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Em plena pandemia, indústria dos audiobooks passa por ascensão

Por| Editado por Luciana Zaramela | 20 de Maio de 2021 às 18h20

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Jukka Aalho/Unsplash
Jukka Aalho/Unsplash

Lado a lado com a tecnologia, a indústria literária tem passado por inovações. Aqui no Canaltech, já levantamos olhares para os e-books e eReaders, e de seus impactos na indústria frente à pandemia. Dessa vez, no entanto, é para os audiobooks que nossa atenção se volta, afinal, nos últimos tempos, tem ocorrido uma verdadeira ascensão dessas formas ainda mais diferenciadas de desfrutar uma história.

De acordo com Ricardo Camps, sócio-fundador do app Tocalivros, tem acontecido um crescimento na indústria. "No último ano crescemos mais de 400%, e temos crescido cada vez mais. O audiolivro chegou, está aqui e vai ficar, e é uma nova tendência, cada vez mais, as pessoas acompanharem isso", aponta. Ele conta que a indústria começou em 2013, num contexto em que não se falava muito sobre audiobooks, considerando que os conteúdos eram feitos em CDs. "Depois foi para o digital, para o aplicativo, teve todo um processo de evolução, mas a gente vê que o crescimento é contínuo", observa.

Enquanto isso, Guilherme Mendes, CEO do aplicativo 12minutos, que condensa os pontos mais importantes de livros de não-ficção em leituras rápidas de áudio e texto, também enxerga a ascensão. "O mercado de audiobooks está numa crescente interessante no mundo e principalmente no Brasil. Mercados como os norte-americanos e europeus já estão mais consolidados com relação a isso. Por lá, as pessoas já têm o hábito de aprender através do áudio", pontua.

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"Apple e Google estão investindo cada vez mais e grandes corporações de mídia do Brasil estão trazendo esse foco no podcast, percebendo que isso está se tornando uma tendência e investindo pesado, que tem um paralelo com os audiobooks, de aprendizado através dos áudios. Então esses mercados estão numa crescente", aponta Mendes.

Audiobooks x e-books

Falar que os audiobooks são o futuro dos e-books é muita presunção. Pelo menos, essa é a visão de Camps. "Eles se complementam. O audiobook e o e-book são formatos digitais, mas são experiências diferentes. A narração de um livro, a contação de uma história, é muito diferente de uma leitura. Tem um processo de aprender a ouvir que você treina. Cada um tem momentos para se escutar ou ler diferentes. O tempo de leitura é diferente do tempo de audição de um audiobook", explica.

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Camps aponta que o diferencial dos audiobooks está na facilidade em simplesmente apertar play e escutar. "Isso facilita muito o dia a dia, porque é uma contação de histórias, você tem o narrador, tem toda a ambientação. Tem livros que contam com efeitos sonoros, tem livros que são só a voz. Tem realmente a parte emocional, o som, a voz, traz uma vibração, traz um outro estado, isso afeta a emoção, então toda a vivência de um audiolivro é muito diferente de um e-book ou de um livro físico. Além de ter os benefícios de poder se deslocar, fazer alguma atividade enquanto ouve, como cozinhar por exemplo", disserta o CEO.

Mendes também alega que não se pode dizer que o audiobook é o futuro do e-book, que vai substituir o e-book 100% ou o livro físico. "Quem gosta de ler e tem o hábito da leitura vai aproveitar o audiobook para aprender em momentos ociosos, com tarefas de casa, na hora das atividades físicas. Então o audiobook tem esse uso cada vez mais consolidado", diz o especialista.

Em seu ponto de vista, o mercado de audiobooks tem um grande caminho pela frente. "Quem gosta de ler e tem esse hábito da leitura, gosta de sentar e ler, físicos ou e-books, então acredito que esse hábito não se perde. E quem não tem o hábito começa a desenvolver também através dos audiobooks", reflete Mendes. "O principal diferencial dos audiobooks é a experiência de mãos livres. Com o audiobook, a pessoa pode estar no carro, fazendo uma atividade física, por exemplo, e vai poder ouvir, aprender e se autodesenvolver. Já com livros, sejam físicos ou online, é preciso parar e dar uma atenção total", acrescenta.

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Desafios

Questionado sobre os desafios por trás dessa área, Ricardo Camps menciona o trabalho e a demora em produzir cada um dos títulos. "Essa área de audiobook é um desafio pela quantidade de título, porque demora para produzir. Tem todo um tempo de produção para poder entrar no mercado global. Tem sim um desafio de produção, um desafio do público conhecer, mas cada dia que passa temos mais títulos disponíveis, um acervo que tem crescido cada vez mais. O público geral está começando a conhecer o que é o audiobook e realmente ter essa experiência de baixar o aplicativo", explica.

Segundo Mendes, o grande desafio para o mercado de audiobooks é o tempo de imediatismo das pessoas que buscam se desenvolver de forma cada vez mais rápida. "Falando do Brasil, esse hábito de aprender por conta própria tem muito o que se desenvolver, culturalmente falando, porque ainda não é muito consolidado por aqui", observa o profissional.

O CEO da 12minutos menciona que existe no mundo inteiro a questão do imediatismo, de consumir e aprender num curto prazo, consumir o máximo possível num curto espaço de tempo. "O livro ainda é super importante para consolidar o aprendizado, para ajudar no desenvolvimento. O grande desafio a ser enfrentado é com a ansiedade das pessoas pelo imediatismo de evoluir e ver resultados rápidos", opina.

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Em 2020, um projeto de reforma do governo federal passou a prever cobrança de contribuição para o setor de livros. A alíquota desse novo tributo seria de 12%, segundo o Ministério da Economia. Questionado se isso também impacta o mercado de audiobooks, Camps dispara: "Tanto o audiobook quanto o e-book, tudo é livro".

Mas com isso em mente, como a indústria vislumbra o mercado com impostos sobre livros e audiobooks? Para Camps, trata-se de uma discussão complexa. "Num país onde a leitura é importante e faz parte de um processo de desenvolvimento pessoal, evitar esse tipo de taxação seria a melhor coisa, porque teve uma alta inflação com relação ao papel e toda a indústria, e índice geral de preço. Isso achatou a margem de toda a indústria editorial", explica o profissional.

"Se colocarmos uma taxação como está sendo proposto, o livro vai se tornar mais inacessível. Grandes partes dos leitores são classe C, D e E. Precisa tomar muito cuidado com o número que a receita está trazendo de que só rico compra livro. O mercado editorial é muito pequeno para ter uma taxa dessa", Camps opina.

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É um ponto de vista com o qual Mendes concorda: "Esperamos que não evolua e que seja barrada em algum momento, pois vai ao contrário do objetivo de fomentar a educação. Elitiza ainda mais o que já é elitizado e deveria estar sendo promovido o acesso e o incentivo de produção, e não taxação", diz.

Tecnologia e pandemia

É possível afirmar que a tecnologia foi essencial para o mercado de audiobook, uma vez que os aplicativos ganharam muita força nos últimos anos. "Os smartphones foram difundidos na sociedade. O audiobook, por ser um conteúdo digital, entra nessa onda. Antes disso, tínhamos um mercado pequeno de CDs, de 2004 a 2012. Não havia todas as facilidades de distribuição que o digital tem. A tecnologia facilitou muito o acesso, até para tornar economicamente viável esse mercado no Brasil", conta Camps.

Mendes complementa dizendo que a tecnologia viabiliza os audiobooks, e o fato de ter um smartphone possibilita que esse mercado seja fomentado e cresça. "É uma relação bastante próxima, pois primeiro tivemos os livros digitais, o Kindle, uma evolução também proporcionada pela tecnologia — o que não acabou com o livro físico, mas é algo crescente e até muitas vezes prático", pondera.

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Por depender tanto da tecnologia, a indústria de audiobooks não passou por um impacto negativo por conta da pandemia, mas Camps conta que a sua equipe, que normalmente gravava em estúdio, precisou se adaptar ao remoto, assim como aconteceu com várias áreas. "A pandemia trouxe um apelo para o digital muito forte, então vimos que as pessoas se conectaram mais. Teve um impacto legal para o mercado", revela o CEO.

"Tivemos uma crescente bastante interessante na pandemia. Nos preparamos bastante para um contexto de crise, de queda brusca, mas na prática tivemos um outro cenário, das pessoas buscando cada vez mais esse tipo de conteúdo, das pessoas querendo se desenvolver, entreter, buscando novas alternativas por conta de um maior tempo em casa. Ou seja, nós percebemos um aumento no interesse das pessoas", reitera Mendes.

Futuro

Mas tendo isso tudo em mente, como fica o futuro dos audiobooks? Camps estima que nos próximos anos haverá uma produção de acervo muito grande. "Ainda há muito o que aprender e construir para o mercado de audiobooks. A gente entende que o crescimento vai continuar grande. A gente entende que tem muita novidade e inovação vindo, mais benefícios e funcionalidades. A tecnologia nunca para, está sempre em andamento", observa.

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Por fim, Mendes crê que o formato áudio é uma grande tendência que vem pra ficar. "O vídeo é interessante também, já temos experiências no mercado, mas o vídeo volta para aquela questão do livro que, apesar de ser algo muitas vezes mais palatável para muita gente, vem com aquela mesma questão de que você precisa dos seus olhos atentos naquilo ali, e o áudio permite essa experiência sem as mãos, onde você pode fazer outras coisas ao mesmo tempo. O áudio acredito ser uma grande tendência que vem para ficar e para se consolidar cada vez mais", conclui.

Fonte: Com informações de G1