Maior iceberg do mundo encalha em ilha remota do Atlântico
Por Lillian Sibila Dala Costa |

O maior iceberg do mundo — A23a — encalhou nos baixios, ou águas rasas da ilha da Geórgia do Sul, território ultramarino britânico. Milhões de focas e pinguins vivem na ilha, e serão afetados tanto positiva quanto negativamente pelo incidente com o gigante de gelo.
Com cerca de duas vezes o tamanho da cidade de São Paulo, a plataforma gelada ficou travada na posição onde encontra rochas rasas e deve quebrar na costa da ilha. Entre os afetados locais estão os pescadores, que terão de contornar o iceberg para trabalhar, e os pinguins-de-testa-amarela, que se alimentam na região.
Efeitos do iceberg no mar
Apesar de afetar o habitat dos pinguins negativamente, o iceberg não é de todo ruim para a vida local. Toneladas de nutrientes estão guardadas no gelo, que, à medida que derrete, os libera no mar, nutrindo formas de vida que “explodirão” no local, segundo pesquisas recentes.
Um estudo de fevereiro, por exemplo, publicado na revista científica Climate of the Past, acompanhou o rastro de vida microscópica prosperando no trajeto do A23a. Para os navios, no entanto, pode haver perigo se o gelo se quebrar em icebergs menores, atrapalhando o fluxo naval e impedindo a chegada a campos de pesca.
O encalhe do iceberg é a última atualização de um trajeto de 40 anos desde que ele se desligou da Plataforma de Gelo Filchner-Ronne, em 1986. O A23a se moveu após 30 anos preso no leito marinho e ficou em um vórtex oceânico em dezembro passado, antes de se mover para o norte e acelerar em meados de fevereiro, chegando a viajar a 30 km por dia.
No último sábado (1), o iceberg de 300 metros de altura acertou a plataforma continental a cerca de 80 km da terra sul-georgiana, ficando preso. Assim como todos os icebergs, ele deve eventualmente derreter: da sua área original de 3.900 km², já sobra cerca de apenas 3.234 km², segundo estimativas.
Segundo Andrew Meijers, da Pesquisa Antártica Britânica, as marés deverão balançar o gelo para cima e para baixo, erodindo tanto as rochas quanto o gelo. Caso as águas congeladas abaixo da superfície estejam “podres”, isto é, comidas pelo sal, irão se desfazer e se mover em direção a áreas mais rasas.
No local de contato, vivem corais, lesmas-do-mar e esponjas, que estão tendo seu habitat terraplanado pelo iceberg. Para essas criaturas, o perigo imediato é mortal.
Além disso, o gelo libera água doce em meio ao sal, diminuindo a quantidade de seres como o krill, que alimenta os pinguins locais. Eles provavelmente terão de buscar outros campos para se alimentar, competindo com outras criaturas marinhas.
Segundo estudos, no entanto, o gelo antártico é importante para os ciclos de vida dos ecossistemas marinhos: alimentando o fitoplâncton e suportando inúmeros animais, como a baleia-azul, os nutrientes do gelo são parte dos processos naturais. Há de se cuidar, no entanto, pela instabilidade que o excesso de nutrientes pode causar com as mudanças climáticas e o derretimento de gelo demais nos mares antárticos.
Leia também:
- Geleira na Antártida está derretendo e pode causar o "Juízo Final"
- Iceberg maior que BH se desprende de plataforma de gelo na Antártida
- Movimento de icebergs gigantes pode afetar vida marinha e rotas de navios
VÍDEO: Ideias mirabolantes para evitar o aquecimento global [CT Inovação]