Overdose de fentanil mata quase 300 pessoas por dia nos EUA
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Diferente do Brasil, o principal desafio das equipes de saúde nos Estados Unidos envolve o uso de fentanil ilegal — um opioide com efeito anestésico, prescrito para o tratamento de dores intensas ou na hora da anestesia em um procedimento médico. Por lá, as overdoses causam quase 300 mortes diárias, sendo que a maioria envolve o fentanil misturado com outras drogas.
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Diante do número de mortes registradas em consequência do uso do fentanil ilegal, especialistas em saúde pública afirma que, hoje, os Estados Unidos enfrentam a quarta grande onda da crise de overdose por drogas, sendo que a primeira data o final da década de 1990.
Entenda o que causa as mortes por overdose nos EUA
Em estudo publicado na revista científica Addiction, os pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) afirmam que a atual onda de mortes por overdoses registrada nos EUA não é causada exclusivamente pelo fentanil.
Na verdade, parcela significativa dos usuários misturam o fentanil com outros compostos, propositalmente ou mesmo sem saber. Como os opioides usados quase nunca são comprados com receita médica, as pessoas recorrem ao mercado ilegal e compram misturas.
Entre as substâncias misturadas com o fentanil, estão benzodiazepínicos, tranquilizantes, outros opioides e estimulantes — neste último grupo, são incluídos a cocaína e a metanfetamina. Com essa variedade de composições, os autores pontuam que as overdoses são provocadas por “polissubstâncias envolvendo fentanis fabricados ilicitamente”.
Por que misturar drogas?
A mistura de diferentes substâncias está relacionada com a busca por sensações mais prolongadas dos tóxicos, explica Kim Blake, médica e ativista pelo controle do uso do fentanil, para a BBC. Em 2021, Blake perdeu seu filho após um quadro de overdose.
A quarta onda de overdoses por drogas nos EUA
Antes de chegar a esse atual cenário, os pesquisadores descrevem três ondas anteriores da crise de overdoses nos EUA. Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, a maioria das mortes envolvendo o uso excessivo de químicos era provocada pelo consumo de opioides prescritos por profissionais de saúde.
Em 2010, a segunda onda começou a ser identificada entre os óbitos associados com usuários de drogas. Nesse momento, o país observa a ascensão do uso da heroína. A partir de 2013, as overdoses foram impulsionadas por substâncias análogas ao fentanil, obtidas de forma ilícita.
Em pouco tempo, a situação piorou, sendo que, agora, as mortes estão conectadas com a mistura do fentanil com outras substâncias. Até então, os óbitos por overdose nunca foram tão comuns.
Evolução das mortes por fentanil
Para dimensionar o problema dos EUA, em 2010, os pesquisadores afirmam que menos de 40 mil pessoas morreram em decorrência de overdoses provocadas pelo uso de drogas. Desse total, menos de 10% dos óbitos tinham relação com o fentanil, de origem ilícita ou não. O principal problema era a heroína.
Em 2021, a situação é completamente diferente. Naquele ano, foram registradas 100 mil mortes por overdoses, sendo que mais de 65% estavam ligados com o fentanil ilícito. Em diferentes intensidades, o problema se espalha por todo o país e as autoridades ainda não descobriram uma forma de controle.
Como evitar mortes por fentanil?
Hoje, medicamentos de ação rápida, como um spray com cloridrato de nalmefeno, são indicados para salvar vidas nesses casos de intoxicação por fentanil. Como são a principal forma de reverter os quadros de overdose e impedir mais mortes, estão amplamente disponíveis.
Em paralelo, cientistas testam, ainda em estágio pré-clínico, uma vacina que pode impedir o vício em fentanil. Se os resultados forem positivos, esta pode ser uma esperança para conter o avanço da quarta onda das overdoses por drogas nos EUA.