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A tecnologia deixa você menos entediado — e isso não é bom. Entenda!

Por| Editado por Luciana Zaramela | 28 de Dezembro de 2022 às 21h30

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engin akyurt/Unsplash
engin akyurt/Unsplash

A onipresença e popularização das mídias sociais fez com que elas se tornassem parte integral da vida de bilhões de pessoas por todo o mundo. Agora, cientistas estão notando como elas evitam que fiquemos entendiados em um nível mais profundo. Mas, apesar de soar positivo, isso não é benéfico para nós. Um tédio profundo é um terreno fértil para a criatividade, e estarmos com a mente ocupada acaba nos roubando essa possibilidade.

Esse tédio profundo é diferente do tédio superficial, que costumamos sentir ao esperar pela chegada de um ônibus, aguardar o início da sua novela preferida ou a chegada do parceiro em um encontro, por exemplo. O tédio leve pode ser dissipado facilmente com uma olhada no que as pessoas estão postando nas redes sociais, mas isso acaba impedindo que você atinja o nível de tédio no qual a criatividade é contemplada.

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O que o tédio profundo proporciona?

Os efeitos de ficar entendiado profundamente podem ser, contraintuitivamente, bastante positivos se dermos uma chance para o pensamento e ao desenvolvimento de ideias, sem distrações.

O isolamento da quarentena durante a pandemia de covid-19 foi, de fato, um período trágico para muitas famílias, que perderam entes queridos, sofreram com condições físicas e mentais prejudicadas e tiveram toda sorte de problemas para enfrentar. Mas também vimos muitos relatos de pessoas que encontraram novos hobbies, carreiras ou perspectivas de vida diferentes durante o isolamento social.

Pesquisadores da Universidade de Bath conversaram com 15 pessoas que receberam licença do trabalho ou mudaram para o modelo de trabalho remoto durante a pandemia do coronavírus. Todos os participantes eram da Inglaterra ou Irlanda, mas suas profissões, idades e níveis de ensino variavam bastante.

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Com entrevistas estruturadas, eles puderam relatar como passaram seu tempo durante o isolamento, incluindo os sentimentos experienciados. Entre eles, é claro, estava o tédio, que apareceu com bastante frequência e era costumeiramente combatido com doomscrolling ("rolagem da desgraça", em tradução livre) — prática de rolar o feed das redes sociais sem foco, apenas consumindo tudo o que aparece na linha do tempo.

Os voluntários que chegaram ao ponto de sentir o tédio mais profundo e significativo relataram inquietação e vazio interior, mas essas sensações acabaram acompanhadas de um impulso para preencher a falta presente, o que foi reaizado com a prática de paixões como carpintaria, ciclismo, jardinagem e culinária, prazeres descobertos ou redescobertos com o isolamento.

Reflexões e problemas

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Os pesquisadores, é claro, reconhecem que muitos indivíduos não podem se dar ao luxo de sentar e não fazer nada por tanto tempo a ponto de sentirem o tédio profundo, capaz de beneficiar a criatividade. Eles também consideram que as redes sociais são importantes para manter o relacionamento ativo com familiares e amigos. Contudo, eles apontam para os problemas que podem surgir com o uso excessivo ou desnecessário da tecnologia, o que inclui o ato de "matar o tédio" o tempo todo na internet.

A diferenciação entre os níveis de tédio remetem ao filósofo alemão Martin Heidegger, que, há cerca de 100 anos, teorizava que este sentimento seria parte importante da vida, merecendo ser cultivado. Mas, desde então, acabamos indo na contramão, criando formas cada vez mais elaboradas de evitá-lo.

Alguns estudos já apontam que a mente à deriva advinda do tédio é uma fundação essencial para a aflorar a criatividade — o que, convenhamos, é uma ótima explicação para aquelas ideias geniais que parecem só surgir durante um banho mais demorado. Dar um tempo das redes sociais pode ser, no fim das contas, uma boa ideia para quem quiser redescobrir um hobby ou se aventurar em novas práticas prazerosas.

Fonte: Marketing Theory