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George R. R. Martin fala sobre solidão, tédio e rotina de escrita no isolamento

Por| 19 de Agosto de 2020 às 08h20

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George R. R. Martin fala sobre solidão, tédio e rotina de escrita no isolamento
George R. R. Martin fala sobre solidão, tédio e rotina de escrita no isolamento
George R. R. Martin

Em mais um post no seu blog oficial, que o próprio autor aponta como a única fonte confiável de informações sobre As Crônicas de Gelo e Fogo (a série de livros de Game of Thrones), George R. R. Martin comentou novamente sobre seu processo de escrita em isolamento nas montanhas.

"Estou de volta à minha fortaleza de solidão novamente, minha cabana isolada na montanha”, disse o autor, que já parece bem mais desanimado. Martin explicou que precisou sair do isolamento para resolver algumas coisas, mas que agora está de volta à montanha, “o que significa que estou de volta a Westeros, mais uma vez avançando com Winds of Winter”, disse para acalmar os fãs que há muito estão cobrando do autor o novo livro.

Martin ainda explicou que seu isolamento vai muito além dos cuidados com a pandemia e, na verdade, tem a ver com sua evolução como escritor:

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"É curioso como minha vida evoluiu. Houve um tempo em que eu realmente escrevi meus livros e histórias na casa onde morava, em um escritório doméstico. Mas algumas décadas atrás, querendo mais solidão, comprei a casa do outro lado da rua e fiz DAQUILO meu retiro de escritor. Não escreveria mais o dia todo com meu roupão de flanela vermelha; agora eu teria que me vestir, calçar os sapatos e atravessar a rua para escrever. Mas isso só funcionou por um tempo".

Ele então explicou que o isolamento que buscou não durou muito já que, com a fama, tornou-se cada vez mais necessária a contratação de assistentes para dar conta de e-mails, transações, contatos, investimentos, instituições de caridade e todas as outras atividades com as quais se envolve. “Apesar de toda a ajuda, estava me afogando até encontrar a cabana na montanha”, disse ele.

A solidão, no entanto, tem trazido consequências ao longo dos anos:

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"Minha vida aqui é muito chata, devo dizer. Verdade seja dita, dificilmente pode-se dizer que tenho uma vida. Eu tenho um assistente comigo o tempo todo (minions, como os chamo). Eles fazem turnos de duas semanas e têm que ficar em quarentena em casa antes de iniciar um turno. Toda manhã eu acordo e vou direto para o computador, para onde meu minion me traz café (Eu sou totalmente inútil e incoerente sem meu café da manhã) e suco, e às vezes um café da manhã leve. Então começo a escrever. Às vezes fico assim até o anoitecer. Em outros dias, paro no final da tarde para responder a e-mails ou retornar ligações urgentes. Meu assistente me traz comida e bebida de vez em quando. Quando eu finalmente interrompo o dia, geralmente próximo ao pôr do sol, há o jantar. Então assistimos à televisão ou a um filme. O Wi-Fi é péssimo na montanha, então as opções são limitadas. Em vez disso, leio algumas noites. Eu sempre leio um pouco antes de dormir; quando um livro realmente me pega, posso ler metade da noite, mas isso é raro".

Martin não parece estar passando pelo melhor momento da sua vida escrevendo o sexto livro da saga, o que se agravou com a pandemia, como demonstra ao continuar descrevendo a sua rotina:

"Eu durmo. No próximo dia, eu acordo e faço o mesmo. No dia seguinte, no dia seguinte, no dia seguinte... Antes da COVID-19, eu geralmente saía uma vez por semana ou mais para comer em um restaurante ou ir ao cinema. Tudo acabou em março. Desde então, semanas e meses se passaram sem que eu nunca saísse da cabana ou ver outro ser humano, exceto quem está de serviço naquela semana. Perco a noção de que dia, do que é semana, do que é mês. O tempo parece passar muito rápido. Agora é agosto e não sei o que aconteceu com julho".
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Apesar de dizer que isso “é bom para a escrita”, o autor agora se viu refletindo sobre sua solidão:

"E, sabe, agora que reflito sobre isso, estou começando a perceber que sempre foi meu padrão. Mudei-me para Santa Fé no final de 1979, de Dubuque, Iowa. Meu primeiro casamento acabou pouco antes dessa mudança, então cheguei em minha nova casa sozinho, em uma cidade onde não conhecia quase ninguém. Roger Zelazny estava aqui e se tornou um grande amigo e mentor, mas Roger era casado e tinha filhos pequenos, então eu realmente não o via com frequência. Não havia fandom em Santa Fé; tudo isso aconteceu em Albuquerque, a uma hora de distância. Eu ia às reuniões do clube todos os meses, mas isso acontecia apenas uma noite por mês e levava duas horas na estrada. E eu não tinha trabalho para conhecer novas pessoas. Meu trabalho era na sala dos fundos da casa da rua Declovina, então era lá que eu passava meus dias. À noite, eu assistia televisão. Sozinho. Às vezes, ia ao cinema. Sozinho".

Ele explicou que essa foi sua vida por alguns anos e deu mais alguns detalhes, refletindo que sua trajetória foi vivida na sua cabeça e nas páginas dos seus livros. Martin demonstra estar encarando o dilema entre os prazeres da produtividade e da vida social, aparentemente incompatíveis pelo tamanho e complexidade da sua obra. Ao final do texto, ele escreveu:

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"Eu me pergunto se é o mesmo para outros escritores? Ou é só comigo? Eu me pergunto se algum dia vou descobrir o segredo de ter uma vida e escrever um livro ao mesmo tempo. Certamente não descobri até agora. Por enquanto, é o que é. Minha vida está em casa, em espera, e estou passando os dias em Westeros com meus amigos Mel, Sam, Vic e Ty. E aquela garota sem nome, lá em Bravos".

O sucesso de As Crônicas de Gelo e Fogo certamente foi potencializado pela série Game of Thrones e a cobrança para a finalização do sexto livro ficou ainda maior com o descontentamento dos fãs após a conclusão da série, que foi bastante mal recebida pela crítica e pelo público. A nós, fãs, cabe também a compreensão. Em outro post, o autor já havia dado sinais desse pedido de empatia ao dizer que, com 71 anos, seu ritmo de escrita já não é mais o mesmo de antigamente.

Fonte: Not a Blog