Publicidade

O que são "produtos químicos eternos", presentes em utensílios domésticos?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

Compartilhe:
Magone/Envato Elements
Magone/Envato Elements

As substâncias químicas chamadas "PFAS", corruptela de perfluoroalquil e polifluoroalquil, são chamadas costumeiramente de produtos químicos eternos, ou permanentes, pois resistem muito bem à deterioração — para falar a verdade, bem demais. Justamente por isso, a indústria os utiliza em produtos que vão desde combustível para jatos e espuma anti-incêndio até embalagens de fast-food e de pipoca de micro-ondas, além de panelas anti-aderentes e roupas impermeáveis.

Esses produtos químicos sintéticos foram popularizados nos anos 1940, desde que as indústrias notaram sua resistência ao calor, à gordura, manchas e água. Após as benesses trazidas pela utilidade dos PFAS, agora a discussão está se voltando aos revezes: embora não exista um consenso científico, essas substâncias vêm sendo associadas a problemas de saúde, como deficiências no sistema imune, no fígado e rins, além de problemas congênitos e maior risco de desenvolver câncer.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Polêmicas com o uso de PFAS

A resistência e permanência desses químicos eternos torna a questão de seu uso complicada. Eles ficam na água potável e até mesmo na corrente sanguínea humana, onde já foram detectados, e ficam lá para sempre. Pesquisas nos Estados Unidos encontraram produtos da categoria em abacaxis, batatas doces, carne, frutos do mar, chocolate ao leite e bolos de chocolate. Na indústria, cerca de 9.000 tipos de PFAS são utilizados.

Por que o uso desses compostos continua?

Um dos motivos é a falta de conscientização. Além de fabricantes não relatarem a presença de PFAS em seus produtos, alguns sequer percebem que os estão utilizando. Há falta de regulamentação e, além do desconhecimento, muitos consumidores não têm tempo ou motivação para escrever às empresas e governos cobrando notificações e medidas quanto a isso.

Riscos à saúde

Alguns estudos buscaram avaliar ameaças dos PFAS à saúde: em animais, foram encontradas evidências de problemas reprodutivos e no desenvolvimento de filhotes, além de atrapalhar funções do fígado, rins e do sistema imune. Em humanos, a presença dessas substâncias foi ligada a maiores níveis de colesterol, disfunções no sistema endócrino e imune e risco aumentado de câncer.

Até o momento, no entanto, é difícil apontar todos os efeitos potencialmente causados por esses compostos, bem como quais seriam os níveis "seguros" da presença deles no corpo, se é que eles existem.

Restrições de uso

Continua após a publicidade

As restrições atualmente em vigor são poucas. No ano passado, a província estadunidense do Maine foi a primeira do mundo a proibir a venda de produtos contendo PFAS a partir de 2030, com a exceção de casos onde o uso é considerado inevitável, como em alguns produtos médicos. Além disso, a União Europeia restringiu alguns tipos e usos de produtos da categoria — alguns ativistas e governos, no entanto, pedem uma regulamentação dos PFAS como um grupo único de substâncias.

Às fabricantes, foi solicitado que forneçam mais informações sobre as escolhas de produtos alternativos, e o Conselho Europeu da Indústria Química (CEFIC) solicitou mais clareza acerca de como seriam categorizados os "produtos essenciais" que utilizam PFAS na fabricação.

Existem alternativas aos PFAS?

Continua após a publicidade

Algumas empresas têm corrido atrás de fabricar compostos que possam substituir os PFAS, como a sueca OrganoClick. Ela substituiu o PTFE, ou politetrafluoroetileno, composto usado em tecidos impermeáveis, por um produto próprio chamado OrganoTex. A indústria têxtil tem sido a mais avançada no uso de produtos alternativos, embora os plásticos que as substituem nas roupas impermeáveis — melhores para a saúde humana — ainda sejam prejudiciais ao meio ambiente.

Um dos tipos mais comuns de PFAS é o teflon, patenteado pela empresa estadunidense DuPont em 1941, que é basicamente PTFE. A utilidade do composto o levou a estar presente desde em tecidos e frigideiras a trajes de astronautas e escudos térmicos da NASA. Embora no espaço esse uso seja praticamente essencial, em ambientes domésticos, o produto é substituível.

A OrganoClick, por exemplo, diz que seus produtos utilizam moléculas orgânicas repelentes de água, como as presentes nas folhas de lótus e asas de cigarra, substituindo químicos sintéticos eternos. Ainda assim, caminho é longo, já que as mesmas características que fazem os PFAS úteis são as que os tornam perigosos, então produzir um substituto tão resistente, mas menos prejudicial é difícil de conseguir.

Continua após a publicidade

Alguns substitutos, embora tenham desempenho diferente, já conseguem atender às necessidades de desempenho da maioria dos casos, mas ainda assim é necessário haver muita pesquisa para atingir todos os diferentes usos das PFAS na indústria. Além disso, há o desafio de fazer com que os consumidores comprem os produtos substitutos.

Recentemente, falamos sobre uma pesquisa australiana que viu uma redução na quantidade de PFAS no corpo humano após doações de sangue e de plasma, aqui no Canaltech. Os bombeiros, devido à exposição a espumas anti-incêndio contendo os químicos eternos, são um dos grupos mais afetados pelos compostos químicos.

Fonte: American Chemical Society, BBC