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Luzes misteriosas brilharam no céu do Marrocos antes do terremoto

Por| Editado por Luciana Zaramela | 15 de Setembro de 2023 às 11h35

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Evonneyu/CC-BY-4.0
Evonneyu/CC-BY-4.0

Segundo relatos de quem estava no Marrocos quando o terremoto que assolou Marraqueche e cercanias na sexta-feira passada (8), luzes misteriosas brilharam nos céus, algo aparentemente sem relação, mas que possui precedentes nos registros históricos.

O terremoto, de magnitude 6,8 na escala Richter, atingiu a Cordilheira do Atlas, no leste do país, matando cerca de 2.900 pessoas e ferindo mais 5.500. Nas redes sociais, o burburinho acerca de vídeos do incidente se deu, em grande parte, pelos intrigantes fachos de luz que corriam pelo céu antes do sismo acontecer. O que são eles?

Luzes de terremoto pela história

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Curiosamente, Marrocos não tem pioneirismo nas luzes de terremoto — elas já foram reportadas inúmeras vezes, desde centenas de anos atrás, indo de clarões com duração de segundos a bolas de fogo que chegavam a durar minutos ou até horas. Também há relatos de luzes baixas e luzes altas no céu, e de muitas cores diferentes.

Um dos problemas na detecção do fenômeno é que não há como prever quando um terremoto irá surgir, o que dificulta muito registrar o evento para estudo, especificamente. Há de se contar com os relatos de testemunhas, que nem sempre são confiáveis. Por muito tempo, sem ter como provar que tais luzes não passavam de alucinações coletivas ou algum tipo de viés, os cientistas não levaram essas histórias muito a sério.

Isso só foi mudar nas últimas décadas, com o advento de câmeras de segurança e celulares com câmeras de fácil acesso, o que permitiu produzir vídeos de antes, durante e depois de sismos. O primeiro registro inegável veio como uma série de fotografias luminosas tomadas durante um terremoto em 1965, na cidade japonesa de Nagano.

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Desde então, o fenômeno foi capturado inúmeras vezes — as luzes sísmicas puderam ser vistas e fotografadas ou filmadas em, pelo menos, as seguintes ocasiões:

  • Em 1988, um globo de luz rosada parecia se mover no céu, acompanhando o rio Lawrence em Quebec, no Canadá, 11 dias antes de um terremoto;
  • Em 2008, em Sichuan, na China, luzes coloridas pairaram pelo céu antes dos tremores;
  • Em 2009, na cidade de L'Aquila, na Itália, com chamas luminosas de cerca de 10 cm de extensão;
  • Em 2021, luzes azuis piscam no céu antes do terremoto que atingiu a Cidade do México e Acapulco;
  • Em 2022, clarões nos momentos antecedentes ao sismo que atingiu o leste do Japão, em Fukushima.

Segundo a comunidade geofísica, a resposta para o fenômeno ainda é desanimadora à ciência — simplesmente não sabemos o que essas luzes são. Uma das respostas mais promissoras surgiu em 2014, em um estudo liderado por Robert Thériault. O cientista e sua equipe catalogaram 65 relatos e dados sobre o fenômeno desde o século XVII, chegando à teoria de que o evento poderia ser uma forma elaborada de eletricidade estática.

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Fricção das rochas e ionização

O cálculo da equipe científica notou que, embora cerca de 95% da atividade sísmica aconteça na borda que dividem duas ou mais placas tectônicas, 85% das luzes relatadas acontecem antes de tremores nas placas onde há fendas continentais. Esses terremotos representam apenas 5% do total, e a maior parte dos 15% surgiu quando há duas placas passando uma ao lado da outra, ao invés de uma sendo empurrada para baixo da outra.

Isso levou à criação de um modelo mostrando que o processo começa no interior da crosta, onde as rochas ficam expostas a níveis maiores de estresse. Em algumas delas, esse estresse pode liberar átomos de oxigênio de carga negativa — com isso, os íons são liberados e podem fluir através de rachaduras na rocha, em direção à superfície.

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Quando muitos deles se encontram, acabam ionizando bolsões de ar, formando um plasma que emite luz. Como os íons dependem mais do estresse gerado nas rochas para formar a luz, o modelo pode explicar o porquê de as luzes ocorrerem antes dos terremotos. Isso poderia, com sorte, ajudar a indicar quando tremores de terra são iminentes.

Controvérsias

O problema é que alguns cientistas discordam, dizendo que a fricção das rochas não é uma situação onde a ciência tenha notado grande separação de cargas, o que invalidaria a teoria. Além disso, reportes individuais de relâmpagos próximos ao horário e epicentro de atividades sísmicas não são considerados válidos como evidência de luzes de terremoto por todos os geofísicos.

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Explicações mais simples existem, como as que dizem que os tremores iniciais fazem balançar a rede elétrica, criando arcos de eletricidade que geram as luzes vistas. Por enquanto, no entanto, teremos de viver com mais um mistério científico sem explicação — muito mais filmagens, relatos e estudos terão de acontecer, ou os geofísicos terão de concordar todos entre si.

Fonte: Japanese Journal of Applied Physics, Seismological Research Letters, National Geographic, The Smithsonian Magazine