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Oceano Antártico absorve quase todo o excesso de calor da atmosfera

Por| Editado por Patricia Gnipper | 09 de Setembro de 2022 às 10h25

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Ivankmit/Envato Elements
Ivankmit/Envato Elements

Os oceanos são grandes agentes na desaceleração do aquecimento global, absorvendo cerca de 40% das emissões de dióxido de carbono do planeta e mais de 90% do excesso de calor da atmosfera nos últimos 50 anos. Um dos oceanos do nosso planeta, no entanto, está fazendo muito mais trabalho do que os outros, segundo um artigo publicado na revista Nature Communications na última quinta-feira (8).

A partir de um modelo computacional global dos oceanos, determinou-se que o Oceano Antártico, ou Austral, é quem tem dominado a absorção de calor da Terra. O problema é que isso faz com que ele também seja o que mais esquenta, e, considerando que o calor preso no fundo dos oceanos demore milênios para retornar à superfície, as consequências disso podem ser irreversíveis.

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Como saber qual oceano esquenta mais?

Com o calor, a água se expande e o gelo derrete, colocando estresse sobre os ecossistemas marinhos e aumentando a intensidade e a frequência de climas extremamente quentes. É difícil medir o aquecimento dos oceanos, no entanto, já que mudanças de temperatura na atmosfera e na superfície do oceano se confundem, e não há como saber de onde exatamente o excesso de calor entra no mar.

Além disso, é impraticável monitorar a temperatura de todo o oceano, especialmente no fundo, em locais remotos como as profundezas abaixo do gelo antártico. Não temos, também, dados muito antigos para comparativo: dados confiáveis abaixo de 700 metros praticamente não existem antes dos anos 1990.

Para as simulações, então, os cientistas fizeram uma simulação dos oceanos nos anos 1960, antes dos danos climáticos causados pelos seres humanos realmente fazerem alguma diferença: algumas bacias oceânicas foram movidas para a frente no tempo, enquanto outras foram mantidas no clima de 1960.

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Os efeitos do aquecimento atmosférico também foram separados dos dados sobre as mudanças superficiais causadas pelo vento para checar o quanto cada fator contribuir para o aquecimento oceânico. Com isso, descobriu-se o papel do Oceano Austral, que cobre apenas 15% da superfície oceânica total. Como os oceanos Pacífico e Atlântico perdem o calor ganho para a atmosfera, o Oceano Antártico fica com quase todo o calor absorvido no planeta.

De acordo com os cientistas, o oceano em questão absorve tanto calor devido a questões geográficas, já que recebe ventos do oeste sem interrupção por porções de terra no meio do caminho. Assim, massas de água fria são trazidas à superfície. Levada para o norte, a água fria absorve grandes quantidades de calor da atmosfera mais quente, antes de jogar o calor excessivo ao interior oceânico.

O efeito estufa e a circulação marítima causada pelos ventos também ajuda a aquecer e enviar o calor para o fundo do oceano. Combinando os efeitos exclusivos ao Oceano Austral com a simulação dos dados deixando os outros mares nos anos 1960, é possível explicar quase toda a absorção de calor global oceânica. Outras bacias esquentam, sim, mas o ganho atmosférico local não é suficiente para explicar esse aumento — o calor vem do Oceano Antártico.

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Consequências

Um dos impactos vai para o krill antártico, que, ao receber um calor além do que pode aguentar, viaja mais para o sul, até águas mais frias. Como é parte importante da cadeia alimentar, suas populações mudam a distribuição e a população de grandes predadores, como alguns peixes pescados comercialmente. Os pinguins e baleias também são afetados por tais mudanças.

Ainda há muito a descobrir obre o tema, especialmente considerando que não temos dados de 50 anos para trás. Se o Oceano Austral continuar a absorver tanto calor, em 2100 ele terá esquentado 7 vezes o que esquentou até hoje, afetando a vida na Terra muito além dos derretimentos polares e cadeias alimentares marinhas. É preciso rever nossas emissões de carbono — e estudar muito, muito mais.

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Fonte: The Conversation