Produtos químicos eternos: empresas encobriram riscos à saúde por décadas
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
Você sabe o que são produtos químicos eternos? Essas substâncias, também chamadas de "PFAS", resistem muito bem à deterioração. A indústria usa em produtos que vão desde embalagens de fast-food até panelas antiaderentes e roupas impermeáveis. Em um relatório recentemente apresentado no Annals of Global Health, cientistas alertaram que as fabricantes desses produtos já sabiam dos riscos à saúde décadas antes disso ser posto a público.
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Os pesquisadores analisaram documentos anteriormente secretos da indústria que mostram que a DuPont e a 3M, os maiores fabricantes de PFAS, sabiam dos efeitos adversos pelo menos 21 anos antes.
“Esses documentos foram todos marcados como 'confidenciais' e, em alguns casos, os executivos da indústria deixam explícito que 'queriam este memorando destruído'”, escreveram os autores. As indústrias atrasaram a conscientização do público sobre as consequências ecológicas e de saúde dos PFAS e se opuseram às regulamentações dessas substâncias.
Os documentos vão de 1961 a 2006 e foram descobertos em uma ação movida pela primeira pessoa a processar uma empresa por contaminação de PFAS.
“Ter acesso a esses documentos permite ver não só o que os fabricantes sabiam e quando, mas também como as indústrias poluidoras mantêm privadas as informações críticas de saúde pública”, afirmam os cientistas.
Malefícios dos produtos químicos eternos
Diversos estudos destacam os malefícios dessas substâncias. Para se ter uma noção, produtos químicos eternos podem causar prejuízos ao fígado, segundo estudo publicado na revista científica Environmental Health Perspectives. A exposição a esses materiais está ligada a níveis elevados de alanina aminotransferase (ALT), uma enzima hepática que indica danos no órgão em questão.
Além disso, produtos químicos eternos aumentam risco de câncer de fígado. Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade da Califórnia encontrou ligações entre o sintétito sulfonato de perfluorooctano (PFOS) e o câncer da fígado — mais especificamente, o carcinoma hepatocelular não viral.
Anteriormente, um artigo publicado na revista Environmental Research apontou que peixes contaminados com produtos químicos eternos representam riscos à saúde: o consumo anual de uma única porção de espécies de água doce é equivalente à ingestão de água potável contaminada com PFAS durante um mês.
Fonte: Annals of Global Health, IFL Science, Environmental Research, JHEP Reports