Poluição por retardantes de chamas ameaça animais marinhos e terrestres
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Diversas pesquisas indicam que centenas de espécies animais estão sendo contaminadas por retardantes de chama altamente tóxicos, chegando a causar declínio populacional em algumas delas. A natureza tem sofrido com a substância em todos os continentes, afetando de raposas-do-ártico e linces a ouriços-do-mar. Em espécies ameaçadas de extinção, como chimpanzés, pandas vermelhos e orcas, os níveis do poluente são especialmente preocupantes.
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A análise, que compilou muitos estudos sobre retardantes de chamas — que impedem a proliferação rápida de fogo em tecidos, móveis, eletrônicos e forros automotivos, por exemplo —, foi feita pela cientista Lydia Jahl, que se surpreendeu com o nível de contaminação encontrado, mesmo esperando números altos. Foram examinados mais de 20 anos de pesquisas, descobrindo os locais e aimais mais afetados.
Notou-se a presença de PDBEs (éteres difenílicos polibromados) e PCBs (bifenilos policlorados), já descontinuados, por todo o mundo, mas também novos produtos químicos que os substituíram e seriam supostamente inofensivos, como parafinas cloradas e organofosfatos.
Acredita-se que todos sejam, na verdade, tóxicos, com vários de seus compostos sendo ligados a câncer de rim, tireoide e fígado, bem como efeitos prejudiciais no QI, atenção e memória de crianças. Jahl comenta que os avanços tecnológicos humanos dificilmente leva em conta os impactos para os pessoas e vida animal — os mais afetados nunca são os que poluem, mas sim comunidades de cerca (que vivem perto de fábricas, centros industriais e bases militares), tartarugas, golfinhos, borboletas e raposas.
Retardantes de chama na natureza
Os mesmos efeitos vistos em humanos também se aplicam aos animais. Retardantes de chama são substâncias bastante persistentes na natureza, já que demoram décadas para serem degradadas, se acumulando no organismo de alguns animais. À medida que predadores se alimentam deles, os produtos acabam se acumulando em quantidades cada vez maiores à medida que escalam a cadeia alimentar.
Grandes mamíferos marinhos e aves de rapina são os que mostraram os maiores níveis dos compostos, suspeitos de diminuir consideravelmente a população de orcas (Orcinus orca), já que prejudicam muito seus filhotes e sistema imune. Algumas estimativas chegam a dizer que os produtos químicos presentes nos retardantes de chamas podem cortar a população desses cetáceos pela metade nos próximos anos.
Rãs-de-pintas-pretas (Pelophylax nigromaculatus) que vivem próximos a depósitos de lixo eletrônico na China também carregam quantidades extremas dessas substâncias, que parecem estar diminuindo o tamanho de seus fígados e ameaçando seus ovos.
Não só animais próximos são afetados, no entanto — chimpanzés (Pan troglodytes) do parque nacional de Uganda, no interior da África, muito distantes de qualquer fábrica ou depósito de lixo de retardantes de chamas, também apresentam alta presença dos poluentes no corpo.
Para piorar o cenário, pesquisas mostram que os retardantes de chamas mostram pouca eficiência, ainda sendo baseados em padrões criados em 1970. À época, pouco se sabia sobre sua toxicidade, e regulamentações pediram por seu uso em materiais inflamáveis. A população tabagista também era consideravelmente maior na década.
Alguns países já começaram a eliminar ou revisar os padrões sobre produtos inflamáveis. Não há porque, segundo Jahl, continuar usando produtos que parecem benéficos, mas não mostram eficiência — e ainda apresentam ameaças duradouras à saúde. É preciso revisar os dados sobre os retardantes de chamas, que antes eram basicamente inexistentes, e parar de usá-los. Ainda por cima, é extremamente difícil retirá-los da natureza.