Desmatamento tem reduzido diversidade de peixes em riachos da Amazônia
Por Wyllian Torres • Editado por Patricia Gnipper | •
O intenso desmatamento na Amazônia tem afetado diretamente espécies de peixes sensíveis às mudanças no ambiente, segundo estudo liderado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). À medida que as pastagens e lavouras dominam a paisagem, a biodiversidade diminui e produz graves prejuízos ecológicos.
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Ao logo de décadas, pesquisadores observaram que o longo histórico de desmatamento em São Paulo estava provocando a diminuição de algumas espécies de peixes em riachos. O novo estudo descobriu o mesmo processo em cursos de água da Amazônia.
Conforme o desmatamento avança, as espécies mais sensíveis são gradualmente substituídas por aquelas mais resistentes às mudanças. Isso não apenas diminui a biodiversidade, como também as funções ecológicas desempenhadas, até então, por essas espécies em desaparecimento.
Segundo Gabriel Brejão, principal autor do estudo, ao estudar peixes em riachos, ele e sua equipe descobriram que parte das espécies aguentam apenas 10% de mudanças em seu habitat antes de começarem a sumir 10 anos após o início do desmatamento.
Analisando dados de riachos
O estudo se baseou em dados coletados em 75 riachos com diferentes níveis de preservação na bacia do rio Machado em Rondônia. Imagens de satélites, registradas entre 1984 e 2011, forneceram as informações de desmatamento dessas áreas.
Então a equipe separou as áreas em bacias jamais tocadas, bacias que sofreram com o desmatamento há muito tempo e as degradadas recentemente. A análise revelou que onde o desmatamento é recente, a taxa de substituição de espécies mais sensíveis por aquelas mais resistentes era mais alta do que as outras.
Além de sensíveis ao desmatamento, os riachos cumprem um importante papel no ecossistema, pois são locais de reprodução e berçário de espécies que podem migrar para os rios. São eles que também conduzem os nutrientes das florestas para os rios.
Outra consequência do desmatamento é o assoreamento, quando o depósito de resíduos do solo diminui a profundidade do riacho. Ainda, a diminuição da cobertura vegetal aumenta a radiação solar e favorece espécies de plantas aquáticas que elevam a temperatura da água.
A professora Lilian Casatti, da UNESP, explicou que “ao perder espécies de cascudos que raspam troncos que caem na água, por exemplo, pode-se perder processamento de matéria orgânica”. Com a diminuição de peixes insetívoros, pode aumentar o número de insetos transmissores de doenças.
Os resultados também indicaram que as áreas de desmatamento recente possuem conjuntos de espécies com tamanho suficiente para reverter a situação. “O que não quer dizer que, necessariamente, vá se repetir em Rondônia o que aconteceu em São Paulo”, acrescentou Casatti.
Os pesquisadores disseram que isso pode ser um sinal de que em processos iniciais de desmatamento exista algum tipo de “tampão” que bloqueia essa perda de funções ecológicas. “Não sabemos até quando”, acrescentaram.
A pesquisa foi apresentada na revista Neotropical Ichthyology.
Fonte: Neotropical Ichthyology, Via Agência Fapesp