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Sibéria está tendo os verões mais quentes dos últimos sete mil anos

Por| Editado por Rafael Rigues | 29 de Agosto de 2022 às 18h45

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Vladimir Kukarskih
Vladimir Kukarskih

O norte da Sibéria ocidental vem experimentando os verões mais quentes dos últimos 7 mil anos de sua história: a temperatura da região passou por uma queda geral por alguns milhares de anos, mas isso mudou a partir do século XIX, quando as temperaturas começaram a subir tanto que chegaram ao valor mais alto das últimas décadas. As descobertas vêm de um estudo de dendrocronologistas da Academia Russa de Ciências e da Universidade Federal dos Urais.

A dendrocronologia é uma técnica de datação baseada nos anéis de crescimento das árvores, e ajudou os autores a criar uma cronologia com base na largura observada nos anéis de árvores sub-fossilizadas na península Yamal, no norte da Rússia. Stepan Shiyatov, fundador da dendrocronologia no país, foi o primeiro a reconhecer o valor das informações armazenadas nos anéis de antigas árvores ali para reconstruir a história do clima.

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Os anéis das árvores podem ser considerados excelentes arquivos naturais das condições do passado, incluindo a temperatura do ar. As árvores que crescem em regiões subpolares a altas altitudes são, normalmente, mais sensíveis a mudanças de temperatura, e os remanescentes daquelas que existiram há milhares de anos ajudam os pesquisadores a entender melhor como eram as condições no passado.

Pensando nisso, Shiyatov começou a coletar amostras de madeira sub-fossilizada há 40 anos: ao longo de dezenas de expedições, e ele e seus colegas conseguiram mais de 5 mil amostras. Depois, a equipe coletou medidas dos anéis delas, e conseguiu determinar as datas de cerca de 2 mil amostras. Com isso, eles chegaram a informações de alta precisão do ano de formação de cada anel ao longo dos últimos 8.800 anos, constituindo a maior cronologia de anéis de árvores já feita nas regiões polares.

Os autores esperavam que, devido às mudanças da órbita da Terra, houvesse uma queda gradual na incidência de energia solar durante o verão e, consequentemente, da temperatura nas latitudes subpolares do hemisfério norte nos últimos 8 milênios. "Contudo, conforme o registro das árvores em Yamal, essa tendência de resfriamento foi interrompida no meio do século XIX, quando a temperatura começou a subir muito rapidamente e chegou aos maiores valores nas últimas décadas", disse Rashit Hantemirov, coautor do estudo.

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Eles observaram que, independentemente do tamanho do período considerado, o mais recente foi também o mais quente. “A excepcionalidade do aquecimento moderno é corroborada por observações de que o último século foi caracterizado por uma falta total de extremos frios, contrastados pela ocorrência de 27 anos de calor extremo, sendo que 19 deles ocorreram nos últimos 40 anos”, acrescentou Rashit.

Por fim, eles estão confiantes que as atividades humanas não apenas influenciam as mudanças climáticas, mas também se tornaram a principal causa delas — principalmente na Sibéria ocidental. A equipe planeja continuar pesquisando a cronologia climática, e espera estender a reconstrução do clima para mais 2 mil anos no passado.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Communications.

Fonte: Nature Communications; Via: Ural Federal University