O que explica as luzes que aparecem no céu durante os terremotos?
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |
Terremotos são tremores que, dependendo da intensidade com que ocorrem, têm poder para destruir construções e estruturas de cidades. Entretanto, há outro efeito associado aos abalos sísmicos: testemunhas relatam ter observado luzes de diferentes cores e formas antes, durante e depois dos tremores de terra. Esse fenômeno, chamado “luzes de terremotos” (ou “EQL”, na sigla em inglês), já foi observado antes, mas os cientistas ainda não sabem exatamente o que causa essa luminosidade relatada durante os terremotos.
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Essas luzes, em específico, estão relacionadas aos terremotos, que são tremores que ocorrem como resultado de fenômenos diversos, como o movimento das placas tectônicas, por exemplo. Além disso, os abalos sísmicos podem acontecer também quando ocorre uma falha geológica no interior da Terra, seja de intensidade forte o suficiente para que suas vibrações cheguem à superfície. Dependendo da força, os terremotos são capazes de destruir cidades e provocar desastres de grande magnitude — como o tremor que ocorreu no Japão em 2011, que causou também um tsunami e um acidente nuclear.
As EQL costumam aparecer antes ou durante os tremores, mas, embora seja mais raro, também podem acontecer depois, e costumam ser mais frequentes naqueles de maior intensidade. Segundo relatos de testemunhas oculares, essas luzes brilhantes no céu são observadas há séculos — houve quem descreveu ter visto "aparições luminosas" e "um brilho extraordinário" que ficou visível por algumas horas um pouco após um terremoto ocorrido em 1888, na Nova Zelândia; já em 1930, um brilho assim ocorreu em um terremoto na península de Idu, no Japão, a mais de 100 km do epicentro do tremor.
Além disso, elas podem ter formas que variam de esferas de luz a chamas coloridas. Por exemplo, um pouco antes do terremoto ocorrido em 2009 na cidade de L'Aquila, na Itália, pedestres notaram chamas luminosas de cerca de 10 cm de extensão, que brilhavam sobre a avenida do centro histórico da cidade. Já em 1988, um globo de luz rosada pareceu se mover no céu, acompanhando a direção do rio Lawrence em Quebec, no Canadá, 11 dias antes de um terremoto intenso atingir a região.
Por muito tempo, os cientistas não consideraram esses relatos. Foi somente com uma série de fotografias de luzes registradas durante um terremoto ocorrido em 1965, na cidade japonesa de Nagano, que o fenômeno foi reconhecido como válido e, desde então, vem sendo registrado com muito mais frequência. Contudo, as luzes são relativamente raras de acontecer, e costumam ser filmadas ou fotografadas em condições variadas de luminosidade. Como resultado, os registros dão margem para explicações que vão desde visitantes extraterrestres a outros tipos de fenômenos.
Por que surgem luzes no céu durante terremotos?
Com tanta diversidade nas descrições de quem as observou, a U.S. Geological Survey, instituição voltada a estudos em biologia, geografia, geologia e outras áreas nos Estados Unidos, afirma não haver consenso entre os geofísicos sobre até onde os relatos individuais de luzes próximas do momento e local de epicentros podem, de fato, representar EQLs. “Alguns duvidam que os relatos sejam evidências sólidas de EQLs, enquanto outros consideram haver pelo menos alguns relatos plausíveis”, descreve a instituição.
Ainda não há uma explicação exata para as luzes observadas durante os terremotos, mas os cientistas seguem trabalhando em hipóteses. Um estudo publicado em 1998 na revista Japanese Journal of Applied Physics sugere que o movimento tectônico de rochas, que tenham quartzo em sua composição, gera um efeito piezoelétrico, que ocorre com alguns cristais capazes de gerarem corrente elétrica como resposta a uma pressão mecânica. Já em outro, publicado em 2014, os autores criaram um modelo que imita o movimento dos terremotos em grãos de materiais que vão à farinha de cozinha a pedacinhos de vidro.
Como resultado, eles descobriram que os grãos podem produzir faíscas quando são agitados. Para os autores, elas se devem à fricção entre os grãos — o que contradiz a teoria piezoelétrica. O problema é que ambos os cenários são bastante difíceis de serem testados em experimentos, porque, além de os terremotos serem imprevisíveis, as condições deles são de difícil replicação. Então, para descobrir o que pode explicar essas luzes, uma equipe de cientistas liderada por Robert Thériault usou uma estratégia diferente.
Eles analisaram as circunstâncias geológicas de 65 terremotos ocorridos a partir do ano de 1600 para descobrir o que havia em comum entre eles. Embora cerca de 95% da atividade sísmica aconteça na borda que dividem duas ou mais placas tectônicas, eles descobriram que 85%, ou seja, a maior parte das luzes relatadas acontecem relacionadas com tremores nas placas onde há fendas continentais. Esses terremotos representam apenas 5% do total, e a maior parte dos 15% restantes foram causados por duas placas passando uma ao lado da outra, ao invés de uma sendo empurrada para baixo da outra.
Ao longo de dois anos, a equipe desenvolveu um modelo que mostra que o processo começa no interior da crosta, onde as rochas ficam expostas a níveis maiores de estresse. Contudo, em algumas rochas, esse estresse pode liberar átomos de oxigênio de carga negativa. Quando isso acontece, os íons são liberados e podem fluir através de rachaduras na rocha em direção à superfície. E quando muitos deles se encontram, acabam ionizando bolsões de ar e formam um plasma que emite luz — como dependem mais do estresse gerado nas rochas para formar a luz, o modelo pode explicar o porquê de as luzes ocorrerem antes dos terremotos e, quem sabe, talvez ajude também a indicar quando um tremor está por vir.
Fonte: Smithsonian Magazine, National Geographic, Forbes, Washington Post