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Por que a temperatura do oceano no hemisfério Sul está aumentando?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 10 de Outubro de 2022 às 16h52

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Imagem: Hiroko Yoshii/Unsplash
Imagem: Hiroko Yoshii/Unsplash

Um recente estudo científico aponta uma possível causa para o aumento na temperatura do oceano abaixo da Linha do Equador. As correntes marítimas responsáveis pelo transporte de calor através dos oceanos têm se deslocado cada vez mais em direção ao sul sob grande influência do movimento dos ventos na atmosfera.

Se você já assistiu a Procurando Nemo, deve lembrar do conceito de correntes marítimas. Da mesma forma que o vento é a movimentação do ar na atmosfera, as correntes são os movimentos das águas oceânicas. No filme, ainda que representada de forma exagerada em termos de velocidade e largura (no mundo real, elas são mais lentas e mais largas), Marlin e Dory pegam carona na Corrente Leste Australiana. Ela existe de fato e flui ao longo da costa oriental deste país.

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O oceano atua como um grande regulador da temperatura na Terra. Mais de 90% do calor excedente produzido pela queima de combustíveis fósseis é absorvido pelos mares, mas ele não é distribuído de maneira uniforme nos oceanos. As correntes possuem um papel importante neste processo.

Onde estão as correntes marítimas?

As correntes estão presentes em ambos os hemisférios, mas seu aquecimento tem sido mais notado no sul, onde passam pelas costas de regiões populosas como o Brasil, a África do Sul e a já citada Austrália. Mas em qualquer parte do globo, estes “rios marinhos” são de vital importância para o clima global. A Europa, por exemplo, seria muito mais fria se não fosse a Corrente do Golfo.

No hemisfério sul, as três principais correntes são a Corrente do Brasil no Oceano Atlântico, a Corrente das Agulhas no Índico e a Leste Australiana no Pacífico.

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Todas elas são responsáveis por concentrar e transportar este calor dos trópicos em direção aos polos. Isto ajuda a regular o clima nas regiões costeiras, além de influenciar parâmetros como salinidade, disponibilidade de nutrientes e gases dissolvidos nos ecossistemas marinhos.

O que os cientistas da Universidade de New South Wales, na Austrália, descobriram é que fortes ventos nas regiões dos trópicos têm levado as correntes marítimas cada vez mais para o sul do planeta, criando áreas de concentração de calor.

O que os ventos têm a ver com isso?

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Diferentes movimentos de ar em grande escala predominam em certas regiões do planeta. Nas zonas tropicais e subtropicais, abrangendo todo o território brasileiro, o padrão dos ventos é de leste para oeste, os chamados ventos alísios. Dá para imaginar que estes foram grandes aliados na época das navegações para que os europeus chegassem às costas do Brasil.

Já abaixo da zona subtropical, ao sul do Uruguai, o movimento dos ventos é de oeste para leste. Estes ventos carregam frentes frias e formam chuvas em regiões como o norte da Austrália e o Sudeste brasileiro.


O que o estudo dos pesquisadores australiano revelou é que os ventos alísios têm se movido cada vez mais em direção ao sul, empurrando consigo as correntes marítimas que também fluem neste sentido.

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Como isso aumenta a temperatura do oceano?

Na prática, o que se observa é um movimento contínuo de calor em direção ao sul. O estudo aponta para um deslocamento de cerca de 33 quilômetros da Corrente Leste Australiana desde o início da década de 90. Já a Corrente do Brasil tem se movido cerca de 46 quilômetros por década na mesma direção.

Neste processo, por carregar mais energia, as correntes tendem a formar mais redemoinhos, e eles não são pequenos. Variando entre 20 e 200 quilômetros de diâmetro, estes fenômenos acabam se tornando os responsáveis por levar a água quente a mares mais frios.

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Embora o calor transportado pelas correntes estejam aumentando, elas não estão se tornando mais fortes. Na verdade, a ação dos redemoinhos faz com que seu comportamento seja mais instável e água quente escape da corrente, atingindo as regiões costeiras e profundidades que não atingiria antes.

O elo mais fraco da corrente

Mas o aquecimento dos oceanos não significa uma temperatura mais agradável na água durante as férias de verão. O impacto na temperatura e em outros parâmetros químicos da água afeta diretamente a vida marinha. Talvez Marlin e Dory não chegassem a P. Sherman, 42 Wallaby Way, Sydney com a Corrente Leste Australiana impactada.

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Um aumento sutil na temperatura dos mares já pode causar um enorme desequilíbrio nos ecossistemas aquáticos e, consequentemente, a morte de milhares de peixes, como descreve um artigo recente da revista Science.

Além do prejuízo imediato à fauna, também decorre disso um grande impacto econômico e social às milhões de pessoas que vivem nas áreas costeiras de países como o Brasil, África do Sul e Austrália.

Todo o clima destas regiões pode ser impactado. Como o regime de chuvas também é afetado, fenômenos de seca tendem a se tornar mais frequentes e mais intensos.

Ajustando as velas

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Os cientistas responsáveis pelos estudos planejam aprofundar os estudos sobre estes aumentos de temperatura com uma viagem a campo a bordo do navio de pesquisa australiano RV Investigator.

Além disso, a NASA deve lançar em breve um novo satélite para monitorar os redemoinhos gerados nas correntes, dando uma nova luz às pesquisas no assunto.

Fonte: The Conversation, Science; Via: ScienceAlert, National Geographic