médicos —, mas não conclui qual é a causa. Para explicar a associação, os pesquisadores têm algumas teorias, como: nos dias quentes, o efeito da desidratação é maior e o uso do álcool pode acelerar ainda mais o processo, o que pode representar complicações para a saúde.

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Por outro lado, em dias mais quentes, as pessoas podem dirigir mais sob influência de substâncias que alteram a mente e sofrerem mais acidentes — porém, a causa que levou a busca pelos atendimentos não foi analisada. Em outra hipótese, o clima mais agradável pode ser apenas um incentivo direto para o uso de drogas.

Outra observação feita pelos autores é que a relação pode ser maior que a apontada. Se o clima for determinante para os problemas de saúde relacionados ao uso de álcool e outras drogas, é possível que uma parcela significativa das complicações não tenham sido registradas por resultarem em óbitos imediatos — sem passagem pelo hospital.

Diante dessas possibilidades, os cientistas sugerem que mais estudos sejam desenvolvidos nessa área. A partir dos dados já óbitos, alguns programas governamentais podem ser desenhados para prevenir os incidentes, como uma postura pró-ativa de campanhas contra o uso de substâncias ilícitas dias antes da elevação das temperaturas.

Fonte: Communications Medicine e Universidade Columbia