"Fóssil vivo" tem sangue azul e sobreviveu a 5 extinções em massa
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

À primeira vista parecendo um reles caranguejo marinho, esta espécie é muito importante para a ciência e a medicina — e mostrou incrível resiliência ao sobreviver por centenas de milhões de anos, passando por cinco extinções em massa. São os caranguejos-ferradura, famosos pelo sangue azul e por serem osso duro de roer.
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E é esse sangue azul-cobalto que destaca a espécie (Limulidae spp.) e que a faz tão importante para os seres humanos. A coloração vem da presença de hemocianina, uma proteína baseada em cobre que possui uma função parecida com a da hemoglobina nos mamíferos: ela transporta oxigênio com muita eficiência pelo corpo dos caranguejos-ferradura, permitindo que prosperem na água.
Sangue azul, medicina e ameaças
O sangue dos caranguejos-ferradura não para apenas na hemocianina — suas propriedades antibacterianas são excepcionais, e a comunidade médica presta bastante atenção nisso. Atualmente, o sangue da espécie já é uma ferramenta indispensável na garantia da segurança de produtos médicos.
Estamos falando do Lisado de amebócitos de Limulus (LAL), um teste derivado do sangue dos caranguejos usado na detecção de endotoxinas bacterianas em vacinas e equipamentos médicos. Curiosamente, uma criatura para lá de antiga, a ponto de ser chamada de “fóssil vivo”, gerou um protocolo que é pilar da segurança médica moderna.
A antiguidade da espécie não é a única coisa impressionante — com 450 milhões de anos, os caranguejos-ferradura sobreviveram a cinco extinções em massa, eventos que eliminaram a grande maioria das espécies vivas na Terra. Isso inclui as seguintes destruições:
- Extinção do Final do Ordoviciano (455 milhões de anos atrás);
- Extinção do Final do Devoniano (375 - 360 milhões de anos atrás);
- Extinção do Permiano-Triássico (252 milhões de anos atrás);
- Extinção do Triássico-Jurássico (201 milhões de anos atrás);
- Extinção do Cretáceo-Paleógeno (66 milhões de anos atrás).
A mais impressionante, talvez, seja a extinção do Permiano-Triássico, também chamada de “Grande Morte”, já que matou cerca de 96% de todas as espécies marinhas da época. A biologia robusta dessas criaturas garantiu sua adaptabilidade e sobrevivência a eventos tão extremos, com mudanças ambientais brutais. Mesmo assim, sua existência pode estar sendo ameaçada.
A questão é que o sangue azul dos caranguejos-ferradura é uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo: como é importantíssimo para a medicina, a demanda por seu sangue é alta, o que tem levado a uma queda em suas populações.
Milhões de espécimes têm seu sangue colhido todos os anos, e, mesmo que a maioria seja devolvida ao oceano, seu estado está enfraquecido e sujeito a morrer com maior facilidade.
Junto à sobrepesca e destruição de habitats, os caranguejos-ferraduras enfrentam um risco alarmante — em regiões como a Baía de Delaware, nos Estados Unidos, as populações caíram em até 75% desde os anos 1980.
Há quem trabalhe em soluções, como substitutos artificiais ao sangue, proteção dos habitats onde a espécie põe ovos, desenvolvimento de regulamentos mais restritivos à coleta do animal e educação pública sobre a espécie.
É importante encontrar um equilíbrio entre o progresso humano e o mundo natural, afinal, um animal não é só valioso pelo que pode oferecer a nós, Homo sapiens, mas também pelo seu próprio papel na natureza e no mundo.
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