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Vinhedos da Roma Antiga podem ajudar no combate às mudanças climáticas

Por| Editado por Luciana Zaramela | 08 de Janeiro de 2024 às 18h53

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Jacob Philipp Hackert/Domínio Público
Jacob Philipp Hackert/Domínio Público

Os romanos da antiguidade eram grandes consumidores de vinho, com a média do consumidor masculino da época bebendo um litro ou mais da bebida diluída todos os dias. Sendo remédio, droga e bebida ritual, a civilização tinha de ter um jeito eficiente de produzi-la, e mostraram excelência nisso — o cultivo da uva era bastante difundido e lucrativo.

O cientista Dimitri Van Limbergen, da Universidade de Ghent, estudou os métodos romanos e descobriu que eles eram muito mais eficientes do que os atuais e, ainda por cima, mais saudáveis à natureza, nos revelando um meio curioso para ajudar no combate às mudanças climáticas.

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O segredo dos romanos é o que conhecemos hoje como Agrossilvicultura, ou seja, a prática de cultivar plantações junto com árvores e outras plantas para maximizar a produção. Sabemos como os antigos faziam isso através de arqueologia, literatura antiga e fontes de estudo modernas.

Como os romanos plantavam uvas

Desde antes de Cristo, os habitantes da Roma Antiga plantavam seus vinhedos ligando os ramos em árvores presentes em plantações de cereais e vegetais, sistema chamado de “arbustum”. Atualmente, os vinhedos ficam pendurados em estruturas finas e relativamente baixas, mas os romanos cultivavam as uvas em árvores altas, as colhendo com escadas longas, como pode ser visto em artes de mosaicos a sarcófagos.

Isso era feito principalmente por camponeses, uma forma garantir a subsistência ao combinar diversas colheitas no mesmo espaço de terra. Escritores como Plínio e Columela recomendavam o uso de árvores de crescimento rápido e com muita folhagem para a prática, já que protegiam as videiras de animais.

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Outra recomendação era a de plantar em terreno baixo, plano e úmido, comum à península italiana. Isso pode soar estranho a quem cultiva uvas atualmente, já que a planta não lida bem com água em excesso, já que a condição atrai fungos.

Benefícios do arbustum

As terras baixas e planas eram ideais para a centuriação, processo romano de divisão da terra em grade. Como o método do arbustum sobreviveu até a Itália do século XX, especialistas puderam analisar documentos recentes sobre o tema, descobrindo os segredos de seu funcionamento. Os romanos usavam principalmente choupos, ulmeiros, sabugueiros, salgueiros, bordos e freixos, todas árvores que crescem bem em regiões úmidas por absorver muita água em seu rápido crescimento.

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Isso faz com que essas plantas eliminem o excesso de umidade do solo, funcionando como uma bomba d’água e contribuindo para a drenagem da área. As raízes mantinham as videiras saudáveis e produzindo bem, longe da ameaça dos fungos. Ao crescer alto — chegando entre 15 metros e 20 metros de altura —, não apenas era evitada a umidade, mas também maximizado o impacto do sol, amadurecendo melhor as uvas e balanceando a sombra das folhagens com a exposição ao sol.

O microclima do vinhedo também era melhorado pelo método, como pôde ser visto nas plantações pré-industriais de Portugal, diminuindo o impacto das geadas invernais e protegendo contra o vento forte, além de reduzir a distribuição indesejada de sementes. O método foi expandido entre 200 a.C. e 200 d.C., época conhecida como Ótimo Climático Romano, quando o crescimento do Império Romano coincidiu com um clima especialmente quente.

Isso quer dizer que a tática do arbustum conseguia evitar as doenças e pestes trazidas pelo calor, como demonstrado por experimentos modernos feitos na França. Organizações como as Nações Unidas já indicaram os benefícios da agrossilvicultura em meio ao aquecimento global e os extremos climáticos, o que reforça a engenhosidade dos antigos romanos: podemos aprender muito com seus métodos, usando táticas milenares para sobreviver melhor junto aos vinhedos em meio à incerteza ambiental do nosso século.

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Fonte: Revue belge de Philologie et d'Histoire, The Conversation